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Fim de jornal venezuelano reafirma cerco global à imprensa

Diário El Nacional deixa de circular por falta de acesso a papel jornal. Em países como Estados Unidos e Brasil também há riscos

Nicolás Maduro: governo da Venezuela boicota imprensa nacional (Manaure Quintero/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2018 às 07h27.

Última atualização em 14 de dezembro de 2018 às 07h31.

A imprensa livre perde, nesta sexta-feira, uma nova batalha na luta contra o autoritarismo. O diário venezuelano El Nacional, último periódico crítico ao governo de Nicolás Maduro , publica hoje sua última edição impressa e passa a distribuir seu conteúdo apenas na versão online. A causa não é a falta de leitores, mas a dificuldade de acesso ao papel jornal, controlado pelo governo.

A redação do diário está cheia de lugares vazios em virtude das dificuldades econômicas causadas pela inflação galopante. Todos os jornalistas do El Nacional ganham o salário mínimo, suficiente para comprar apenas 8% da cesta básica mensal. Jornalistas relatam que ameaças e agressões de mílicias chavistas são comuns e têm se intensificado ao longo dos últimos 15 anos. O governo também fez pressão para que anunciantes privados boicotem jornais e boa parte dos veículos tradicionais de rádio, jornal e televisão foram vendidos a empresários alinhados com o governo.

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Em visita à Venezuela em 2017, EXAME relatou a penúria do jornalismo independente no país. À época, a tiragem impressa do El Nacional estava reduzida a 10.000 exemplares, possível graças à doação de papel por diários de toda a região, incluindo o Brasil. O trabalho de fiscalizar o governo foi, pouco a pouco migrando para blogs e sites que enviam as mensagens diretamente aos celulares da população. Um dos precursores estão o site Armando.info, o El Estímuilo e o Reporte Ya, criado em 2010 com recursos da Fundação Miguel Otero Silva, fundador do El Nacional e pai de seu atual diretor, Mighel Henrique Otero, que vive exilado na Espanha.

Esses veículos realizaram oficinas de formação de milhares de jornalistas indepentes pelo país, para tentar acesso primário a notícias numa sociedade cada vez mais controlada. A situação na Venezuela é exemplar para um momento crítico para jornalistas mundo afora.

Segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira pela organização internacional de defesa da liberdade de imprensa, no ano de 2018 pelo menos 250 jornalistas foram presos por exercer sua atividade. Os dados da ONG também mostram que o número de jornalistas presos por “notícias falsas” também aumentou. Este ano, são 28 prisões sob esta alegação, em 2016, foram nove.

Na terça-feira a revista americana Time escolheu jornalistas perseguidos e atacados em sua luta pela verdade como a Pessoa do Ano. Entre eles estão o saudita Jamal Khashoggi, crítico do governo saudita, assassinado há dois meses em Istambul. A jornalista brasileira Patricia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo, que sofreu ameaças após publicar reportagens sobre o financiamento da campanha de Jair Bolsonaro, foi citada pela Time.

O presidente americano Donald Trump e o futuro presidente brasileiro costumam criticar o trabalho da imprensa como “fake news”. Da Venezuela à Arábia, passando pelo Brasil, a importância (e o risco) do trabalho jornalístico nunca estiveram tão em voga.

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