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Mundo não está fazendo o que deve para evitar o pior, alerta ONU

Compromissos feitos sob o Acordo de Paris representam apenas um terço do que é necessário para evitar os piores impactos das mudanças climáticas

Ruínas do incêndio que arrasou região norte da Califórnia em outubro de 2017. (David McNew/Getty Images)

Ruínas do incêndio que arrasou região norte da Califórnia em outubro de 2017. (David McNew/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 31 de outubro de 2017 às 07h39.

São Paulo - Ondas de calor recordes, secas severas, enchentes diluvianas, declínio de glaciares, tempestades e furacões arrasadores. É impossível ignorar que o mundo vive mudanças climáticas cada vez mais rápidas e intensas. Vários marcadores da “saúde” do clima planetário quebraram recordes no ano passado, em um sinal incontestável de que ele está mudando, e para a pior. Mas será que os esforços globais para mudar esse quadro e poupar as gerações presentes e futuras de uma catástrofe ecológica, humana e econômica estão à altura do desafio?

Segundo a Organização das Nações Unidas ONU, a resposta é um frustrante não. Precisamos aumentar urgentemente nossa ambição para garantir que os objetivos do histórico Acordo de Paris ainda possam ser alcançados, diz a entidade em relatório divulgado hoje que analisa a lacuna existente entre os esforços mundiais para reduzir as emissões de gases efeito estufa e o que de fato seria necessário para atingir a meta do acordo climático internacional.

No Acordo de Paris, aprovado em dezembro de 2015, quase 200 países se comprometem a empreender esforços para limitar o aumento da temperatura global a no máximo 2°C até o final do século e, preferencialmente a 1,5°C, a fim de evitar alguns dos piores impactos de um planeta aquecido.

Em sua oitava edição, o relatório Emissions Gap Report, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), conclui que os compromissos nacionais resultam em apenas um terço da redução das emissões exigida até 2030 para atender as metas climáticas. Para piorar, a ação do setor privado e dos governos estaduais e municipais não está aumentando a uma taxa que ajudaria a preencher esta lacuna preocupante, observa a ONU.

Segundo a entidade, até mesmo a plena implementação das atuais contribuições nacionalmente determinadas, também conhecidas como INDC (documento que contém o que cada país pretende fazer para reduzir e remover as emissões de gases efeito estufa) não dá conta do desafio, e mais: torna um aumento da temperatura de pelo menos 3°C em 2100 muito provável.

As atuais promessas de Paris fazem com que as emissões de 2030 provavelmente alcancem  de 11 a 13,5 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e) acima do nível necessário para permanecer no caminho de menor custo para atingir o objetivo de 2ºC. Uma gigatonelada é aproximadamente equivalente a um ano das emissões dos transporte na União Europeia (incluindo a aviação).

Isso significa que a conta não fecha, logo os governos precisam fechar compromissos muito mais fortes em 2020, quando os pontos do acordo serão revisados. Porém, se os Estados Unidos seguirem com a intenção declarada de deixar o Acordo de Paris em 2020, o cenário pode tornar-se ainda mais grave, pondera a ONU.

Recalculando a rota

Apesar do pintar um futuro indesejável, o relatório da ONU também aponta caminhos para recalcular a rota. Investir em tecnologia é um deles, particularmente na agricultura, edificações, energia, silvicultura, indústria e transportes.

A ONU estima que com um investimento de menos de US$ 100 por tonelada de CO2 evitado poderia reduzir as emissões em até 36 GtCO2e por ano até 2030. Grande parte do potencial em todos os setores vem do investimento em algumas áreas específicas: energia solar e eólica, aparelhos mais eficientes no consumo energético, reflorestamento, restauração de terras degradadas e combate ao desmatamento.

Esses cortes nas emissões por si só colocariam o mundo no caminho para atingir a meta de 2ºC e preparariam o terreno para alcançar o meta ambiciosa de 1,5ºC, até o final do século, reduzindo a probabilidade de graves impactos climáticos que possam prejudicar a saúde humana, os meios de subsistência e as economias em todo o mundo.

Muito além das iniciativas governamentais, o combate às mudanças climáticas também convoca à ação o setor privado. As 100 maiores empresas de capital aberto, por exemplo, representam cerca de um quarto das emissões globais de gases do efeito estufa, demonstrando um enorme espaço para aumentar suas contribuições.

Evitar a construção de novas usinas a carvão e fechar as usinas existentes, garantindo a gestão cuidadosa de questões como o emprego, os interesses dos investidores e a estabilidade da rede, ajudaria, destaca o relatório. Atualmente, existem cerca de 6.683 usinas a carvão em funcionamento no mundo, com uma capacidade combinada de 1.964 GW. Pelos cálculos da ONU, se essas usinas operarem até o final de sua vida útil e não adotarem tecnologias de captura e armazenamento de carbono, elas emitirão um total de 190 Gt de CO2.

 

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