Fernández vai a Israel e Cristina assume presidência argentina
O presidente irá visitar o museu do holocausto em Jerusalém e relembrar o atentado contra uma comunidade judaica argentina que matou 85 pessoas em 1994
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2020 às 05h43.
Última atualização em 22 de janeiro de 2020 às 06h29.
São Paulo — Pouco mais de um mês após ter assumido a presidência da Argentina , o peronista Alberto Fernández escolheu Israel como destino de sua primeira viagem internacional à frente do governo.
Além de encontros bilaterais, na agenda do presidente, que chega ao país nesta quarta-feira e deve retornar a Buenos Aires no sábado, está a participação no Fórum Internacional sobre Antissemitismo, ocasião que deve desenterrar um controverso atentado contra uma comunidade judaica argentina que até hoje é visto como uma mancha obscura na história recente do país.
O primeiro compromisso de Fernández em solo israelense será ainda nesta quarta-feira, um jantar oferecido pela comunidade judaica a líderes de diversos países, entre eles Vladimir Putin,da Rússia, e Emmanuel Macron, da França. O presidente argentino também deve ter um encontro bilateral com seu par local, Reuven Rivlin, e, na quinta-feira, visitar o museu do holocausto de Jerusalém.
Além de desenterrar um labirinto de narrativas, o local escolhido para a primeira viagem internacional do novo presidente endossa a tentativa de afastar a imagem de Fernández de sua vice, Cristina Kirchner.
A visita a Israel ocorre poucos dias após o 5° aniversário da morte do procurador Alberto Nisman, encontrado em seu apartamento com um tiro na cabeça no dia 18 de janeiro de 2015, às vésperas de apresentar uma denúncia contra a então presidente Kirchner ao Congresso argentino.
Para a comunidade judaica da Argentina, Nisman é considerado a vítima número 86 do atentado à organização beneficente Amia, que teve sua sede destruída por um bomba em 1994, matando 85 judeus. O atentado atribuído a autoridades do Irã até hoje é um assunto não resolvido na Argentina.
Após assumir as investigações do caso, Nisman apontou que, em 2012, o governo de Kirchner teria negociado um acordo com Teerã para acobertar autoridades iranianas de alto escalão suspendendo alertas vermelhos da Interpol. Em troca, a Argentina seria favorecida com acordos comerciais e com petróleo iraniano.
Antes de apresentar o resultado de suas investigações ao Congresso, em 2015, Nisman foi encontrado morto. Até hoje, nem a morte do procurador nem o atentado à Amia foram de fato esclarecidos.
Ao participar do fórum sobre antissemitismo e visitar o museu do holocausto em Israel, Fernández inevitavelmente reavivará uma parte sombria e não explicada da história recente argentina. Em contrapartida, devolve ao poder, de forma interina, sua vice-presidente — fato que tem sido motivo de excitação entre os kirchneristas nos últimos dias.