Liberação de prisioneiros é obstáculo a acordo de paz dos EUA e Talibã
Fala do presidente Ashraf Ghani mostram obstáculo na implementação do acordo para acabar com a guerra mais longa dos EUA
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de março de 2020 às 09h47.
O presidente do Afeganistão afirmou neste domingo que não libertará milhares de prisioneiros do Taleban, antes das discussões sobre compartilhamento de poder agendadas para a próxima semana, discordando publicamente do cronograma de uma rápida libertação de presos divulgada um dia antes em um acordo de paz entre os EUA e o Taleban.
Os comentários do presidente Ashraf Ghani mostram o primeiro obstáculo na implementação do frágil acordo, que visa acabar com a guerra mais longa dos EUA, de mais de 18 anos, e fazer com que facções afegãs rivais concordem com o futuro de seu país.
Os EUA disseram que uma planejada retirada de tropas norte-americanas ao longo dos próximos 14 meses está ligada ao desempenho antiterrorista do Taliban, e não ao progresso nas negociações entre afegãos. O enviado de paz de Washington, Zalmay Khalilzad, que serviu como primeiro embaixador dos EUA no Afeganistão depois da invasão dos EUA em 2001, passou os últimos 17 meses conversando repetidamente com o Taleban para estabelecer o acordo.
O acordo entre EUA e Taleban , assinado neste sábado no Catar, prevê a libertação de até 5 mil prisioneiros do Taleban pelo governo afegão, antes das negociações entre facções afegãs, que devem começar em 10 de março na capital norueguesa de Oslo. O Taleban libertaria até 1 mil prisioneiros.
Ghani disse em uma entrevista coletiva na capital afegã de Cabul neste domingo que isso não era uma promessa que os Estados Unidos poderiam fazer. Ele afirmou que a libertação de qualquer prisioneiro era uma decisão do seu governo e que ele não estava pronto para libertar prisioneiros antes do início das negociações. "O pedido foi feito pelos Estados Unidos para a libertação de prisioneiros e pode fazer parte das negociações, mas não pode ser uma condição prévia", disse Ghani.
O acordo entre EUA e Taleban é visto como uma oportunidade histórica para liberar os Estados Unidos do Afeganistão. No entanto, pode se desfazer rapidamente, principalmente se o Taleban não cumprir a promessa de que nenhum ataque terrorista seria lançado do solo afegão.
As negociações entre facções políticas do afegãs em conflito e o Taleban rival no Afeganistão são ainda mais complexas - mesmo que um fracasso em potencial possa não retardar a retirada das forças americanas.
O ministro das Relações Exteriores do Catar, Mohammad bin Abdulrahman Al Thani, disse que considera a troca de prisioneiros uma importante medida de confiança. "Tudo está interconectado", disse ele no domingo sobre o prazo de 14 meses do acordo. "A troca de prisioneiros será uma das primeiras medidas de construção de confiança, por isso continuará sendo uma etapa muito crítica que precisamos avançar", acrescentou.
O presidente Donald Trump afirmou neste sábado que o Taleban é um grupo "cansado da guerra". Ele disse achar que eles levam a sério o acordo que assinaram, mas alertou que, se falharem, os EUA poderiam reiniciar o combate. "Achamos que seremos bem-sucedidos no final", declarou, referindo-se às negociações de paz para os afegãos e a retirada dos EUA. Mas alertou: "Se coisas ruins acontecerem, voltaremos" com o poder de fogo militar.
Fonte: Associated Press