Extração de Petróleo (Daniel Acker/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 5 de julho de 2021 às 10h30.
Cresce a tensão entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos diante do impasse nas negociações da Opep. Com a atípica disputa diplomática entre antigos aliados, o mercado global tenta adivinhar quanto petróleo será produzido no mês que vem.
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O confronto já obrigou a Opep+ a suspender as negociações duas vezes. A próxima reunião está marcada para esta segunda-feira e coloca os mercados no limbo enquanto o petróleo continua sua alta inflacionária acima de US$ 75 o barril. O cartel avalia a política de produção não apenas para o resto do ano, mas também até 2022, e a solução para o impasse moldará o mercado e o setor no próximo ano.
A disputa cada vez mais pessoal entre os dois principais produtores se tornou pública no domingo. Os dois países, que normalmente mantêm as divergências dentro dos palácios reais, expuseram suas diferenças.
O governo de Riade insiste em seu plano, que é apoiado por outros membros da Opep+ como a Rússia, para que o grupo aumente a produção nos próximos meses, mas também estenda o pacto até o final de 2022 por uma questão de estabilidade.
“Temos que estender”, disse o ministro de Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, em entrevista à Bloomberg Television na noite de domingo. “A extensão coloca muitas pessoas em sua zona de conforto.”
Em uma indicação da gravidade da disputa diplomática, o príncipe Abdulaziz sinalizou que o governo de Abu Dhabi está isolado na aliança Opep+. “É o grupo todo contra um país, o que é triste para mim, mas essa é a realidade.”
Horas antes, seu homólogo dos Emirados, Suhail al-Mazrouei, rejeitou novamente uma extensão do acordo. Ele apoia apenas um aumento no curto prazo e exige melhores condições ao país para 2022.
“Os Emirados Árabes Unidos desejam um aumento incondicional da produção, que o mercado exige”, disse Al-Mazrouei à Bloomberg Television no domingo. No entanto, a decisão de estender o acordo até o final de 2022 é “desnecessária agora”, afirmou.
O governo de Abu Dhabi coloca seus aliados em uma posição difícil: aceitar seus pedidos ou arriscar desfazer a aliança Opep+. O fracasso em chegar a um acordo pressionaria um mercado já apertado, potencialmente elevando muito os preços do petróleo.
Mas um cenário mais dramático também está em jogo: a unidade da Opep+ pode ruir completamente, arriscando um vale tudo que derrubaria os preços em uma repetição da crise do ano passado. Naquela época, foi um desacordo entre a Arábia Saudita e a Rússia que desencadeou uma guerra de preços punitiva.
Meses depois de uma trégua na guerra de preços, os Emirados Árabes Unidos agitaram o mercado novamente ao cogitar a ideia de sair do cartel. Não repetiu a ameaça esta semana, mas, quando questionado se os Emirados Árabes Unidos podem sair, o príncipe saudita apenas disse: “Espero que não.”
O príncipe Abdulaziz disse que, sem uma extensão do acordo, há um pacto alternativo em vigor - segundo o qual a produção de petróleo não aumentaria em agosto e no resto do ano, o que arrisca um avanço inflacionário da cotação do petróleo. Perguntado se eles poderiam aumentar a produção sem os Emirados Árabes Unidos a bordo, o príncipe Abdulaziz respondeu: “Não podemos”.
A Opep+ deve realizar nova reunião virtual nesta segunda-feira às 15h, horário de Viena, embora o príncipe Abdulaziz tenha sugerido que não é algo 100% garantido. Ele não comentou sobre as chances de um acordo, dizendo que trabalharia muito para chegar a um consenso. “Amanhã é outro dia.”
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