Mundo

EUA classifica cartel colombiano 'Clã do Golfo' como terrorista

Decisão ocorre após o governo Trump declarar o fentanil uma 'arma de destruição em massa'

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 18h23.

Tudo sobreEstados Unidos (EUA)
Saiba mais

O Departamento de Estado dos Estados Unidos declarou que o Clã do Golfo, uma organização criminosa colombiana envolvida na produção e tráfico de drogas, foi agora classificado como uma organização terrorista.

A decisão foi anunciada poucas horas depois de o governo americano ter designado o fentanil, substância que está no centro de uma grave crise de saúde pública no país, como uma "arma de destruição em massa". Essas medidas refletem a abordagem cada vez mais militarizada adotada pelos Estados Unidos no enfrentamento ao narcotráfico, alinhando-se a estratégias e discursos que já são bem conhecidos no cenário internacional.

Em um comunicado assinado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, o Clã do Golfo foi descrito como uma “organização criminosa violenta e poderosa, com milhares de membros”, cuja principal fonte de renda é o tráfico de cocaína. O Departamento de Estado ainda acusou o cartel, que teve origem no início do século, de ser responsável por “ataques terroristas contra funcionários públicos, agentes da lei, militares e civis na Colômbia”.

Perseguição a grupos do narcotráfico

Desde o começo deste ano, vários grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas e à exportação de substâncias proibidas para os Estados Unidos foram incluídos na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado. A maioria desses grupos está localizada no México, mas também há inclusões na Venezuela, Haiti, nos próprios EUA e na Colômbia. O tom adotado por Washington indica que outras organizações podem ser adicionadas à lista em breve.

“Os Estados Unidos continuarão a usar todas as ferramentas disponíveis para proteger nossa nação e deter as campanhas de violência e terror cometidas por cartéis internacionais e organizações criminosas transnacionais”, diz o comunicado do Departamento de Estado. “Estamos empenhados em negar financiamento e recursos a esses terroristas.”

Após as primeiras designações, governos da região, começando pelo México, alertaram que essa medida poderia ser usada para justificar possíveis ações militares americanas em seus territórios, sob o pretexto de combater os “narcoterroristas”. Em fevereiro, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, afirmou que os EUA não deveriam usar a luta contra o tráfico de drogas “como uma oportunidade para invadir nossa soberania”.

Desde meados de agosto, os Estados Unidos mantêm a maior presença militar na América Latina em décadas, com o objetivo declarado de combater os cartéis. A força militar americana inclui 15 mil soldados, aeronaves de combate e o maior porta-aviões da Marinha, o USS Gerald Ford. Nos meses seguintes, 25 embarcações suspeitas de estarem ligadas ao narcotráfico foram bombardeadas, resultando em 95 mortos. O último ataque ocorreu na segunda-feira, quando três barcos foram atingidos pelos EUA na costa do Pacífico, com oito mortes confirmadas.

Até o momento, não foram apresentadas evidências concretas de que os barcos bombardeados estivessem de fato envolvidos com o narcotráfico, e o governo Trump enfrentou um grande escândalo quando a imprensa local revelou uma alegada ordem do secretário de Defesa, Pete Hegseth, para "não deixar sobreviventes" nos ataques a embarcações.

Além disso, governos regionais começaram a ser alvo de ameaças. Na Venezuela, onde o presidente Nicolás Maduro é acusado de liderar uma das organizações listadas pelo Departamento de Estado, o Cartel de los Soles, os Estados Unidos intensificaram os voos de reconhecimento perto da costa e realizaram manobras militares em Trinidad e Tobago, a apenas 11 km de distância do território venezuelano.

Trump também autorizou operações sigilosas de inteligência em solo venezuelano e, em diversas ocasiões, sugeriu que operações terrestres poderiam ser lançadas "muito em breve". Em Caracas, o governo interpretou a mobilização como um sinal de preparação para uma invasão com o objetivo de derrubar o regime, o que levou a um fortalecimento das defesas militares e ao aumento da propaganda antiamericana. No início deste mês, o presidente dos EUA afirmou que qualquer país produtor de drogas poderia ser alvo de ataques, mencionando especificamente a Colômbia, cujas críticas de seu presidente, Gustavo Petro, à Casa Branca resultaram em sanções.

A versão de 2025 da “Guerra às Drogas” dos Estados Unidos trouxe de volta termos que são tradicionalmente associados a intervenções militares americanas no exterior, geralmente com memórias nada positivas.

'Arma de destruição em massa'

Na segunda-feira, Trump classificou o fentanil, uma droga sintética extremamente potente, como uma "arma de destruição em massa", colocando-a no mesmo nível de armas nucleares, químicas ou biológicas, além de artefatos usados em atentados. O fentanil é responsável por uma grave crise de saúde pública nos Estados Unidos, tendo causado 48 mil mortes por overdose em 2024 e 76 mil em 2023. Durante sua campanha à presidência em 2024, o combate ao fentanil foi um dos temas centrais do discurso de Trump.

Após retornar ao poder, Trump incluiu cartéis na lista de organizações terroristas e impôs tarifas à China, principal fonte dos produtos usados na fabricação da droga, ao México, maior origem do fentanil, e ao Canadá, que representa menos de 1% das apreensões feitas pelas autoridades americanas. Embora as organizações criminosas na América do Sul se concentrem principalmente na produção de cocaína, a produção de fentanil na América Central tem crescido.

Tal como as designações de cartéis, a inclusão do fentanil na categoria de "arma de destruição em massa" acendeu diversos alertas. No passado, a alegação de que o ditador iraquiano Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa foi usada como justificativa para uma invasão em 2003, que, além de não encontrar tais armas, gerou um caos cujas consequências ainda reverberam no Oriente Médio. Da mesma forma, em 2003, o líder líbio Muammar Kadhafi concordou em eliminar seu programa de armas de destruição em massa em troca de melhores relações com o Ocidente, mas foi derrubado em 2011, com apoio da comunidade internacional, durante a Primavera Árabe.

Ao comentar sobre a decisão da Casa Branca de classificar o fentanil no mesmo nível de substâncias como o gás sarin ou urânio enriquecido, Claudia Sheinbaum voltou a reiterar a defesa da soberania mexicana.

"Somos contra qualquer intervenção, contra ela, em defesa do nosso território em qualquer lugar do mundo, mas especialmente no México. Soberania e territorialidade não estão em discussão sob nenhuma circunstância. Trata-se de colaboração e coordenação em diversas questões, mas nunca da violação da nossa soberania", disse a presidente do México, durante entrevista coletiva nesta terça-feira.

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)Donald TrumpTerrorismo

Mais de Mundo

Salário mínimo em Portugal é um dos menores da Europa; veja valores

Austrália paga um dos maiores salários mínimos do mundo; veja valor

Estados Unidos e Paraguai anunciam acordo para combater crime organizado

Acordo UE-Mercosul poderá ser 'congelado' após aprovação, diz site