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Francisco denuncia o sofrimento de crianças vítimas da máfia

"Nunca mais uma criança deve suportar tais sofrimentos", declarou o papa na prisão de Castrovillari, perto de Cassano allo Jonio, na Calábria

Papa Francisco: esta é sua quarta visita na Itália fora da diocese de Roma (Reuters)
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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2014 às 09h36.

O papa Francisco denunciou neste sábado, em sua primeira visita à Calábria (sul da Itália), o sofrimento das crianças vítimas da máfia, e enviou uma mensagem de solidariedade a mães e avós em uma prisão local.

"Nunca mais uma criança deve suportar tais sofrimentos", declarou o santo padre na prisão de Castrovillari, perto de Cassano allo Jonio, às duas avós do pequeno Nicola ("Coco") Campolongo, de três anos.

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Em janeiro passado, este menino foi vítima de um ajuste de contas que comoveu toda a Itália. Seu corpo foi encontrado junto ao de seu avô em um veículo carbonizado.

Além das crianças, jovens calabreses são recrutados para o tráfico de drogas e morrem também vítimas da violência da 'Ndrangheta, a máfia calabresa, ou terminam na prisão.

Durante uma cerimônia cercada de emoção, diante de 200 homens e mulheres detidos, alguns chorando e a quem o Papa saudou um a um, Francisco acrescentou: "Eu também cometo erros e devo cumprir penitência".

"Quero expressar a proximidade do Papa e da Igreja para com todo homem ou mulher que se encontra na prisão, em todas as partes do mundo", acrescentou o pontífice, que, em Buenos aires, visitava frequentemente as prisões e lavou os pés de jovens detidos em Roma durante a Quinta-feira Santa, pouco depois de sua eleição em 2013.

Francisco centrou sua mensagem na plena reinserção na sociedade, para que a detenção não seja apenas "um instrumento de punição e represália social" que acabaria sendo uma perda de tempo para o detido e para a sociedade.

Por isso, o bispo de Roma convidou os prisioneiros a "se encontrarem com Deus na prisão". "Deus é um mestre da reinserção, que nos pega pela mão e nos acompanha novamente na comunidade social", disse encorajando-os.

O papa argentino realizou em Cassano, localidade pobre perto do Mar Jônico, uma visita com um tom muito social. A máfia prosperou se aproveitando do fracasso dos investimentos da economia legal em uma região na qual o desemprego dos jovens com menos de 25 anos alcançou 56,1%, recorde da Itália em 2013, segundo a agência Eurostat.

Uma multidão acolheu Jorge Bergoglio, de 77 anos, em sua chegada a uma residência para doentes terminais. Depois se reuniu com os bispos da região na catedral.

Francisco pediu aos bispos que não sejam apenas empregados da Igreja, mas "canais abertos e generosos para com seus fiéis".

Esta visita de nove horas à região meridional mais pobre da Itália, depois de Campania, terminará com uma grande missa na qual são esperadas 100.000 pessoas.

Esta é sua quarta visita na Itália fora da diocese de Roma. No ano passado, este Papa muito popular na península viajou a Cagliari (Sardenha), onde denunciou o desemprego dos jovens, a Assis (Umbria), onde celebrou São Francisco, e à ilha de Lampedusa (sul), onde criticou a "globalização da indiferença" e defendeu os direitos dos imigrantes que desembarcam na Europa.

A máfia calabresa, ou N'drangheta, que trafica com parte da cocaína da América do Sul, é hoje a mais rica e a mais diversificada das máfias, com interesses no norte da Itália e na Europa.

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