EUA planeja triplicar sua capacidade nuclear até 2050, impulsionando uma expansão significativa de reatores e modernizações para atender à crescente demanda por energia limpa. (Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 13 de novembro de 2024 às 08h05.
O governo do presidente Joe Biden lançou uma ambiciosa estratégia para triplicar a capacidade nuclear dos Estados Unidos até 2050, em resposta à crescente demanda por fontes de energia contínuas e livres de carbono. A proposta visa aumentar a capacidade nuclear do país para 200 gigawatts ao longo das próximas três décadas, por meio da construção de novos reatores, reinício de plantas inativas e aprimoramentos em instalações existentes. Em um prazo mais curto, a Casa Branca planeja operar 35 gigawatts de capacidade nuclear adicional nos próximos dez anos.
“Nos últimos quatro anos, os Estados Unidos fortaleceram a capacidade industrial e a memória muscular para viabilizar esse plano,” declarou Ali Zaidi, conselheiro climático da Casa Branca, em entrevista para a Bloomberg. Segundo Zaidi, a administração Biden está eliminando barreiras históricas que impediam o avanço do setor nuclear, incluindo a escassez de mão de obra qualificada, o fornecimento doméstico de combustível e a infraestrutura regulatória. “Removemos diversos obstáculos que impediam um crescimento significativo dessa fonte de eletricidade livre de carbono,” afirmou em entrevista.
Esse planejamento possui potencial para manter o apoio durante o governo do presidente eleito Donald Trump, que defendeu a construção de novos reatores nucleares durante sua campanha como uma solução para abastecer setores de alta demanda energética, como data centers e fábricas. No Congresso, a revitalização da indústria nuclear desfruta de apoio bipartidário, culminando na promulgação de uma lei em julho que fornece à Comissão Reguladora Nuclear dos EUA (NRC) ferramentas para regulamentar reatores avançados, licenciar novos combustíveis e avaliar inovações que prometem construir reatores de forma mais rápida e econômica.
A demanda por energia nuclear nos Estados Unidos está crescendo com a busca global por fontes de baixa emissão e com o aumento no consumo de eletricidade, impulsionado por indústrias como o processamento de dados para inteligência artificial. Grandes empresas de tecnologia estão se voltando para a energia nuclear: em setembro, a Microsoft firmou um acordo para adquirir eletricidade da reativada usina nuclear de Three Mile Island, na Pensilvânia. Gigantes como Google, Amazon e o investidor Ken Griffin também demonstraram interesse em projetos nucleares, reconhecendo o valor da energia nuclear como uma fonte estável e sem emissões de carbono.
A iniciativa dos EUA ocorre paralelamente à COP29, em Azerbaijão, onde líderes mundiais estão discutindo metas mais ambiciosas para a redução de carbono. Na conferência do ano anterior, o país assinou um compromisso com outras nações para triplicar a capacidade nuclear até 2050, demonstrando a importância do papel da energia nuclear na transição energética global.
A Agência Internacional de Energia (IEA) apontou que, enquanto tecnologias como solar e eólica cresceram desde 2010, a capacidade nuclear permaneceu estável, em parte devido ao impacto do acidente de Fukushima em 2011. Porém, o interesse renovado por fontes confiáveis e de baixa emissão está levando governos a reavaliar a utilização da energia nuclear.
Para concretizar esse objetivo, o plano da administração Biden inclui incentivos para desenvolvedores de tecnologia nuclear, com destaque para o estabelecimento de encomendas de múltiplos modelos de reatores que, por sua vez, estimularão investimentos na cadeia de suprimentos de combustível e componentes nucleares. O documento de 36 páginas delineia medidas para restaurar a posição dos EUA como líder em tecnologia nuclear, e destaca a importância da competição dos países aliados para fornecer energia nuclear segura ao mundo.
Entre as recomendações principais, o plano propõe a aceleração das licenças federais para grandes reatores e garantias de apoio fiscal de longo prazo, além da adição de novos reatores em usinas existentes. O uso de micro-reatores para instalações do Departamento de Defesa também está em consideração.
Ao estabelecer essas metas, os EUA pretendem não apenas responder à crescente demanda interna por energia limpa, mas também fornecer um exemplo de liderança global no desenvolvimento de tecnologias nucleares seguras e inovadoras.