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FMI alerta para riscos à estabilidade global

Relatório anual da entidade critica o sistema financeiro e lista medidas brasileiras para conter aumento da moeda

Para o FMI a crise mundial tem um custo de US$ 2,2 trilhões (AFP/Mandel Ngan)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Os riscos à estabilidade financeira global continuam elevados, alerta o Fundo Monetário INternacional (FMI) em relatório divulgado hoje. De acordo com o FMI, o setor bancário continua fraco, o crescimento mundial está lento e os déficits fiscais estão elevados em muitos países.

O relatório anual do FMI, cujos encontros ocorrem esta semana em Washington, ressalta ainda que as autoridades monetárias das economias avançadas terão de confrontar as interações criadas pela expansão lenta, dívidas soberanas e instituições financeiras ainda frágeis.

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"A turbulência financeira que envolveu partes da zona do euro em abril e maio serviu como lembrete da ligação estreita entre risco soberano e o sistema financeiro", diz o "Global Financial Stability Report", ressaltando que, ainda que o custo estimado da crise no setor bancário de 2007 a 2010 tenha sido reduzido de US$ 2,3 trilhões para US$ 2,2 trilhões, houve um retrocesso em direção à estabilidade financeira global desde abril, quando veio à tona a crise da dívida soberana em vários países europeus como a Grécia.

O relatório diz ainda que, diante de um cenário de incertezas, medidas de apoio ao setor bancário poderão ser mantidas por mais tempo do que o imaginado. "Estratégias de saída de políticas monetárias e financeiras não convencionais podem ter de ser adiadas até que a situação fique mais robusta", diz o FMI.

Mercado imobiliário

O relatório afirma que a recuperação do mercado imobiliário dos Estados Unidos continua frágil e uma piora na economia norte-americana ou do setor financeiro deverá levar o segmento de imóveis do país direto para um duplo mergulho na recessão. Isso aumenta o desafio para o setor bancário, uma vez que mais recessão no setor de imóveis exporia mais vulnerabilidade dos bancos dos EUA, avalia o FMI.

Segundo o documento, as estimativas para preços no mercado imobiliário dos EUA ainda estão cobertas de incertezas. Os preços dos imóveis residenciais no país caíram mais de 30% de 2006 a 2009, enquanto o valor dos imóveis comerciais despencou mais de 40% desde o início de 2007.

"As perspectivas continuam fracas", diz o FMI, citando a última pesquisa para preços de residências, que mostrava estimativa de queda de 1,7% este ano e de 1,8% de 2011 a 2012. "Ainda que gerenciável no que se refere à perspectiva de estabilidade financeira, um duplo mergulho teria impactos de longa duração na recuperação econômica", diz o relatório.

"No curto prazo, a maioria dos bancos parece em condições de absorver uma maior deterioração do mercado imobiliário, parcialmente devido à forte capitalização do setor", observa o FMI.

No entanto, o texto alerta que, a menos que os preços se recuperem nos próximos trimestres, os esforços dos bancos podem ser insuficientes para impedir mais execuções de hipotecas, aumentando os já enormes inventários "sombras" de propriedades à venda no mercado, com implicações negativas à habilidade dos bancos de manter crescimento.


Emergentes

Para o FMI, países emergentes na Ásia e na América Latina, onde o crescimento tem se mantido robusto, continuam a experimentar um aumento dos riscos do forte fluxo de capital. Segundo o relatório, as incertezas das economias avançadas têm favorecido uma mudança de carteiras de investimentos para emergentes como China e Brasil. "Dados sobre fluxo de investimentos sugerem que os mercados emergentes tendem a sofrer com efeito manada", diz o relatório.

De acordo com o documento, essa tendência de mudança de carteiras de economias avançadas para emergentes deve continuar, especialmente tendo em vista a situação dos ratings nos dois grupos.

Enquanto as economias avançadas tiveram 25 rebaixamentos de rating soberano desde o início de 2008, os emergentes tiveram 21 elevações de rating soberano somente em 2010, sobretudo na América Latina. Segundo o documento, no entanto, medidas adotadas para conter o fluxo de capital externo podem acabar pressionando os preços.

Apreciação do real

Ao analisar o forte fluxo de capital estrangeiro nos países emergentes, especialmente na Ásia e América Latina, o FMI dedica um espaço para explicar como o Brasil tem lidado com o forte fluxo de capital externo. O encontro anual do FMI, do qual participam o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ocorre nos dias 8, 9 e 10 deste mês, em Washington.

"O Brasil tem adotado medidas para limitar a apreciação do real" afirma o texto. "No entanto, essas medidas não parecem ter reduzido o fluxo de capital para o Brasil", ressalta o FMI, referindo-se à adoção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% no ano passado. O texto não capturou o aumento da alíquota para 4% para os investimentos estrangeiros em renda fixa anunciado ontem e que entrou em vigor hoje.

"O fluxo no mercado de ações, que tinha atingido um ritmo recorde de março a outubro de 2009, e para o qual os efeitos do IOF teriam sido significativos, diminuiu depois de outubro. No entanto, de modo surpreendente, o fluxo para o títulos domésticos, onde o impacto do IOF também deveria ser grande, continuou robusto depois da adoção do IOF", ressalta.

Segundo o texto, após a adoção do IOF, em outubro de 2009, o acúmulo de reservas internacionais continuou, mas num ritmo reduzido a cerca de US$ 100 milhões por dia, comparado com os mais de US$ 200 milhões por dia registrados nos sete meses anteriores à adoção do imposto.

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