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Mundo vive radicalização religiosa devido frustrações árabes

A desilusão com a Primavera Árabe, a frustração pela questão palestina e uma crise de valores no Ocidente fomentaram a radicalização religiosa


	Britânico David Haines momentos antes de sua execução por um militante do Estado Islâmico
 (SITE Intelligence Group/AFP)

Britânico David Haines momentos antes de sua execução por um militante do Estado Islâmico (SITE Intelligence Group/AFP)

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Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2014 às 15h28.

Beirute - A desilusão com a Primavera Árabe, o fracasso do nacionalismo árabe laico, a frustração pela questão palestina e uma crise de valores no Ocidente fomentaram a radicalização religiosa e sua influência na geopolítica mundial.

Depois de décadas de ditaduras, o Oriente Médio, berço das três religiões monoteístas, voltou a viver transtornos assombrosos em 2014, mas os resultados da Primavera Árabe continuam sendo escassos.

Somando-se às enormes desilusões nascidas do estancamento da questão palestina, do desenvolvimento econômico anêmico e da corrupção endêmica, as esperanças frustradas do nacionalismo árabe favoreceram na região uma incrível ascensão de um projeto islamita que afirma ser capaz de oferecer um novo caminho.

A verdadeira mudança começou com a invasão americana do Iraque em 2003.

"Isso exacerbou a linha divisória confessional (entre xiitas e sunitas), colocou o Irã como um ator importante no mundo árabe e suscitou um forte sentimento de vulnerabilidade entre os sunitas no Levante", opina Raphael Lefevre, pesquisador do Carnegie Middle East Center.

"O auge do Estado Islâmico, da Frente Al-Nosra e de outros grupos extremistas sunitas só pode ser entendido à luz dessa vulnerabilidade", afirma o estudioso, citando o peso militar do grupo xiita Hezbollah no Líbano e na Síria, a repressão de uma revolta amplamente sunita na Síria por parte de um regime dominado pelos alauítas e a conduta discriminatória no Iraque do poder xiita.

A ascensão fulgurante do islamismo foi favorecida pelo fracasso do nacionalismo árabe, que queria transcender as religiões, mas encarnou em regimes laicos autoritários. O fracasso das guerras contra Israel, assim como uma situação econômica desastrosa não puderam com esta ideologia.

"Depois, os acordos de paz de Oslo, em 1993 (assinados entre a Organização para a Libertação da Palestina/OLP e Israel) causaram comoção porque já não se podia lutar pela causa palestina. Já não havia causa, o que explica esta atração pelo islamismo", analisa Nayla Tabbara, professora de Ciências das Religiões da Universidade São José, de Beirute.

Fuga de cristãos

A radicalização islâmica teve consequências desastrosas na presença milenar dos cristãos do Oriente, principalmente depois que o EI se apoderou da cidade de Mossul, onde viviam desde a Antiguidade.

"Existe um grande medo e uma grande incompreensão dos cristãos no Líbano e nos países vizinhos. Isso os leva a fugir", assegura Tabbara, que também preside uma plataforma de diálogo interreligioso, Adyan, no Líbano.

Segundo especialista francês Fabrice Balanche, pelo menos 700.000 cristãos deixaram Egito, Síria e Iraque desde 2011.

A religião, que sempre foi uma importante força sociocultural no Oriente Médio, ganhou terreno também em Israel e entre os palestinos.

"Existe indubitavelmente uma radicalização e um endurecimento, mas são, de alguma maneira, menos religiosos do que nacionalistas", disse à AFP o historiador israelense Zeev Sternhell.

"A religião está a serviço de um nacionalismo duro e colonizador; hoje tem um caráter fanático desconhecido no passado. Religião e nacionalismo estão lado a lado", explicou.

Quanto à causa palestina, Tabbara assinala que "o Islã político a recuperou insistindo no sentimento de injustiça generalizada não apenas por parte de Israel, como também da comunidade internacional".

Necessidade do sagrado

Mas a grande novidade é a força de atração que representa o Estado Islâmico no Ocidente. Segundo um estudo recente, cerca de 15.000 combatentes estrangeiros se juntaram a esse grupo na Síria, sendo que 20% são ocidentais.

"Esses jovens encontram o que nossas sociedades já não oferecem, o estímulo ligado ao combate por uma causa que os leva a crer que têm um poder ilimitado, um poder divino", explica à AFP o antropólogo e psicólogo Scott Atran, diretor de pesquisas do CNRS da França e professor associado da Universidade de Michigan. "É glorioso e arriscado. A sensação de poder mudar o mundo é muito atraente".

"É preciso dar sentido a nossa vida, precisamos do sagrado. Como isto já não existe no Ocidente, vamos buscar onde é muito aparente. Há também uma busca por comunidade, por pertencimento. Esse sentimento é o que leva os jovens a entrar nesses movimentos", considera Nayla Tabbara.

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