Apoiadores do partido governista Libre fazem ato em Tegucigalpa, em 10 de dezembro (Orlando Sierra/AFP)
Repórter
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 14h20.
As eleições de Honduras, realizadas no dia 30 de novembro, continuam sem um resultado definido. Após apuração de mais de 99% dos votos, os dois primeiros colocados seguem em uma disputa acirrada.
As autoridades eleitorais no país se recusaram a validar os resultados preliminares e conduzirão uma recontagem de votos.
Segundo as autoridades, cerca de 14,5% das folhas de contagem, que representam milhares de votos, apresentaram “inconsistências” e serão revisadas. O país estabeleceu o prazo para fornecer o resultado oficial para 30 de dezembro, um mês após a data das eleições.
O direitista Nasry Asfura, apoiado pelo presidente americano Donald Trump, lidera por pouco a disputa contra o oponente de centro-direita Salvador Nasralla por 40,52% a 39,48%.
O republicano disse que sua administração apenas apoiaria o novo governo hondurenho se Asfura ganhasse.
Além disso, na véspera das votações, Trump perdoou formalmente o ex-presidente hondurenho e aliado de Asfura, Juan Orlando Hernández, condenado a 45 anos de prisão por tráfico de drogas e detido nos EUA desde 2024.
A influência do presidente americano nas eleições foi alvo de fortes críticas e controvérsias. A presidente incumbente Xiomara Castro cita um “golpe eleitoral” e alega que o processo foi marcado por “interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.”
A presidente de Honduras condena a pressão aplicada pelo republicano: “Quando ele ameaçou o povo hondurenho dizendo que, se votassem em uma candidata corajosa e patriota do Partido LIBRE, Rixi Moncada, haveria consequências”.
Moncada, candidata do partido Libre, obteve menos de 20% dos votos, sem chance de vitória.
“O povo hondurenho nunca deve aceitar eleições marcadas por interferências, manipulações e chantagens... A soberania não é negociável, a democracia não é renunciada", disse a presidente.
“Essas ações constituem um golpe eleitoral contínuo que denunciaremos perante as Nações Unidas, a União Europeia, a Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], a OEA [Organização dos Estados Americanos] e outros organismos internacionais.”
Em resposta, a Organização dos Estados Americanos demandou uma recontagem dos votos e transparência no processo. O órgão eleitoral da organização disse:
“É essencial que o CNE [autoridade eleitoral de Honduras] possa realizar seu trabalho sem pressões. A missão da OEA rejeita qualquer apelo à perturbação da ordem pública que possa comprometer as etapas restantes do processo eleitoral".
Em meio ao caos político, a Comissão do Congresso do país disse em um comunicado: “Denunciamos a existência de um golpe eleitoral em curso. Condenamos veementemente a interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”.
O candidato do Partido Liberal, Salvador Nasralla, empatado com Asfura, também critica a mão do presidente americano nas eleições.
Nasralla diz que uma “fraude monumental” estaria acontecendo e demandou uma recontagem total “de folhas de contagem por folhas de contagem”.
Soldado nas instalações do Instituto Nacional de Formação Profissional (INFOP), onde estão sendo contados os votos das eleições gerais de Honduras, em Tegucigalpa, em 10 de dezembro de 2025. (Orlando Sierra/AFP)
Os militares hondurenhos garantirão a transferência de poder a quem vencer as eleições presidenciais, afirmou na quarta-feira (10) o chefe das Forças Armadas, Roosevelt Hernández.
As Forças Armadas têm forte influência na política do país centro-americano, onde já protagonizaram vários golpes de Estado. O mais recente foi em 2009 contra o presidente Manuel Zelaya, marido da atual presidente de esquerda, Xiomara Castro.
Hernández, próximo ao governo atual, acrescentou que a instituição militar aguarda a proclamação do vencedor para "garantir (...) a transferência da presidência da República".
O anúncio vem após centenas de manifestantes – vestidos de vermelho, a cor do partido incumbente Libre– irem às ruas da capital Tegucigalpa nessa quarta-feira, 10, para demandar uma recontagem total dos resultados.