Pelo menos 82 pessoas morreram neste domingo no incêndio em um hospital para pacientes com Covid-19 em Bagdá, uma tragédia que provocou a ira dos iraquianos (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 25 de abril de 2021 às 21h17.
Última atualização em 25 de abril de 2021 às 21h38.
Pelo menos 82 pessoas morreram neste domingo no incêndio em um hospital para pacientes com Covid-19 em Bagdá, uma tragédia que provocou a ira dos iraquianos e pedidos de demissão dos responsáveis, em um país com um sistema de saúde devastado.
O incidente foi causado por cilindros de oxigênio "armazenados sem respeitar as condições de segurança" no hospital Ibn al-Khatib de Bagdá, disseram fontes médicas à AFP. As chamas devoraram durante horas os tetos falsos, sob os quais os pacientes que estavam sob ventilação mecânica foram brutalmente retirados de seus leitos.
"O fogo levou apenas três minutos para chegar à maioria dos andares", informou a Defesa Civil. Segundo o último balanço do Ministério do Interior, 82 pessoas morreram e 110 ficaram feridas.
A Defesa Civil apontou que "o hospital não tinha um sistema de proteção contra incêndios, e os tetos falsos permitiram que o fogo se propagasse atá produtos altamente inflamáveis. A maioria das vítimas morreu porque foi removida e privada de ventilação. Outras foram asfixiadas pela fumaça."
A tragédia gerou revolta entre os iraquianos, depois que fontes médicas atribuíram a tragédia à negligência, muitas vezes ligada à corrupção endêmica que assola o país. "Renúncia do ministro da Saúde" era o assunto mais comentado no Twitter no Iraque.
O país, de 40 milhões de habitantes, tem um sistema de saúde precário, que nunca se recuperou de quatro décadas de guerra. O primeiro-ministro, Mustafa Al-Kazimi, anunciou três dias de luto nacional e a abertura de "uma investigação imediata", além de uma indenização de 6,9 mil dólares à família de cada vítima.
O primeiro-ministro suspendeu o ministro da Saúde, Hasan al-Tamimi, que será interrogado, bem como outras autoridades sanitárias. "Os resultados da investigação serão apresentados ao governo dentro de cinco dias", assinala um comunicado do gabinete do premier.
No meio da noite, quando havia dezenas de parentes com "trinta pacientes em uma unidade de terapia intensiva" reservada para os casos mais graves da covid em Bagdá, as chamas se espalharam pelos andares, informou uma fonte médica. Vídeos publicados nas redes sociais mostram bombeiros tentando apagar as chamas enquanto os doentes e suas famílias tentam deixar o prédio nos arredores de Bagdá.
Amir, de 35 anos, relatou à AFP que "salvou por pouco seus irmãos que estavam no hospital". "As pessoas se encarregaram de retirar os feridos", disse.
É um "crime", denunciou a Comissão governamental de Direitos Humanos. "Contra pacientes exaustos pela covid-19 que colocaram suas vidas nas mãos do Ministério da Saúde e que em vez de serem curados morreram nas chamas".
A Comissão apelou ao primeiro-ministro para remover o ministro da Saúde e "levá-lo à justiça". O mesmo foi exigido pelo presidente da República, Barham Saleh, e pelo chefe do Parlamento, Mohamed al Halbusi. Por sua vez, a missão da ONU no Iraque expressou "sua dor" e se declarou "chocada" com a tragédia.
O premier iraquiano pediu no Twitter que a tragédia não seja politizada, enquanto o presidente Saleh estimou que a mesma "é resultado de anos de prejuízo às instituições do Estado causado pela corrupção e má gestão".
O Iraque, país com escassez de medicamentos, médicos e hospitais há décadas, superou na quarta-feira um milhão de casos de covid-19. Mas registra um número de mortos relativamente baixo, provavelmente porque sua população é uma das mais jovens do mundo.
Segundo o Ministério da Saúde, 1.025.288 iraquianos foram infectados desde o surgimento do novo coronavírus no país em fevereiro de 2020, dos quais 15.217 morreram.