Japão planeja um futuro não-nuclear a partir de 2030
Trata-se da primeira vez em que a terceira maior economia do mundo traça o objetivo de conseguir o blecaute nuclear total no futuro
Da Redação
Publicado em 17 de setembro de 2012 às 21h26.
Tóquio - O Governo do Japão estabeleceu nesta sexta-feira a meta de abandonar a energia nuclear até a década de 2030, em uma importante mudança de sua política energética em pleno debate sobre a segurança das centrais, por causa do acidente em Fukushima.
Trata-se da primeira vez em que a terceira maior economia do mundo, que antes da crise nuclear obtinha quase 30% de sua energia das centrais atômicas, traça o objetivo de conseguir o blecaute nuclear total no futuro.
A decisão foi tomada em reunião ministerial que deu o sinal verde para uma nova política energética que passa por não construir mais reatores e reabrir apenas aqueles que passem por estritos controles de segurança, antes de eliminar totalmente este tipo de energia.
Também será aplicada estritamente a lei que limita a vida operacional dos reatores nucleares a 40 anos, segundo o conteúdo do novo plano, divulgado pela agência ''Kyodo''.
O acidente causado pelo tsunami de março de 2011 na unidade de Fukushima, o mais grave em uma usina nuclear desde o de Chernobyl em 1986, levou a paralisar gradualmente todos os reatores do Japão, seja por segurança ou para revisões rotineiras.
Desde então, apenas dois foram reabertos, o que obriga o arquipélago a manter um intenso ritmo em suas usinas térmicas e aumentar, para isso, suas importações de hidrocarbonetos, o que está causando um sério estrago em sua balança comercial.
O Governo reconheceu que será necessário que, ''por enquanto'', continue este aumento do uso de energia térmica para cobrir a demanda, embora também destaque as energias renováveis, que pretende triplicar até 2030.
Mas, neste contexto, admite que a redução da energia nuclear nos próximos anos terá repercussão nos planos sobre o meio ambiente do Governo: o Japão tinha traçado o objetivo de reduzir suas emissões de CO2 até 2020 em 25% em relação às de 2010, algo que agora não parece viável.
Assim, o plano aprovado hoje aponta que a redução será de apenas 20% e até o ano de 2030, segundo a edição digital do jornal ''Nikkei''.
Apesar de seu plano de eliminar a energia nuclear, o Japão continuaria abrigando instalações para processar resíduos nucleares como a que possui em Rokkasho, na província de Aomori (norte), que recebe periodicamente resíduos altamente radioativos de países como Reino Unido.
O objetivo do Governo japonês de conseguir o blecaute nuclear foi recebido com ''cautela'' por organizações como o Greenpeace, que disse que os 18 anos que faltam até 2030 são ainda ''muitos'' para manter a ''ameaça à segurança pública'' representada pelas centrais atômicas.
Embora atualmente mantenha a maioria paralisada, o Japão é o terceiro país do mundo com mais reatores nucleares comerciais, atrás apenas de EUA e França.
O debate sobre a segurança das instalações atômicas se desencadeou no Japão por causa do desastre na unidade de Fukushima Daiichi.
Desde a catástrofe, o movimento antinuclear ganhou em presença e a maioria dos cidadãos, segundo várias enquetes, prefere manter as centrais fechadas, mas boa parte do setor industrial critica o custo que isso vai representar para o grande tecido empresarial do país.
Segundo um estudo do Governo publicado no começo deste mês, o Japão precisaria investir pelo menos 50 trilhões de ienes (cerca de US$ 640 bilhões) em energias renováveis até 2030 se pretender eliminar totalmente as centrais atômicas do país.
O mesmo relatório apontava para que, em caso de encerrar o uso das nucleares, o consumo de energia elétrica dos lares quase duplicaria até 2030 e seria necessário aumentar a geração de energia renovável dos 106 bilhões de quilowatts hora (kWh) de 2010 para 350 bilhões de kWh em 2030.