Nação insular cria "um Reino Unido" em área de proteção marinha
Em investida inédita, Ilhas Seychelles convertem parte de sua dívida soberana em “dívida de conservação ambiental”
Vanessa Barbosa
Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 16h38.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2018 às 16h55.
São Paulo - Pequeno país insular, as Ilhas Seychelles estão fazendo história. O famoso destino turístico africano, localizado ao norte de Madagascar no Oceano Índico, anunciou nesta semana a criação de duas novas áreas de proteção marinha.
Elas somam 210 mil quilômetros quadrados (praticamente um Reino Unido) de águas oceânicas repletas de biodiversidade , e são resultado de uma engenharia financeira inovadora no mundo—o país trocou parte de sua dívida soberana por uma "dívida para conservação".
O acordo foi conseguido graças ao trabalho da The Nature Conservancy (TNC), uma das maiores organizações voltadas para a conservação ambiental no mundo, que comprou US$ 22 milhões de dívida soberana do país junto ao Reino Unido, França, Bélgica e Itália.
A TNC contou com ajuda de investidores privados, como o China Global Conservation Fund (CGCF), Jeremy and Hannelore Grantham Environmental Trust e a fundação ambiental presidida pelo ator e ativista Leonardo DiCaprio.
No coração do modelo de conversão de dívidas de Seychelles está a ideia do capital de impacto, segundo o qual investidores podem apoiar projetos que ofereçam resultados de conservação, além de fornecer retornos financeiros.
O acordo, que abrange cerca de 15% da zona econômica exclusiva das Seychelles, permitirá que parte dos pagamentos financiem projetos destinados a proteger seu meio marinho e fortalecer os ecossistemas costeiros, aumentando a resiliência da nação insular e de sua rica biodiversidade aos efeitos das mudanças climáticas .
Nas novas áreas de proteção, algumas atividades deverão ser limitadas, como a exploração de combustível fóssil e a pesca intensiva de atum (que muitas vezes vitimiza golfinhos, tubarões e tartarugas como um subproduto) de forma a reduzir as ameaças aos habitats mais frágeis e garantir o desenvolvimento econômico sustentável da região.
A proposta encontrou um pouco de resistência por parte de alguns grupos que dependem economicamente da pesca, o que deverá ser observado durante o desenho de implementação do plano, que deverá ser concluído em 2021.
Sabe-se, no entanto, que a nova área de proteção abarcaráo atol do Aldabra, Patrimônio Mundial da UNESCO, e lar da maior população mundial de tartarugas gigantes, bem como dos golfinhos vaquitas, espécies criticamente ameaçadas de extinção.
Por ora, a expectativa é de que a investida inovadora possa inspirar outras nações a converter suas dívidas soberanas em dívidas ambientais, na esperança de preservar suas maravilhas naturais e um planeta mais saudável.