Defensores do presidente deposto Mohamed Mursi e a Irmandade Muçulmana durante protesto contra a violência recente no Egito, fora da Nova Mesquita de Eminonu, em Istambul (Murad Sezer/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2013 às 22h07.
istambul - O primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, irritou seus aliados de Washington e também os governos do Egito e de Israel ao acusar nesta terça-feira Israel de ter auxiliado na derrubada do presidente islâmico do Egito.
A Casa Branca qualificou as declarações como "ofensivas".
Erdogan, um dos mais inflamados críticos da derrubada de Mohamed Mursi pelos militares egípcios, em julho, disse a membros do seu partido, o AK, que há provas do envolvimento de Israel na deposição de Mursi.
A retirada de Mursi foi seguida de uma violenta repressão à Irmandade Muçulmana, grupo político do presidente deposto.
A exemplo da Irmandade, o AK também tem raízes islâmicas e se posicionou como um exemplo para políticos conservadores e democráticos em países do Oriente Médio que recentemente deixaram de ser ditaduras.
"O que eles dizem no Egito? Que a democracia não está na urna. O que está por trás disso? Israel. Temos a documentação em mãos", disse Erdogan em declarações exibidas por uma TV estatal.
Um assessor do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, qualificou a acusação de "absurda". O governo provisório do Egito, instalado pelos militares, disse que ninguém "sano ou justo" poderia aceitar a acusação de Erdogan.
Em nota divulgada pela agência estatal Mena, o gabinete provisório disse que "a paciência do Egito está se esgotando", e que "o Egito não partilha das inimizades alheias, e não tem interesse em sair atrás de uma nova identidade -- sua natureza árabe e islâmica é óbvia".
Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse: "Condenamos firmemente as declarações que foram feitas hoje pelo primeiro-ministro Erdogan. Sugerir que Israel é de alguma forma responsável pelos recentes fatos no Egito é ofensivo, não-substanciado e errado".
O apoio de Erdogan ao governo da Irmandade no Egito e o estremecimento das relações outrora calorosas da Turquia com Israel pareciam dar uma crescente influência regional a Ancara.
A derrubada do governo islâmico no Egito pode atrapalhar isso, ao passo que uma defesa inflamada da Irmandade pode afetar as relações da Turquia com o Ocidente.
A Turquia, país de população islâmica, mas Constituição laica, tem o segundo maior contingente militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e há vários anos almeja aderir à União Europeia.
Erdogan não disse qual documentação possui, mas citou supostas declarações de uma ministra israelense antes da eleição parlamentar egípcia de 2011, vencida pela Irmandade.
"Durante uma sessão na França, a ministra da Justiça e um intelectual da França --também judeu-- usaram exatamente esse comentário: ‘Mesmo que a Irmandade Muçulmana vença a eleição, não vai levar, porque a democracia não está na urna'", disse Erdogan.
Ele aparentemente se referia a um seminário que teve participação do filósofo francês Bernard-Henri Lévi e da então líder oposicionista israelense Tzipi Livni, hoje ministra da Justiça.
Uma porta-voz de Livni disse, sobre os comentários de Erdogan, que "qualquer tentativa de tentar vincular Israel e a ministra Livni aos assuntos internos do Egito é infundada".