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Londres manterá secretos detalhes de negociação com Bruxelas

O governo liderado pela primeira-ministra, Theresa May, enfrenta pressões para começar a detalhar sua visão do Reino Unido fora do bloco comum


	Brexit: o governo enfrenta também o risco de que o próprio parlamento britânico ponha dificuldades ao processo
 (Neil Hall / Reuters)

Brexit: o governo enfrenta também o risco de que o próprio parlamento britânico ponha dificuldades ao processo (Neil Hall / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2016 às 14h48.

Londres - O governo britânico aspira manter em segredo alguns detalhes de sua postura com relação à saída do país da União Europeia para não dar vantagem aos negociadores enviados por Bruxelas, advertiu nesta terça-feira o ministro britânico para o "Brexit", David Davis.

Em um discurso perante o comitê de Relações Exteriores da câmara dos Comuns, Davis sustentou que prestar contas ao deputados sobre seus planos em aspectos como os futuros acordos comerciais que devem ser negociados com a UE seria "um presente para o outro lado".

O responsável por delinear o plano britânico para o "Brexit" compareceu perante o comitê em um momento no qual o governo liderado pela primeira-ministra, Theresa May, enfrenta pressões para começar a detalhar sua visão do Reino Unido fora do bloco comum.

Perante as perguntas dos parlamentares, Davis afirmou que se mantém de pé o calendário fixado por May, que prevê ativar no começo de 2017 o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que iniciará uma contagem regressiva de dois anos para romper definitivamente os laços formais entre Londres e Bruxelas.

"Acredito que seria uma má ideia entrar na negociação com medo de qualquer resultado que se pode obter", disse Davis, que admitiu que existe a possibilidade de que uma vez terminado o prazo de dois anos, não se tenha chegado a um acordo, ou bem que alguns dos 27 membros restantes da UE bloqueiem o pacto alcançado.

Contudo, o ministro considerou pouco provável esse cenário, que obrigaria o Reino Unido a comercializar com a União sob as normas da Organização Mundial do Comércio, uma situação potencialmente prejudicial para a economia britânica.

Além da possibilidade de um eventual acordo ficar paralisado por outros países da UE, o governo enfrenta também o risco de que o próprio parlamento britânico ponha dificuldades ao processo de saída da União.

Ao deixar o bloco, o Reino Unido deverá ultrapassar a sua legislação milhares de normas comunitárias, um processo que necessitará do sinal verde dos deputados.

É visto como certo que a câmara dos Comuns, com maioria conservadora, apoiará as decisões do governo nesse sentido, apesar de existir a possibilidade de a Câmara dos Lordes, onde muitas das cadeiras são hereditários ou estão ocupadas por membros da Igreja Anglicana, criar obstáculos a algumas mudanças legislativas.

"O governo está cumprindo um mandato muito claro por parte dos cidadãos. A Câmara dos Lordes seria muito pouco sábia se não tomasse esse mandato seriamente e optasse pelo caminho do bloqueio", disse Davis perante o comitê de Relações Exteriores.

Quando o parlamento deve se pronunciar sobre aspectos legais do "Brexit", provavelmente no último trecho das negociações com Bruxelas, o ex-primeiro-ministro David Cameron já não estará entre os Comuns, já que ontem pôs fim a sua carreira política em primeira linha ao renunciar à cadeira pelo Partido Conservador.

O antigo líder "tory", que obteve a maioria absoluta nas eleições gerais de 2015, já tinha renunciado como primeiro-ministro pouco depois da vitória do "Brexit" no referendo de 23 de junho, que ele mesmo convocou com o convencimento que venceria a opção da permanência na UE.

Com 49 anos, Cameron, que em 2010 se tornou o chefe de governo britânico mais jovem em cerca dois séculos, consumou agora seu desaparecimento da cena pública sob o argumento de que sua presença no parlamento seria uma "distração" para o novo Executivo de May nos tempos de incerteza que se avizinham.

Entre outros aspectos complexos, Londres deverá iniciar relações comerciais bilaterais com dezenas de países uma vez que estiver fora da UE, um cenário que obrigará a dobrar ou triplicar o orçamento do Ministério das Relações Exteriores, segundo calcula o comitê da câmara dos Comuns. 

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