Europa escolhe presidente de um parlamento fragmentado
Nova composição do parlamento tomou posse ontem com protesto de catalães e britânicos pró-Brexit
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2019 às 05h42.
Última atualização em 3 de julho de 2019 às 06h36.
O futuro da União Europeia está sendo redesenhado. Os eurodeputados eleitos em maio deste ano escolhem nesta quarta-feira, 3, o presidente e o vice-presidente do Parlamento Europeu, finalizando um ciclo de renovação de lideranças no bloco. Nas últimas semanas, desde a eleição, os parlamentares de cada um dos 28 países se dividiram em grupos supra-nacionais, formados por no mínimo 25 deputados de, pelo menos, sete países membros, para somar suas forças políticas.
Ontem, os 751 congressistas eleitos tomaram posse na sessão inaugural do novo Parlamento em Estrasburgo, na França, em meio a protestos de catalães e britânicos. Os 29 britânicos do partido do Brexit ficaram de costas durante o hino europeu, deixando claro que querem deixar a União Europeia o quanto antes — embora não saibam como.
Do lado de fora do parlamento, cerca de 10 mil manifestantes acenavam bandeiras catalães em apoio aos três separatistas da região espanhola impedidos de tomar posse depois de não comparecerem para prestar o juramento em Madri. Dois dos deputados envolvidos estão exilados em outros países, sob a perspectiva de serem presos caso voltem à sua terra natal. Um deles é Carles Puigdemont, líder da tentativa de proclamar a independência catalã em 2017.
Com essa fragmentação do parlamento e as grandes desavenças dos grupos eleitos, principalmente em relação a temas como imigração e mudanças climáticas, a escolha do novo presidente da Casa é difícil. Além disso, os deputados terão que aprovar o nome escolhido para presidir a Comissão Europeia: a política alemã Ursula von der Leyen, vice-presidente da União Democrata Cristã (CDU). Para ser confirmada como a primeira mulher a ocupar o cargo, ela precisará do apoio de, no mínimo, 72% dos 28 países-membros, com ao menos 65% da população da União Europeia representada.
Ursula foi selecionada pelo Conselho Europeu, composto pelos 28 chefes de estado que compõem a União, depois de três dias de discussão. Antes da reunião, havia um acordo estabelecido às margens da cúpula do G20 , em Osaka, no Japão, entre Macron; a chanceler da Alemanha, Angela Merkel; o presidente espanhol, Pedro Sanchéz; e o líder holandês, Mark Rutte. Eles concordaram em distribuir os principais cargos da União Europeia para os três grupos políticos mais votados, e a presidência da Comissão ficaria com o socialista Frans Timmermans, diplomata holandês, primeiro vice-presidente da organização e chefe das investigações sobre os atuais governos da Hungria e Polônia, acusados de violarem os princípios europeus.
O acordo desagradou particularmente os representantes da Hungria, Polônia, República Checa e Eslováquia, além do governo de direita italiano.
Além de Úrsula, Macron conseguiu colocar a francesa Christine Lagarde, atual diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), na Presidência do Banco Central Europeu. Os espanhóis emplacaram seu chanceler, Josep Borrell, como novo alto representante da diplomacia europeia, sucedendo a italiana Federica Mogherini. Por fim, o novo presidente do Conselho Europeu será o primeiro-ministro da Bélgica, Charles Michel.
No caso da presidência do Parlamento Europeu, ainda que os deputados escolham um nome dentro do prazo estipulado, a tarefa de conduzir a Casa pelos próximos anos será complexa. Há novas forças políticas disputando a tradição hegemônica de poder e, cada dia mais, crescem os movimentos anti-europeus dentro do bloco (a começar pelo Brexit, previsto para outubro). A escolha do líder indicará qual o caminho os europeus escolhem seguir para o futuro.