Israel volta a pedir saída de civis do norte de Gaza: "sem demora"
Mais de 1.300 edifícios na Faixa de Gaza foram completamente destruídos, segundo órgão da ONU
Agência de notícias
Publicado em 14 de outubro de 2023 às 10h53.
Israel voltou a advertir a população, neste sábado (14), para que deixe o norte da Faixa de Gaza e anunciou a morte de dois importantes líderes militares do Hamas, enquanto continua bombardeando o enclave palestino em resposta à sangrenta ofensiva do movimento islâmico, há uma semana, que deixou milhares de mortos.
No oitavo dia de uma guerra que deixou milhares de mortos, Israel anunciou a morte de dois líderes militares do Hamas: Murad Abu Murad, "responsável por uma grande parte da ofensiva mortal" contra Israel, segundo o Exército; e um "comandante da unidade 'Nukhba'" ("elite", na tradução do árabe), "que dirigiu o ataque contra as localidades israelenses perto da Faixa de Gaza".
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Enquanto isso, os bombardeios letais e destrutivos contra o território palestino não param.
Bombardeios em Gaza
Mais de 2.200 palestinos, a maioria civis e incluindo 724 crianças, segundo as autoridades locais, morreram na Faixa de Gaza, um território localizado entre Israel e Egito e sujeito a um bloqueio israelense desde 2006. Desse total, 324 morreram entre sexta-feira e sábado, conforme as mesmas fontes.
Mais de 1.300 edifícios na Faixa de Gaza foram completamente destruídos, informou o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Cerca de 5.540 moradias "foram destruídas" nesses prédios, e outras 3.750 sofreram danos tão graves que não podem mais ser habitadas, acrescentou o OCHA, uma semana após os intensos bombardeios do Exército israelense na esteira da sangrenta ofensiva do movimento islâmico palestino Hamas.
Da Faixa de Gaza, o Hamas lançou uma chuva de foguetes contra o centro de Israel pela manhã e, no sul da Faixa, na cidade de Khan Yunis, uma menina ferida foi resgatada dos escombros, informou um fotógrafo da AFP.
Na véspera, o Exército anunciou que tinha realizado incursões em território palestino.
O Exército israelense confirmou, neste sábado, ter identificado "mais de 120 civis" detidos em Gaza, entre os quase 150 reféns capturados pelo Hamas, que ameaçou executá-los. Centenas de pessoas continuam desaparecidas e os esforços para identificar os corpos continuam.
Também hoje, o Hamas afirmou que os bombardeios israelenses em Gaza mataram nove reféns nas últimas 24 horas. Com estas mortes, sobe para 22 o número de reféns do Hamas mortos em bombardeios desde o início da guerra entre Israel e esse movimento, há uma semana, conforme balanço deste último.
Pelo menos 1.300 israelenses, a maioria civis, foram mortos desde o ataque de 7 de outubro, que traumatizou Israel.
"Sem demora"
À espera da ofensiva terrestre que Israel afirma estar preparando, o Exército instou este sábado os civis de Gaza no norte do enclave, onde vive 1,1 milhão de pessoas dos 2,4 milhões que residem em Gaza, a não "demorarem" a se deslocar para o sul.
Há uma "janela das 10h às 16h" neste sábado, disse à imprensa o porta-voz militar Richard Hecht.
O Exército israelense indicou que houve um "movimento significativo" da população após suas instruções, mas acusou o Hamas, que rejeitou a convocação de evacuação, de tentar impedir as partidas. Israel costuma acusar o movimento islâmico de usar civis como escudos humanos.
Desde sexta-feira, milhares de habitantes fugiram do norte da Faixa - em reboques, burros, carroças, motocicletas, de carro, ou a pé -, abrindo caminho entre os escombros e edifícios destruídos.
Há quem se recuse a sair: "o inimigo quer nos aterrorizar e nos forçar ao exílio, mas resistiremos", disse Abu Azzam, residente em Gaza.
Segundo a ONU, mais de 423.000 palestinos tiveram de abandonar suas casas.
O ataque do Hamas e a guerra que desencadeou alimentaram temores de que o conflito se expanda e de que ocorra uma catástrofe humanitária em Gaza, que Israel priva de água, eletricidade e alimentos.
Arábia Saudita interrompe discussões com Israel
"Até as guerras têm regras", lembrou na sexta-feira o secretário-geral da ONU, António Guterres, fazendo um apelo pelo "acesso humanitário imediato" a Gaza, atualmente sitiada.
"O sistema de saúde está à beira do desastre", e "os necrotérios estão lotados", alertou Guterres.
O presidente americano, Joe Biden, também denunciou "a crise humanitária" em Gaza, ao mesmo tempo em que reiterou seu compromisso de entregar a Israel "o que for necessário para se defender e responder a estes ataques".
E o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, considerou neste sábado que a retirada de civis de Gaza solicitada por Israel é "totalmente impossível de implementar".
A Arábia Saudita, um peso-pesado no Oriente Médio, anunciou, por sua vez, neste sábado, que suspendia as discussões sobre uma eventual normalização de suas relações com Israel.
A tensão também se acentuou na fronteira norte de Israel. Ali, o Exército israelense anunciou, neste sábado, que matou "vários terroristas" que tentavam se infiltrar em território israelense pelo Líbano, após terem bombardeado durante a noite um alvo do movimento Hezbollah no sul do Líbano, em resposta a tiros e a uma "infiltração" aérea.
Um cinegrafista da agência Reuters morreu, e outros seis jornalistas (da AFP, Reuters e Al-Jazeera) ficaram feridos ontem em bombardeios no sul do Líbano. Neste sábado, o Exército israelense disse "sentir muito" por essa morte e que estava "investigando" o ocorrido, sem assumir qualquer responsabilidade.
Já o Exército libanês acusou Israel diretamente pelo bombardeio.
Na região, milhares de pessoas se manifestaram na sexta-feira, sobretudo, no Líbano, Iraque, Irã, Jordânia e Bahrein, em apoio aos palestinos.
Na Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, pelo menos 16 palestinos morreram em confrontos com as forças israelenses durante manifestações de solidariedade com Gaza.