Islã: apesar de Merkel ressaltar há mais de um ano que "o Islã pertence à Alemanha", os democratas-cristãos da chanceler estão divididos sobre o tema (Thaier Al-Sudani / Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2016 às 10h03.
Com uma crise do euro que caiu no esquecimento e um fluxo de migrantes contido pelo fechamento de fronteiras, a direita populista alemã do AfD, que se reúne neste fim de semana em congresso, pretende ganhar o eleitorado com suas críticas ao Islã.
"Partido contestatário busca tema contestatário", resume o semanário Der Spiegel, descrevendo o atual paradoxo do movimento em pleno apogeu.
Depois de ter ganhado força nas eleições regionais de março e alcançado 14% das intenções de voto nas pesquisas, o jovem partido perdeu, com o fechamento das fronteiras na Europa, seu argumento favorito: a política de acolhimento de migrantes da chanceler Angela Merkel.
No entanto, na Alemanha, onde o desemprego é baixo e a confiança no governo é "mais alta que em outros lugares", o AfD só pode prosperar com "um descontentamento generalizado", explicou à AFP Timo Lochocki, especialista em direita populista do German Marshall Fund de Berlim.
O Alternativa para a Alemanha (AfD), criado na primavera de 2013, presente no Parlamento Europeu e na metade dos Parlamentos regionais do país, viu no Islã um possível catalisador, um tema que centrará os debates no sábado e no domingo em seu congresso em Stuttgart (sudoeste).
Entre as moções que votarão, figura a proibição de minaretes, "símbolos da dominação islâmica", das chamadas do muezim e do véu, "sinal político-religioso da submissão das mulheres muçulmanas aos homens".
Seus líderes já haviam declarado recentemente que o Islã é "incompatível com a Constituição", classificando-o de "ideologia política" e da "maior ameaça para a democracia e a liberdade".
Um desafio "difícil de ignorar"
Com quatro milhões de muçulmanos na Alemanha e a chegada no ano passado de um milhão de solicitantes de asilo procedentes em sua maioria de países muçulmanos, a retórica anti-islã "pode beneficiar muito o AfD" até as legislativas de 2017, considera a cientista política Nele Wissmann.
Para Timo Lochocki, "tudo dependerá" da reação dos outros partidos e dos meios de comunicação, porque o grupo "não tem poder para marcar a agenda impondo apenas seus temas favoritos".
Em geral, a condenação parece unânime e Angela Merkel ressalta há mais de um ano que "o Islã pertence à Alemanha". Mas os democratas-cristãos da chanceler estão divididos há tempos sobre o tema e seus aliados do CSU exigem, por sua vez, uma "lei sobre o Islã" que sirva para frear o avanço do AfD.
Um estudo da fundação Bertelsmann revelava no ano passado que 57% dos alemães encaram o Islã como uma ameaça e que 61% pensam que é "incompatível com o mundo ocidental", um desafio "difícil de ignorar", destacou Nele Wissmann.
Outra questão que será votada neste fim de semana envolve se é conveniente para o partido se aliar à Frente Nacional francesa no Parlamento Europeu. A ala direitista do partido, forte no leste, é favorável, enquanto a ala liberal, que domina no oeste do país, é mais reticente.
Em meio a esta disputa interna, alguns caciques do partido viram no êxito da extrema-direita austríaca no primeiro turno das presidenciais uma oportunidade para reforçar suas posições dentro do AfD, dispostos a prever um destino similar na Alemanha.