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Falta de cooperação no comércio global agravará a crise de saúde pública

Por coronavírus, demanda por suprimentos médico-hospitalares está maior que a produção doméstica e isso vai exigir cooperação no âmbito do comércio global

Demanda por suprimentos médico-hospitalares está muito maior que a produção doméstica, e esse é um desafio imediato para as indústrias nacionais, escreve Renata Amaral (Stefan Jeremiah/Reuters)

Gabriela Ruic

Publicado em 29 de março de 2020 às 13h01.

Líderes das principais economias do planeta reuniram-se nesta semana virtualmente para discutir soluções e coordenar ações para os problemas decorrentes da pandemia de coronavírus . Trump e Bolsonaro, duas das vozes mais controversas na atual crise mundial, participaram do encontro.

O documento conjunto informa que os países estão adotando medidas imediatas e vigorosas para apoiar suas economias, proteger empregos e negócios, bem como proteger os mais vulneráveis por meio de proteção social. Para tanto, os líderes informaram que injetarão mais de US$ 5 trilhões na economia global.

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A declaração dos chefes das principais economias do globo vem em boa hora, mas não resolverá os problemas. Provavelmente, essa é a maior crise da nossa geração, e ela demanda ações rápidas e coordenadas.

Enquanto escrevo, já passamos de 21.000 mortos no mundo todo, e mais de 400.000 pessoas infectadas. Provavelmente estes números estão multiplicados em poucas horas. Mais do que uma crise econômica, é uma crise humanitária como jamais presenciamos e que nos coloca, a todos, no mesmo barco.

Durante esta semana, o Diretor-Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) também presente na reunião do G-20, Roberto Azevêdo, informou que os economistas da OMC previram "uma queda acentuada no comércio" em razão da crise, mas que  a cooperação, inclusive no comércio internacional, ajudaria a garantir que a crise econômica causada pela pandemia "seja curta e seguida por uma recuperação rápida, inclusiva e sustentável".

No caminho contrário da cooperação, números indicam que as restrições as exportações proliferaram significativamente nas últimas semanas, sobretudo com relação a suprimentos médico-hospitalares. De acordo com dados do Global Trade Alert, restrições às exportações de suprimentos médicos foram impostas por 57 países, sendo que das 63 restrições mapeadas, 48 foram impostas no começo de março, e 8 delas impostas nas últimas quarenta e oito horas.

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De acordo com os dados, em geral a demanda por suprimentos médico-hospitalares está muito maior que a produção doméstica, e esse é um desafio imediato para as indústrias nacionais. Tão preocupante quanto, as restrições às exportações dos países estão se expandindo exponencialmente para o setor de alimentos.

A falta de cooperação no comércio internacional pode agravar a crise de saúde pública e econômica de forma gravíssima nos próximos meses. Ainda bem, há também notícias positivas. Com exemplo foi que na última quarta-feira (25 de março) a Comissão Econômica da Eurásia (CEE), atuando como reguladora supranacional da União Econômica da Eurásia, anunciou que reduzirá tarifas de importação para zero para certos alimentos, mercadorias para crianças e medicamentos até o final desta semana.

No mesmo sentido, também ontem no Brasil, o Ministério da Economia zerou as tarifas de importação de mais 61 produtos farmacêuticos e médico-hospitalares utilizados no combate à Covid-19. Foi também foi decidida a suspensão temporária, por razões de interesse público, dos direitos antidumping aplicados às importações brasileiras de seringas descartáveis e de tubos de plástico para coleta de sangue.

Essa decisão ampliou a decisão do último dia 17 de março de 2020, que já havia zerado a alíquota de importação de 50 produtos, incluindo itens como luvas médico-hospitalares, álcool em gel, máscaras, termômetros clínicos, roupas de proteção contra agentes infectantes, óculos de segurança e equipamentos respiradores, dentre outros.

Difícil calibrar saúde pública e decisões econômicas neste momento. Mas as decisões que governos e cidadãos fizerem neste momento provavelmente darão tom do mundo em que viveremos daqui para frente. Os sistemas da saúde, a economia, a política, os hábitos e a cultura dos povos mudarão. E talvez isso não seja tão ruim.

Não há soluções mágicas para os graves problemas na saúde e na economia das centenas de países afetados pelo COVID-19, mas a verdade é que a falta de cooperação internacional e uma epidemia descontrolada sem observar os incansáveis apelos diários da Organização Mundial da Saúde resultará em uma quantidade de mortos sem precedentes.

Por fim, no balanço do que é mais importante agora, vale lembrar que o resultado de um mundo descoordenado e sistemas de saúde congestionados custará a vida de milhões de avós, avôs, pais, mães, filhos e filhas. Melhor estarmos vivos para recuperar do estrago depois.

*Renata Amaral é doutora em Direito do Comércio Internacional, professora Adjunta na American University, em Washington DC e fundadora da rede Women Inside Trade

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