Partidários da independência da Escócia: votação será no dia 18 de setembro (Andy Buchanan/AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de setembro de 2014 às 18h25.
Paris - Os parceiros internacionais da Grã-Bretanha estão aturdidos diante da possibilidade de que uma das maiores potências ocidentais possa se dividir e mergulhar no ostracismo se a Escócia votar pela independência no referendo da semana que vem.
Muitos temem que a secessão seja o prenúncio da saída britânica da União Europeia, sobre a qual o primeiro-ministro, David Cameron, prometeu um referendo em 2017, enfraquecendo a sexta maior economia do mundo e seus parceiros continentais.
Outros ainda temem que se estabeleça um precedente, estimulando o separatismo na Catalúnia espanhola e em outras partes da Europa. Ativistas de independência de todo o continente sublinharam a preocupação se dirigindo a Edinburgo para apoiar a campanha do ‘sim’ e extrair lições para suas próprias causas.
Alguns posaram para fotos com o líder nacionalista escocês Alex Salmond, que se empenha em transformar a vantagem estreita de seu campo nas pesquisas de opinião em uma vitória no dia 18 de setembro.
A ideia não está sendo bem vista nas principais capitais do globo.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi direto ao exortar os britânicos a se manterem unidos e dentro da União Europeia.
“Obviamente temos um grande interesse em garantir que um de nossos aliados mais próximos continue sendo um parceiro forte, robusto, unido e eficaz”, declarou Obama em uma visita à Europa ainda em junho.
Em particular, autoridades norte-americanas e europeias se dizem preocupadas que uma Grã-Bretanha amputada em um terço de seu território e oito por cento de sua população se torne mais ensimesmada e menos disposta a se envolver em coalizões militares no exterior.
Enquanto a França se comprometeu a se unir a Obama nos ataques aéreos ao Estado Islâmico no Iraque, Cameron pediu tempo e evitou um comprometimento claro até o momento.
Reação Europeia
Seus parceiros europeus têm tentado apoiar Cameron discretamente na questão da Escócia, ressaltando o quanto valorizam a presença britânica na UE.
“Uma saída escocesa da união (com Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte) certamente aqueceria o debate sobre um referendo precoce (sobre a saída da UE)", disse Phillip Missfelder, porta-voz das Relações Exteriores dos conservadores da chanceler alemã, Angela Merkel, no parlamento alemão.
Na altamente centralizada França, é o precedente do separatismo que causa verdadeira angústia nos políticos.
“A ideia de que isso possa ocorrer na Europa em regiões como a Escócia demonstra que as fronteiras estão se esfacelando, e isso é preocupante”, afirmou a socialista Patricia Adam, que preside o comitê de Defesa da legislatura.
O chefe da Comissão Europeia, Jose Manuel Durão Barroso, enfureceu os nacionalistas em fevereiro ao declarar que uma Escócia secessionista teria que pedir para ser aceita novamente na UE e que descobriria ser “extremamente difícil, senão impossível” conquistar uma aprovação unânime.
O professor de direito internacional Nicolas Levrat, do Instituto de Estudos Globais da Universidade de Genebra, disse que a Escócia poderia dar início a uma série de novos Estados que forçariam a UE a mudar a maneira como é governada.
O premiê espanhol, Mariano Rajoy, tem mantido silêncio sobre o tema, mas o chefe do governo catalão, Artur Mas, declarou que um ‘sim’ escocês seria positivo para o movimento independentista.
A Irlanda está preocupada com o impacto da separação escocesa na Irlanda do Norte, parte da Grã-Bretanha e dividida entre protestantes, cuja maioria apoia a união britânica, e católicos, que tendem a favorecer uma união com a vizinha Irlanda.
O apoio à independência é muito mais limitado em outras partes da Europa como Flanders, na Bélgica, ou a porção do norte da Itália que os separatistas chamam de Padania.