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Mohammed, o nome que provocou polêmica sobre racismo judeu

No primeiro dia da comemoração em Israel do Ano Novo judaico, lista com nomes mais populares gerou polêmica ao omitir o mais comum deles, de origem árabe


	Israel: lista excluía os nomes árabes ou claramente muçulmanos
 (Shlomit Wolf/Stock.xchng/Reprodução)

Israel: lista excluía os nomes árabes ou claramente muçulmanos (Shlomit Wolf/Stock.xchng/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2014 às 09h39.

Jerusalém - No primeiro dia da comemoração em Israel do Ano Novo judaico (Rosh Hashana), uma lista com os nomes mais populares no país, publicada pelo Ministério do Interior, gerou polêmica e uma discussão sobre o racismo judeu ao omitir o mais comum deles e de origem árabe: Mohammed

Na segunda-feira, o jornal "Haaretz" divulgou que a Autoridade de População e Migração de Israel tinha publicado uma lista que excluía os nomes árabes ou claramente muçulmanos entre os favoritos dos pais.

O jornal de Tel Aviv descobriu que apesar de Yosef (nome hebraico de José) figurar na lista como o mais popular, na realidade o primeiro da lista era Mohammed.

Além disso, Ahmed, também muçulmano, estaria em nono lugar.

A exclusão desse dado, apesar de não ser a primeira vez que ocorre, recebeu duras críticas de organizações e partidos árabes e de esquerda do parlamento (Knesset). Para eles, mais uma vez uma instituição governamental omite a existência dos árabes, que representam 20% da população,

O jornal "Maariv" disse em um artigo de opinião que Israel é um país racista e que a maioria judaica não se interessa por saber qual é o nome árabe mais popular.

Samah Basoul, jornalista da publicação "Al Haja", editada em Nazaré, e membro do Ilam, instituição que reúne meios de comunicação para árabes palestinos em Israel, afirmou que esta não foi a primeira vez que um caso parecido ocorreu, mas a decisão agora pode ter relação com o crescente medo de grupos radicais islâmicos.

"Parece que existe uma tendência ao medo e suspeita de que apareça na lista Mohammed, um dos nomes mais populares de Israel, mas este fato, independentemente do que ocorre no mundo, não pode ser ocultado", disse à Agência Efe.

O jornalista acredita que o caso é uma prova clara do racismo do governo em relação à comunidade árabe, que nos últimos anos vem sofrendo com leis segregacionistas e, segundo Basoul, "uma tentativa de separar os muçulmanos do resto da população, a política do "divide e vencerás"".

Para Basoul, "existe um vínculo negativo em relação a Mohammed, um nome que não tem apenas conotações religiosas, pois aqui há uma cultura árabe e islâmica que existe e seguirá existindo".

Já o diretor do Centro Mosawa para a Defesa dos Cidadãos Árabes em Israel, Jafar Farah, afirmou que a omissão não o surpreendia.

"Vemos isto como parte da política xenófoba de isolar a comunidade judaica de Israel da região, de seus vizinhos, e vemos que o Estado e suas instituições se referem a Israel como estado judeu e não israelense", argumentou.

Farah ressaltou que isso pode ser observado nas políticas governamentais, nos meios de comunicação e instituições acadêmicas. O ativista pediu para a população judaica reagir contra "a mentalidade política do gueto".

Por sua vez, o deputado Isawi Freij, do partido pacifista Meretz, considerou que a medida "tem motivações racistas".

"A verdade é que temiam a manchete: "Mohammed é o nome mais popular de Israel", ironizou.

A Efe tentou sem sucesso entrar em contato com Autoridade de População e Migração de Israel. O porta-voz do órgão, no entanto, segundo o "Haaretz", respondeu que os dados divulgados nos últimos anos são fruto de "solicitações especiais feitas por qualquer pessoa que nos contata para obter informações, e por esta razão foi publicada a lista com os nomes hebraicos mais populares".

Segundo o organismo, não ocorreu uma "tentativa deliberada de ocultar informação". Apesar disso, a lista contém nomes que são comuns tanto para judeus como árabes e que em hebraico são escritos da mesma forma.

Um editorial do "Haaretz" sobre o caso afirmou que uma "lista igualitária e democrática deveria ser a única publicada por um Estado".

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