Os rastos de cocaína foram encontrados nos banheiros do palácio do Parlamento do Reino Unido, em Westminster (Creative Commons/David Iliff,/Exame)
Vestígios de cocaína foram encontrados nos banheiros do Parlamento do Reino Unido, em Londres.
A informação foi divulgada pelo jornal britânico Sunday Times, que contou como os rastos da droga apareceram em 11 dos 12 locais testados, todos acessíveis apenas com um crachá parlamentar.
A cocaína foi detectada nos banheiros do Palácio de Westminster, próximos aos gabinetes do primeiro ministro, Boris Johnson, e do Ministro do Interior, Priti Patel, ambos do Partido Conservador.
Mas também foram encontradas evidências sobre o uso da droga nos banheiros próximos aos gabinetes do "governo-sombra" do Partido Trabalhista.
Ou seja, pelo menos no consumo de drogas, aparece ter um acordo bi-partidário em Westminster.
Tanto que o Sunday Times fala abertamente em uma "cultura da cocaína no Parlamento do Reino Unido".
Para o jornal, alguns deputados se drogam continuamente, outros de vez em quando.
Alguns são nomes conhecidos, outros são políticos jovens e ambiciosos, ou também são funcionários de gabinetes. "Todos pensam que são intocáveis", salientou o Sunday Times.
O jornal contou a história de um deputado que cheirou cocaína durante uma festa, na frente de todos os convidados e na presença de jornalistas.
Em outro caso, um assessor parlamentar entrou no escritório de um deputado no meio da noite e o flagrou cheirando em cima de sua mesa.
Um ex-deputado teria contratado em sua equipe o seu traficante de confiança, que se tornou assessor parlamentar, para conseguir pagá-lo regularmente.
"Todo mundo sabe em qual gabinete ir para procurar um baseado. Não é raro encontrar funcionários perambulando chapados pelos corredores do Parlamento, com o olhar alucinado", declarou um assessor parlamentar sênior, "A gente vira as costas ou olha para o teto quando cruza essas pessoas"
Atualmente, cerca de 19 mil pessoas possuem um crachá parlamentar e podem acessar Westminster sem controles.
No último ano, dois traficantes foram presos nas redondezas do Parlamento, e outras 13 pessoas foram presas por porte de drogas.
No total, 17 crimes relacionados às drogas foram investigados dentro ou ao redor dos prédios do Parlamento do Reino Unido.
A pena máxima por porte de cocaína na Inglaterra é de sete anos de prisão.
O presidente do Parlamento, Sir Lindsay Hoyle, prometeu uma investigação e já antecipou que vai levar o caso para a polícia.
Hoyle classificou como “profundamente preocupantes” as revelações do Sunday Times e disse que os que consumiram cocaína devem ser “castigados”.
Na próxima semana uma comissão tratará sobre esse escândalo.
O sindicato que representa os parlamentares, no entanto, tentou minimizar a questão.
"Uma cultura de trabalho baseada em jornadas muito longas e prazos apertados pode gerar pressões percebidas como incontroláveis: é preciso disponibilizar apoios para quem acabou no mundo das drogas e continuar melhorando as condições de trabalho", informou o sindicato dos parlamentares do Reino Unido.
“Não há lugar para as drogas em nossa sociedade e certamente não em nosso Parlamento - declarou a ministra Patel -. Aqueles que têm o privilégio de trabalhar no seio de nossa democracia e que estão envolvidos no uso ou distribuição de drogas estão completamente desligados da dor e do sofrimento que alimentam com o tráfico de drogas”.
O escândalo cocaína no Parlamento britânico ocorre na véspera do lançamento do novo plano do governo para criar leis mais duras contra usuários de drogas da classe alta. A ideia é mudar a percepção de que pessoas privilegiadas podem violar as leis sem consequências. E ele poderia decidir "dar o exemplo" começando por algumas pessoas de alto perfil.