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Macron alerta para risco de guerra civil no Líbano; veja vídeo

Tensão aumenta com crise humanitária provocada pela explosão em Beirute e economia em colapso; Macron chega no dia 31 ao país

Seguidores do Hezbollah protestam em frente à Embaixada dos EUA em Beirute, no Líbano, em junho deste ano (Marwan Naamani/Getty Images)

Seguidores do Hezbollah protestam em frente à Embaixada dos EUA em Beirute, no Líbano, em junho deste ano (Marwan Naamani/Getty Images)

CA

Carla Aranha

Publicado em 28 de agosto de 2020 às 17h18.

Última atualização em 28 de agosto de 2020 às 17h31.

O presidente Emmanuel Macron disse nesta sexta-feira, dia 28, em uma coletiva de imprensa em Paris, que o Líbano corre o risco de mergulhar em uma guerra civil. Macron chega ao país na próxima segunda-feira, dia 31, para uma segunda visita oficial desde a explosão no Porto de Beirute, no dia 4 de agosto, que deixou 6.000 feridos e quase 200 mortos.

"Se deixarmos o Líbano à própria sorte ou entregue às turbulências das potências regionais, haverá uma guerra civil", disse Macron. O presidente francês também lembrou que o país vive um contexto político em que não há “renovação política” e é “quase impossível fazer reformas”.

Na noite de quinta-feira, 27, integrantes do Hezbollah, grupo xiita com forte influência no governo libanês, e jovens sunitas, de uma outra vertente da religião islâmica, entraram em confronto em Beirute. Houve troca de tiros e duas pessoas morreram. No Líbano, guerras entre facções em grandes cidades costumam ser pouco frequentes, por isso o fato despertou preocupações.

Nos meios diplomáticos, a ideia de uma guerra civil não é tratada como um risco eminente, mas discute-se a contínua piora da situação econômica, política e social do Líbano. A explosão no Porto de Beirute deixou 300.000 famílias desabrigadas e destruiu boa parte da cidade. Ao mesmo tempo, a economia mergulha cada vez mais no caos.

Segundo o presidente francês, o objetivo de sua visita é pressionar a elite política libanesa por reformas capazes de tirar a economia do atoleiro. A França também tem interesses econômicos na região. A empresa francesa Total assinou há três anos um contrato com o governo libanês para a exploração de imensas reservas de gás natural encontradas no litoral do Líbano.

“A Total, uma empresa já conhecida no mercado libanês, tem o prazo de expandir sua presença no país no segmento de exploração e produção de gás. Os acordos que assinamos são parte de uma estratégia na região do Mediterrâneo”, disse Stéphane Michel, vice-presidente sênior para o Oriente Médio e Norte da África do setor de exploração e produção da Total, em 2018.

Agora, à beira de um colapso econômico e em meio a uma séria crise humanitária, os libaneses lutam para continuar de pé. O país solicitou um empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao governo francês para ter fôlego para seguir adiante por mais algum tempo, sem sucesso. A condição imposta pelo FMI e a França foi que o governo libanês realizasse reformas estruturantes, o que não ocorreu. Agora, é difícil prever o que pode acontecer.

A explosão de 2.700 toneladas de nitrato de amônia que estavam armazenadas no Porto de Beirute, sem qualquer tipo de fiscalização, representou a gota d´água para muitos libaneses. Têm sido frequentes os relatos de pessoas que estão emigrando para a Europa, Canadá e os países do Golfo Pérsico.

Buraco econômico

O mercado imobiliário e o comércio sustentavam boa parte da economia, até pouco tempo atrás. Famílias endinheiradas de países da região compraram apartamentos em Beirute para desfrutar da vista para o mar e do clima festivo da cidade. Com a ascensão política de grupos radicais xiitas, houve um afastamento dos sauditas, que seguem a vertente sunita do islamismo, e de pessoas de outros países do Golfo Pérsico — em geral, eles não apoiam o Hezbollah e seus seguidores.

Preocupados com a situação econômica do país, os libaneses que vivem em outros países também diminuíram as remessas em dólar para os bancos libaneses, o que acabou colaborando para uma escassez da moeda americana. Com isso, a paridade artificial entre a lira libanesa e o dólar, mantida por 20 anos, desmoronou. A desvalorização chegou a 80% apenas nos últimos meses.

Ao mesmo tempo, um esquema de pirâmide na economia, em que as instituições financeiras emprestavam dinheiro dos clientes para o banco central libanês, a juros altos, se tornou insustentável. As reservas em moeda americana do Líbano baixaram a 10 bilhões de dólares (no Brasil, esse valor é de 380 bilhões de dólares).

Segundo o governo francês, Macron espera sair do Líbano com boas notícias. Falta saber se haverá vontade política para conduzir as reformas — e pavimentar um novo caminho para o território milenar, à beira do Mediterrâneo, que ajudou a moldar a civilização.

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