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Luxo reaparece timidamente em Cuba com reformas econômicas

Raúl Castro, que sucedeu seu irmão Fidel em 2006, abriu espaço para a iniciativa privada para estimular a economia, mas suas reformas abriram brechas nas receitas e na capacidade de consumo

Raúl Castro: o nascente consumo de luxo não é um tema do qual se fale publicamente, talvez porque seja incômodo para o discurso oficial ou porque os cubanos de maior renda prefiram passar despercebidos. (REUTERS/Enrique De La Osa)
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Da Redação

Publicado em 20 de março de 2013 às 15h53.

Havana - Veículos Audi e Hummer nas ruas, restaurantes que vendem pratos requintados, academias que cobram alto de seus sócios, lua de mel em hotel cinco estrelas: o luxo reaparece timidamente em Cuba , após meio século de igualitarismo e austeridade, através das reformas econômicas promovidas pelo presidente Raúl Castro.

Como reflexo do tímido retorno do consumo de bens e serviços não essenciais na ilha comunista, estimulado pelos novos trabalhadores privados ou autônomos - que já somam 400.000 - agora é possível ver em Havana veículos Audi, Mercedes Benz, BMW e Hummer com placas de cor amarela, sinal de que pertencem a particulares cubanos.

Não são muitos diante da enorme frota de carros americanos dos anos 1950 ou dos Lada russos da década de 1980, mas até então todos os veículos de luxo pertenciam a diplomatas (placas pretas).

Raúl Castro, que sucedeu seu irmão Fidel em 2006, abriu espaço para a iniciativa privada para estimular a economia, mas suas reformas abriram brechas nas receitas e na capacidade de consumo, em um país de 11,1 milhões de habitantes onde o salário médio é de 20 dólares por mês.

Centenas de salões de beleza, cafeterias, academias, oficinas mecânicas e outros negócios particulares apareceram, e multiplicaram-se os "paladares", os restaurantes privados autorizados por Fidel nos anos 1990, que coexistem com os do Estado.


"Com esta coisa dos autônomos, a situação mudou muito e isso pode ser notado", disse à AFP a chefe de uma agência de turismo, que não quis ter sua identidade revelada.

"Agora há cubanos que vão em lua de mel para Varadero e Los Cayos (as praias mais turísticas de Cuba); os autônomos são os que propiciam isso", explica.

Antes, os cubanos não podiam se hospedar em hotéis, mas Raúl eliminou esta proibição em 2008 e agora o turismo tem duas altas temporadas: de dezembro a abril, com os viajantes estrangeiros, e em julho e agosto, com os cubanos.

"Durante 2012, vendi 53.000 dólares em pacotes (turísticos) a cubanos, fiquei impressionado com essa marca. Imagine, eu sentado no meu escritório, que é apenas um pedacinho de Cuba, vendendo isso tudo para cubanos", disse à AFP um funcionário de outra agência de turismo.

"Há muito mais poder aquisitivo entre os cubanos, me dei conta porque há mais afluência" de clientes cubanos, acrescenta, pedindo para não divulgar seu nome.

Um dia em um resort de praia com tudo incluído custa cerca de 200 dólares, mas as tarifas são variáveis, já que existem muitas promoções.

Por vezes, cubanos de Miami que visitam a ilha financiam as férias de familiares de Havana em Varadero e outras praias. Tanto o presidente americano Barack Obama quanto Raúl Castro eliminaram barreiras que limitavam as viagens dos emigrados à ilha.


Um recorde de 400.000 cubanos emigrados visitaram Cuba em 2012, segundo números oficiais, e acredita-se que muitos autônomos abriram seus negócios com capital fornecido por familiares no exterior. Mais de 2 bilhões de dólares chegam por ano a Cuba em remessas familiares, segundo a Cepal.

Os primeiros sinais de luxo apareceram na Cuba comunista com a construção de hotéis na década de 1990, quando Fidel Castro abriu a ilha ao turismo para aliviar a crise, após o fim da ajuda soviética.

No entanto, com as reformas de Raúl, a oferta de bens e serviços não essenciais já não está destinada apenas a estrangeiros, mas também a cubanos de maior renda.

Alguns "paladares" agora vendem pratos de carne de cervo e de "jicotea" (tartaruga). Claro que não figuram no cardápio, mas são oferecidos verbalmente a clientes habituais, porque sua venda é ilegal.

Nos anos 1980, os "paladares" eram modestos negócios familiares de poucas mesas na sala de uma casa e tinham uma oferta escassa. Agora ocupam uma casa inteira, são decorados, oferecem diversos pratos e vinhos importados e possuem empregados.

O nascente consumo de luxo não é um tema do qual se fale publicamente, talvez porque seja incômodo para o discurso oficial ou porque os cubanos de maior renda prefiram passar despercebidos, já que no passado algumas pessoas eram levadas à justiça por enriquecimento ilícito após denúncias anônimas de vizinhos.


Mas o medo de ter mais dinheiro parece estar se esvaindo com as reformas econômicas, que, segundo Raúl Castro, criarão uma "sociedade menos igualitária, porém mais justa".

Nas academias de ginástica dos hotéis cinco estrelas de Havana agora apenas a metade dos usuários são hóspedes estrangeiros, já que os demais são sócios que pagam uma taxa anual de ao menos 700 dólares.

"Entre os sócios, há mais cubanos do que estrangeiros" residentes, disse à AFP o professor da academia de um hotel de uma rede espanhola.

Em Cuba existem centenas de academias estatais que cobram uma taxa mensal de três pesos cubanos (12 centavos de dólar), mas seus equipamentos são antiquados e estão deteriorados. Com as reformas, também apareceram academias particulares, que cobram 10 dólares ao mês de seus sócios.

Nos hotéis também existem aulas particulares de tênis (10 a 15 dólares a hora), que contam com cada vez mais alunos, tanto adultos quanto crianças, e não apenas hóspedes estrangeiros.

Há ainda outro reflexo do retorno do luxo: pela primeira vez uma companhia aérea - a panamenha Copa - lançou uma promoção para voos com origem em Havana: 809 dólares para Santiago do Chile, 25% a menos do que a tarifa tradicional.

Descontos similares são oferecidos para Quito, Bogotá, Santo Domingo e Panamá, destinos não tradicionais para os cubanos, que viajavam principalmente para Miami e Madri para emigrar ou visitar parentes.

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Como reflexo do tímido retorno do consumo de bens e serviços não essenciais na ilha comunista, estimulado pelos novos trabalhadores privados ou autônomos - que já somam 400.000 - agora é possível ver em Havana veículos Audi, Mercedes Benz, BMW e Hummer com placas de cor amarela, sinal de que pertencem a particulares cubanos.

Não são muitos diante da enorme frota de carros americanos dos anos 1950 ou dos Lada russos da década de 1980, mas até então todos os veículos de luxo pertenciam a diplomatas (placas pretas).

Raúl Castro, que sucedeu seu irmão Fidel em 2006, abriu espaço para a iniciativa privada para estimular a economia, mas suas reformas abriram brechas nas receitas e na capacidade de consumo, em um país de 11,1 milhões de habitantes onde o salário médio é de 20 dólares por mês.

Centenas de salões de beleza, cafeterias, academias, oficinas mecânicas e outros negócios particulares apareceram, e multiplicaram-se os "paladares", os restaurantes privados autorizados por Fidel nos anos 1990, que coexistem com os do Estado.


"Com esta coisa dos autônomos, a situação mudou muito e isso pode ser notado", disse à AFP a chefe de uma agência de turismo, que não quis ter sua identidade revelada.

"Agora há cubanos que vão em lua de mel para Varadero e Los Cayos (as praias mais turísticas de Cuba); os autônomos são os que propiciam isso", explica.

Antes, os cubanos não podiam se hospedar em hotéis, mas Raúl eliminou esta proibição em 2008 e agora o turismo tem duas altas temporadas: de dezembro a abril, com os viajantes estrangeiros, e em julho e agosto, com os cubanos.

"Durante 2012, vendi 53.000 dólares em pacotes (turísticos) a cubanos, fiquei impressionado com essa marca. Imagine, eu sentado no meu escritório, que é apenas um pedacinho de Cuba, vendendo isso tudo para cubanos", disse à AFP um funcionário de outra agência de turismo.

"Há muito mais poder aquisitivo entre os cubanos, me dei conta porque há mais afluência" de clientes cubanos, acrescenta, pedindo para não divulgar seu nome.

Um dia em um resort de praia com tudo incluído custa cerca de 200 dólares, mas as tarifas são variáveis, já que existem muitas promoções.

Por vezes, cubanos de Miami que visitam a ilha financiam as férias de familiares de Havana em Varadero e outras praias. Tanto o presidente americano Barack Obama quanto Raúl Castro eliminaram barreiras que limitavam as viagens dos emigrados à ilha.


Um recorde de 400.000 cubanos emigrados visitaram Cuba em 2012, segundo números oficiais, e acredita-se que muitos autônomos abriram seus negócios com capital fornecido por familiares no exterior. Mais de 2 bilhões de dólares chegam por ano a Cuba em remessas familiares, segundo a Cepal.

Os primeiros sinais de luxo apareceram na Cuba comunista com a construção de hotéis na década de 1990, quando Fidel Castro abriu a ilha ao turismo para aliviar a crise, após o fim da ajuda soviética.

No entanto, com as reformas de Raúl, a oferta de bens e serviços não essenciais já não está destinada apenas a estrangeiros, mas também a cubanos de maior renda.

Alguns "paladares" agora vendem pratos de carne de cervo e de "jicotea" (tartaruga). Claro que não figuram no cardápio, mas são oferecidos verbalmente a clientes habituais, porque sua venda é ilegal.

Nos anos 1980, os "paladares" eram modestos negócios familiares de poucas mesas na sala de uma casa e tinham uma oferta escassa. Agora ocupam uma casa inteira, são decorados, oferecem diversos pratos e vinhos importados e possuem empregados.

O nascente consumo de luxo não é um tema do qual se fale publicamente, talvez porque seja incômodo para o discurso oficial ou porque os cubanos de maior renda prefiram passar despercebidos, já que no passado algumas pessoas eram levadas à justiça por enriquecimento ilícito após denúncias anônimas de vizinhos.


Mas o medo de ter mais dinheiro parece estar se esvaindo com as reformas econômicas, que, segundo Raúl Castro, criarão uma "sociedade menos igualitária, porém mais justa".

Nas academias de ginástica dos hotéis cinco estrelas de Havana agora apenas a metade dos usuários são hóspedes estrangeiros, já que os demais são sócios que pagam uma taxa anual de ao menos 700 dólares.

"Entre os sócios, há mais cubanos do que estrangeiros" residentes, disse à AFP o professor da academia de um hotel de uma rede espanhola.

Em Cuba existem centenas de academias estatais que cobram uma taxa mensal de três pesos cubanos (12 centavos de dólar), mas seus equipamentos são antiquados e estão deteriorados. Com as reformas, também apareceram academias particulares, que cobram 10 dólares ao mês de seus sócios.

Nos hotéis também existem aulas particulares de tênis (10 a 15 dólares a hora), que contam com cada vez mais alunos, tanto adultos quanto crianças, e não apenas hóspedes estrangeiros.

Há ainda outro reflexo do retorno do luxo: pela primeira vez uma companhia aérea - a panamenha Copa - lançou uma promoção para voos com origem em Havana: 809 dólares para Santiago do Chile, 25% a menos do que a tarifa tradicional.

Descontos similares são oferecidos para Quito, Bogotá, Santo Domingo e Panamá, destinos não tradicionais para os cubanos, que viajavam principalmente para Miami e Madri para emigrar ou visitar parentes.

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