Itália: italianos participaram no domingo e nesta segunda nas primeiras eleições realizadas desde o início da pandemia de coronavírus (AFP/AFP)
Carolina Riveira
Publicado em 21 de setembro de 2020 às 15h52.
Última atualização em 21 de setembro de 2020 às 16h17.
A Itália vai reduzir em um terço o número de parlamentares. A decisão foi ratificada pela população em referendo, em que 69% dos eleitores votou por reduzir o tamanho do Parlamento, segundo pesquisas de boca de urna. A votação aconteceu nesta segunda-feira, 21, quando os italianos também votaram em algumas eleições regionais do país.
O número de parlamentares, incluindo deputados e senadores, vai passar de 945 para 600 a partir do próximo ano eleitoral, em 2023.
A Itália tem o segundo maior Parlamento da Europa. O maior é o do Reino Unido, com 1.400 parlamentares. O Parlamento italiano ficará com tamanho parecido ao do Congresso brasileiro, por exemplo, que é formado por 513 deputados e 81 senadores.
A proposta de reduzir o número de cadeiras era uma das bases do grupo populista Movimento 5 Estrelas, que tem uma das maiores bancadas do Parlamento. O 5 estrelas, que mistura políticas anti-imigração de direita com pautas sociais de esquerda, vem ganhando popularidade nos últimos anos na Itália em meio à insatisfação da população com políticos tradicionais.
O grupo faz parte da coalizão do governo do premiê Giuseppe Conte, que é do Partido Democrático, de centro-esquerda. Conte está à frente do governo italiano desde agosto do ano passado, quando o então premiê, o político de extrema-direita Matteo Salvini, sofreu pressão para renunciar após perder um voto de não-confiança do Parlamento -- movimento que é comum em países parlamentaristas, quando o premiê perde apoio no Congresso.
Conte, desde então, governa numa coalizão entre o 5 Estrelas e o Partido Democrático. A redução no número de parlamentares era uma das condições para que o 5 Estrelas apoiasse o governo.
Já Salvini é lider da coalizão Liga Norte, de extrema-direita e similar ao 5 Estrelas em algumas posições. Salvini ainda é vice-ministro de Conte.
A medida de redução do número de parlamentares havia sido aprovada pelo próprio Parlamento já no ano passado, mas foi levada a referendo. Críticos da medida afirmam que é uma tática populista com poucos efeitos práticos e que para consertar problemas do sistema político italiano seria necessário uma reforma mais profunda.
Nas eleições regionais deste fim de semana, a extrema-direita italiana, incluindo o movimento 5 Estrelas de Salvini, esperava conquistar regiões governadas atualmente pela esquerda. Uma das mais disputadas é a Toscana, conhecida como joia "vermelha" durante meio século e cuja perda que afetaria a credibilidade do governo de esquerda de Conte.
A votação começou no domingo e terminou por volta das 15h desta segunda-feira. O procedimento segue um rígido protocolo de segurança devido ao aumento de casos de coronavírus no país nas últimas sete semanas.
Foram às urnas seis regiões -- quatro governadas pela esquerda (Toscana, Campania, Apúlia e Marche) e duas pela direita (Ligúria e Veneto).
Pelas pesquisas do boca de urna, a esquerda conseguiu vencer na Toscana, embora com uma vitória apertada. O resultado ainda não foi confirmado.
As eleições regionais podem mudar consideravelmente o panorama político do país. Contra a coalizão de governo há uma frente de centro-direita e de extrema-direita com candidatos únicos. Um cenário catastrófico para o governo seria a vitória da direita em três das quatro regiões atualmente sob poder da esquerda. A direita já administra 13 regiões italianas e a esquerda, seis.
A Toscana é muito cobiçada pelos dois lados do espectro político. Uma derrota na região, conhecida por seu bom funcionamento e até agora pouco inclinada ao populismo, também afetaria a popularidade dos principais líderes do Partido Democrata, afirmam os analistas.
(Com AFP)