Mundo

Líder do grupo Wagner ordena retorno das tropas para evitar derramamento de sangue em Moscou

O ex-chef de cozinha e ex-aliado de Putin disse em uma mensagem de áudio no Telegram que seu grupo havia avançado 200 km em direção à capital da Rússia nas últimas 24 horas

Rússia: A revolta da milícia russa é o grande desafio de Putin em mais de 23 anos no poder (ROMAN ROMOKHOV/AFP/Getty Images)

Rússia: A revolta da milícia russa é o grande desafio de Putin em mais de 23 anos no poder (ROMAN ROMOKHOV/AFP/Getty Images)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 24 de junho de 2023 às 15h06.

Última atualização em 24 de junho de 2023 às 15h23.

Yevgeny Prigozhin, líder do grupo paramilitar Wagner, afirmou neste sábado, 24, que ordenou que seus homens, que se aproximavam de Moscou, voltassem para suas bases para evitar um possível derramamento de sangue na capital da Rússia. 

O ex-chef de cozinha e ex-aliado de Putin disse em uma mensagem de áudio no Telegram que seu grupo havia avançado 200 km em direção à capital da Rússia nas últimas 24 horas e estava a 400 km de Moscou. Os combatentes do exército privado iniciaram uma corrida de 1.100 km após tomarem a cidade de Rostov ontem. 

O gabinete do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, disse que costurou um acordo com os mercenários em troca de garantia de segurança dos rebeldes. Vladimir Putin disse em pronunciamento mais cedo que os traidores seriam punidos e que a existência da Rússia estava ameaçada.  A revolta da milícia russa é o grande desafio de Putin em mais de 23 anos no poder.

Prigozhin não disse se o Kremlin respondeu à sua demanda para expulsar o ministro da Defesa, Sergei Shoigu. Não houve comentário imediato do Kremlin sobre o possível acordo. 

Apesar do recuo, o líder dos mercenários ressaltou que tomou a cidade de Rostov, no sul do país, sem dar nenhum tiro. A área é o principal centro logístico do exército russo em meio a guerra na Ucrânia. 

Grupo Wagner avançava sem resistência

Segundo a agência Reuters, transporte de tropas e um caminhão plataforma com um tanque passaram pela cidade de Voronezh, cerca de metade do caminho até a capital russa. Não houve relatos de que os rebeldes encontraram resistência na rodovia. 

Moscou reforça segurança de Moscou

O governo russo reforçou a segurança do Kremlin enquanto o grupo Wagner avança.  A Praça Vermelha foi fechada por policiais.

A mídia russa mostrou fotos de pequenos grupos de policiais com metralhadoras na periferia sul de Moscou. As autoridades da região de Lipetsk, ao sul da capital, disseram aos moradores para ficarem em casa. O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, pediu para que as pessoas evitem o máximo circular, uma vez que a cidade está com sob regime anti-terrorista.

Policiais e militares russos bloqueiam parte de uma rodovia que dá acesso a Moscou

Policiais e militares russos bloqueiam parte de uma rodovia que dá acesso a Moscou (AFP/Getty Images)

Por que o grupo Wagner quer derrubar o Putin

O líder da milícia Wagner acusou na sexta-feira, 23, o exército de Moscou de bombardear suas bases e convocou a população a se revoltar contra o comando militar. 

O exército negou as acusações, que chamou de "provocação", enquanto os serviços de segurança russos abriram uma investigação contra Yevgeny Prigozhin, por tentativa de motim.

A tensão ocorre em meio à contraofensiva das tropas ucranianas para reconquistar territórios tomados pela Rússia desde o início da intervenção militar, em fevereiro de 2022.

Horas antes do surgimento da crise, Prigozhin afirmou que o exército russo estava "se retirando" no leste e sul da Ucrânia, contradizendo as afirmações do Kremlin, que afirma que a contraofensiva de Kiev fracassa. "As Forças Armadas ucranianas estão fazendo as tropas russas recuarem", declarou, em entrevista publicada no aplicativo Telegram por seu serviço de imprensa.

Putin promete punir o grupo Wagner por traição

O presidente russo, Vladimir Putin, disse neste sábado que o levante militar é uma "punhalada pelas costas" e acusou o líder dos mercenários, Yevgeny Prigojin, de "trair" o país por suas "ambições pessoais". Em pronunciamento na televisão, Putin prometeu punir quem trair as Forças Armadas, destacou que a rebelião é uma "ameaça mortal" para o Estado russo e clamou pela unidade do país, afirmando que não permitirá uma "guerra civil" no território nacional.

Putin assegurou que os rebeldes serão "inevitavelmente punidos". O presidente reconheceu que o cenário em Rostov-on-Don, cidade tomada pelo grupo paramilitar nesta madrugada, é "difícil" e reconheceu que o funcionamento dos "órgãos de administração civil e militar está de fato bloqueado" na cidade, onde fica o quartel-general militar da ofensiva na Ucrânia. No entanto, disse que o governo russo vai adotar medidas para estabilizar a situação.

O que é o Grupo Wagner?

Fundado em 2014, o Wagner é um grupo paramilitar privado de mercenários composto por ex-soldados, prisioneiros e civis russos e estrangeiros. O líder da equipe de elite é o oligarca Yevgeny Prigozhin, com forte ligação ao Kremlin. As primeira missões do grupo ocorreram em Donbass, no leste da Ucrânia, e na península da Crimeia, quando os mercenários ajudaram as forças separatistas a tomar a região.

Durante anos, Prigojin fez trabalho clandestino para o Kremlin, enviando mercenários de seu grupo privado para lutar em conflitos no Oriente Médio e na África, sempre negando qualquer envolvimento. Com a guerra da Ucrânia, Putin utilizou os mercenários no conflito. Segundo estimativas, os paramilitares têm mais de 20 mil soldados na guerra da Ucrânia.

O líder, Yevgeny Prigozhin, afirmou que 25 mil soldados estão prontos para derrubar o ministro da defesa russo. 

Acompanhe tudo sobre:Rússia

Mais de Mundo

Plano de Trump para suspender teto da dívida fracassa na Câmara

Procuradora da Geórgia é afastada de caso de interferência eleitoral contra Trump

Argentina toma medidas para acelerar dolarização da economia

Luigi Mangione aceita ser transferido a Nova York para enfrentar acusações de homicídio