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Negociações de paz provocam ceticismo do Oriente Médio

Comentaristas árabes e israelenses não gostaram do espetáculo das negociações com os EUA e se mostraram pessimistas

Palestinos acompanham conversações de paz em loja de Gaza (Mohammed Abed/AFP)
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Da Redação

Publicado em 3 de setembro de 2010 às 17h59.

Jerusalém - Observadores no Oriente Médio expressaram profundo pessimismo trespassado por lampejos de esperança, nesta sexta-feira, após o lançamento de uma nova rodada de conversações israelenses-palestinas numa busca de há 17 anos pela paz.

Comentaristas árabes e israelenses descreveram a fanfarra que cercou o relançamento das conversações de paz em Washington como um teatro político, enquanto se mostraram céticos sobre a habilidade de apresentar líderes para alcançar um ineditismo histórico.

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No entanto, o veterano colunista israelense Nahum Barnea expressou um otimismo cauteloso, ao destacar o forte envolvimento dos Estados Unidos e o aparente "comprometimento pessoal" do premier israelense, Benjamin Netanyahu, para chegar a um acordo.

"A diferença dramática está na extensão do envolvimento americano", escreveu em coluna publicada no Yediot Aharonot, o de maior vendagem em Israel. "Talvez não seja um show. Não só um show. Não desta vez".

O Jerusalem Post, de direita, mostrou-se mais cético, destacando os dois ataques do movimento islamita Hamas antes do encontro, que mataram quatro israelenses e deixaram dois outros feridos na Cisjordânia ocupada.

O periódico expressou dúvidas de que o presidente palestinos, Mahmud Abbas, vá seguir os passos do falecido presidente egípcio, Anwar Sadat, que assinou um acordo de paz com Israel em 1979.

"Meu coração deseja, fervorosamente, que todas as previsões pessimistas demonstrem estar erradas", disse o editor David Horowitz.


"Mas a cabeça deduz que a esperança admirável de Netanyahu de encontrar em Abbas um novo Sadat provará estar errada e o temor da volta dos ataques terroristas desta semana foram apenas a primeira consequência assassina", acrescentou.

Os palestinos também demonstraram pouco otimismo, ao ressaltar que Abbas fracassou em seus esforços de assegurar o congelamento das colônias israelenses.

"Israel vê que há uma 'oportunidade' - 10 anos depois de Camp David - de impor uma solução aos palestinos que eles já repudiaram", escreveu Mohammed Yaghi no jornal Al-Ayyam.

Ele acrescentou que o objetivo real de Israel é "retirar a questão palestina da agenda internacional e regional".

O jornal Al-Quds pediu unidade aos palestinos e criticou os ataques do Hamas, os quais, ressaltou, "teriam um impacto negativo nas conversações".

"O que é necessário é que todas as facções palestinas deem uma oportunidade total a estas negociações, pelas quais os palestinos não perdem nada, porque mesmo se não alcançarem um resultado aceitável, revelarão que o lado israelense é aquele que não quer a paz", acrescentou.

A desilusão manifestou-se mais profundamente nos divididos assentamentos palestinos. O movimento islamita Hamas, que governa Gaza, se opõe a qualquer negociação e reivindicou os ataques mortais desta semana.

"A cúpula de Washington, os belos discursos e negociações não oferecem nada além do que já vimos", disse um membro desiludido da delegação palestina.


"Jerusalém não será libertada por negociações, mas pela 'jihad' (guerra santa) e pela resistência", disse nesta sexta-feira Ismail al-Ashqar, alto oficial do Hamas.

A imprensa do mundo árabe criticou duramente as negociações, às quais os ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe deram seu apoio, de forma relutante, em julho.

"O otimismo fica fora de questão quando se consideram as políticas de Benjamin Netanyahu... E teimosia dos políticos linha-dura de seu governo", sentenciou o jornal Al-Bayan, dos Emirados Árabes Unidos.

Para o saudita Al-Watan, a cerimônia de quinta-feira visava primariamente conseguir apoio doméstico para o Partido Democrata, de Obama, com vistas às eleições legislativas de novembro, afirmando que o engajamento americano diminuirá futuramente.

Para ter sucesso, as negociações precisariam de "um governo israelense moderado com um desejo genuíno de paz, uma liderança forte e unificada... E uma administração americana disposta a pressionar Israel", afirmou.

"Teremos que esperar muito por isso", emendou.

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