Na Turquia, a garantida reeleição de Erdogan virou risco
Erdogan, que dirige a Turquia desde 2003, terá dessa vez o seu favoritismo abalado ao encontrar uma oposição mais unida
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2018 às 06h08.
Última atualização em 22 de junho de 2018 às 07h39.
No domingo, a população da Turquia vai decidir quem será seu novo presidente, ou quem será seu velho presidente. Recep Tayyip Erdogan tentará a reeleição com poderes reforçados, para alongar ainda mais seu domínio.
Erdogan dirige a Turquia desde 2003, primeiro como primeiro-ministro e depois como presidente. Com políticas de desenvolvimento voltadas para o crescimento econômico, o presidente turco reforçou o discurso religioso muçulmano no país laico e se impôs como protagonista no cenário geopolítico internacional, aumentando sua influência principalmente no Oriente Médio. O custo disso não foi pequeno: os gastos com defesa militar aumentaram cerca de 50% em 2017, em comparação com o ano anterior, alcançando 11,5 bilhões de dólares.
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Em abril, Erdogan anunciou que anteciparia as eleições para junho deste ano – a data oficial era novembro de 2019 –, sob a alegação de uma necessária revisão do sistema de presidência Executiva no país. Na época, Erdogan afirmou que o governo turco deve abordar a eleição antecipada “de forma positiva”, e que os acontecimentos na região – como a guerra civil na Síria – tornaram “obrigatório” remover a questão da eleição da agenda do país. No ano passado, o presidente venceu um referendo para mudar a Constituição do país e criar uma Presidência executiva com mais poderes.
O problema maior de Erdogan, porém, será enfrentar uma oposição mais unida. Uma inesperada união dos partidos de oposição e um concorrente, Muharrem Ince (CHP, social-democrata), colocam o favoritismo de Erdogan em risco (pesquisas mostram 40% das intenções de voto para Erdogan). Analistas afirmam que, mesmo que ele vença a presidência, a vitória não ocorrerá no primeiro turno e que sua formação, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), poderá perder sua maioria no Parlamento. Partidos de oposição, incluindo o CHP e uma nova formação da direita nacionalista, o Bom Partido, já se aliaram para as legislativas.
O novo presidente do país terá como primeiro desafio a crise econômica que toma o país. Desde o início do ano, a lira turca desvalorizou 20%, com uma inflação de quase 11%, incluindo aumento no mês de 1,87%, segundo o Instituto Turco de Estatísticas. Na prática, Erdogan antecipou o pleito para evitar que uma derrocada econômica o atrapalhe no ano que vem. Inflação em alta e descontrole econômico são uma combinação tão perigosa que pode custar até o cargo do poderosíssimo Erdogan.