Mundo

Israel e Hamas se acusam mutuamente de romper trégua

Ações frustraram o processo negociador que se mantinha a duras penas no Cairo para conseguir uma cessação permanente das hostilidades


	Palestinos fogem de israelenses: cessar-fogo foi interrompido nesta terça-feira
 (Abed Omar Qusini/Reuters)

Palestinos fogem de israelenses: cessar-fogo foi interrompido nesta terça-feira (Abed Omar Qusini/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de agosto de 2014 às 15h04.

Gaza/Jerusalém - Israel e o movimento islamita Hamas se acusaram nesta terça-feira mutuamente de romper a trégua e frustrar o processo negociador que se mantinha a duras penas no Cairo para conseguir uma cessação permanente das hostilidades.

Pouco depois das 17h local (11h, em Brasília) e no meio de crescentes denúncias palestinas do suposto "desinteresse" israelense, três foguetes partiram desde a Faixa de Gaza e explodiram em locais descampados próximos à cidade israelense de Beerseheva.

Quase imediatamente, caças-bombardeiros israelenses atacaram zonas próximas à cidade setentrional de Beit Lahia e outros pontos da Faixa, confirmaram ambas as partes.

Segundo fontes palestinas, pelo menos duas crianças ficaram levemente feridas na cidade de Rafah, vizinha ao Egito.

Perante este novo aumento da violência, após quase uma semana de calma, muitos cidadãos voltaram a recolher seus poucos pertences e retornaram às únicas áreas que acham seguras: as escolas da ONU.

Retomados os ataques, ambas as partes mais uma vez trocaram acusações sobre a ruptura da trégua -é a quarta que não é cumprida- e o fracasso das conversas, que buscavam o fim de um conflito que já tirou a vida de mais de dois mil palestinos, 25% deles crianças.

"Os problemas na negociação não começaram com o disparo dos foguetes. Existe um problema intrínseco. Agora é impossível chegar a um acordo. O diálogo está em ponto morto", explicou uma fonte diplomática palestina, que pediu para não ser identificada.

Momentos antes, o porta-voz do Hamas em Gaza, Sami Abu Zuhri, acusava os negociadores israelenses de ter bloqueado o avanço nas conversas e advertia que o grupo estava preparado para qualquer cenário.

Em um e-mail enviado à imprensa, Abu Zuhri reiterava, além disso, a disposição de seu grupo de seguir adiante com o processo iniciado na capital egípcia e sublinhava que o governo israelense de Benjamin Netanyahu está "brincando com fogo".

"Os ocupantes (Israel) são responsáveis pelo ponto morto no qual se chegou nas negociações no Cairo devido a suas táticas dilatórias e a falta de determinação para chegar a um acordo", afirmou.

"Os ocupantes estão desperdiçando oportunidades e devem deixar de brincar com o tempo. O Hamas insiste em sua disposição de seguir adiante com todas as possibilidades e está preparado para qualquer conjuntura", ameaçou.

Nesta mesma manhã, Izzat al Reshq, outro dos representantes do Hamas, já tinha alertado que o atual cessar-fogo, estendido por mais 24 horas ontem à noite "na última hora", seria o último.

Segundo a imprensa israelense, após a troca bélica, o primeiro-ministro israelense ordenou a sua delegação que abandonasse a mesa de negociações no Egito.

"Fontes do governo disseram que as negociações sobre a trégua no Cairo colapsaram e que após o lançamento de foguetes desde Gaza o primeiro-ministro e o ministro da Defesa (Moshé Yaalon) ordenaram que a delegação israelense retorne ao país", explicou o jornal progressista ""Ha"aretz"".

O abandono foi confirmado à Agência Efe por fontes israelenses no Cairo.

"As negociações de paz com o Hamas não servem para os interesses de segurança de Israel, portanto não há razão para prosseguir", explicou o ministro israelense de Interior, Gideon Sa"ar, citado pelo jornal local "Yedioth Ahronoth".

A troca bélica de hoje é a primeira que ocorre desde que no domingo palestinos e israelenses retomaram o diálogo indireto em outra tentativa de pôr fim a cinco cruentas semanas nas quais também morreram 64 soldados israelenses em combates com as milícias, e três civis em Israel por causa dos foguetes.

As conversas pareciam discorrer por bom caminho nesta manhã depois que a imprensa israelense assegurou que seu país já tinha aceitado o levantamento paulatino do bloqueio econômico e o assédio militar a Gaza, principais condições do Hamas.

E depois que um alto responsável palestino acrescentou que os negociadores israelenses também pareciam predispostos a ceder em sua exigência do desarmamento das milícias.

No entanto, quase mesmo ao tempo que se conhecia a violação do cessar-fogo, Fawzi Barhum, porta-voz do Hamas, advertia já a Netanyahu sobre duras respostas se a negociação fracassasse.

"Se Netanyahu não entende bem a mensagem e as reivindicações de Gaza através do diálogo político, sabemos muito bem qual é a via para fazer com que entenda", ameaçou em uma declaração divulgada por e-mail.

O chefe do governo israelense, que se encontra sob forte pressão tanto externa -para a cessação do conflito- como interna -em alguns casos para que continue com ela- também disse na segunda-feira que seu país está pronto para qualquer eventualidade.

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaConflito árabe-israelenseEgitoFaixa de GazaHamasIsraelNegociaçõesPalestina

Mais de Mundo

Republicanos exigem renúncia de Biden, e democratas celebram legado

Apesar de Kamala ter melhor desempenho que Biden, pesquisas mostram vantagem de Trump após ataque

A estratégia dos republicanos para lidar com a saída de Biden

Se eleita, Kamala será primeira mulher a presidir os EUA

Mais na Exame