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Esquerda francesa enfrenta impasse para nomear primeiro-ministro; entenda

Aliança de esquerda enfrenta dificuldades para escolher um primeiro-ministro, com vetos de Macron e Le Pen complicando o cenário político

França: Esquerda enfrenta impasse para nomear primeiro-ministro após vitória sem maioria; vetos de Macron e Le Pen complicam o cenário (François WALSCHAERTS/AFP)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 12 de julho de 2024 às 18h46.

A Nova Frente Popular (NFP) , aliança da esquerda francesa que conquistou o maior número de assentos nas eleições parlamentares, mas sem maioria absoluta, ainda não conseguiu chegar a um acordo sobre quem será seu candidato a primeiro-ministro. O grupo — que inclui ambientalistas, socialistas, comunistas e a esquerda radical — havia anunciado que apresentaria um nome até esta sexta-feira, mas voltou atrás, admitindo o impasse que mantém o país em um limbo político.

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"Prefiro não estabelecer um prazo", disse Manuel Bompard, coordenador do partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI, em francês), ao canal TF1, observando que "talvez seja necessário mais tempo".

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Segundo ele, as negociações podem se estender até 18 de julho, o dia da primeira sessão da Assembleia Nacional.

"Não é porque a questão do primeiro-ministro ainda não foi decidida que não houve progresso", disse a líder dos Verdes, Marine Tondelier. "É normal que leve um pouco de tempo".

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Nomes em jogo

Uma fonte dos socialistas disse que o LFI propôs quatro nomes, incluindo o ex-candidato à Presidência Jean-Luc Mélenchon, que já entrou em embates com o presidente Emmanuel Macron e provoca dúvidas entre as forças.

Os socialistas estão apostando no líder do partido, Olivier Faure, que, segundo eles, seria aceito como primeiro-ministro por uma ampla gama de parlamentares, da esquerda à centro-direita.

"Faure ou Mélenchon? Essa é a verdadeira questão", disse uma autoridade socialista sênior, falando sob condição de anonimato à AFP.

'Ninguém venceu as eleições'

Desde que o presidente Macron antecipou as eleições legislativas na esteira da vitória da extrema direita francesa na votação para o Parlamento Europeu, o país vive um cenário de indefinição política. Em mais de 300 distritos, a centro-direita macronista e a frente de esquerda se uniram para barrar a extrema direita, representada pelo partido da deputada Marine Le Pen, o Reagrupamento Nacional (RN), que aparecia em primeiro em quase todas as pesquisas de intenção de voto, com chances de obter a maioria absoluta.

Ao final, a Nova Frente Popular (NFP) conquistou 193 assentos; a centro-direita macronista 164; e a extrema direita, 143 — nenhum com a maioria absoluta de 289 deputados.

Nesta semana, Macron disse, em uma carta à nação, que "ninguém venceu as eleições", e pediu a formação de uma "ampla coalizão" no Parlamento que inclua o centro, a direita e a esquerda, mas não o RN ou o LFI — que durante toda campanha foram equiparados pelo líder centrista como dois "extremos".

A proposta, no entanto, ignora que dentro da aliança esquerdista, foi justamente A França Insubmissa que conquistou a maior parte dos assentos. Por outro lado, parte do tradicional partido de direta Republicanos se fragmentou durante as eleições e se uniu à extrema direita em alguns distritos, seguindo a orientação do presidente da sigla, Éric Ciotti.

Le Pen e Macron: consenso no veto

Marine Le Pen, que já anunciou que liderará a bancada do RN no Parlamento, advertiu que seu grupo apresentaria uma moção de censura contra qualquer governo que incluísse ministros do LFI ou dos Verdes.

A ameaça contra o LFI foi reiterada por várias lideranças do bloco centrista, incluindo o atual primeiro-ministro, Gabriel Attal — que voltou atrás no seu pedido de renúncia após as eleições a pedido do presidente, visando a "estabilidade" do país durante os Jogos Olímpicos, que acontecerão em Paris de 26 de julho a 11 de agosto. Nesta sexta-feira, Attal se comprometeu a "proteger os franceses de qualquer governo que inclua ministros do RN ou do LFI".

Na prática, para um primeiro-ministro ser eleito na França não é necessário a aprovação pela maioria do Parlamento. O nomeado só não pode sofrer uma "moção de desconfiança", ou seja, a rejeição por ao menos 289 deputados. A dificuldade no cálculo político se dá, em parte, porque o veto da extrema direita somado ao da centro-direita ao LFI chegaria a 307 votos.

Com isso, o país veria o mesmo macronismo que se uniu à esquerda para afastar a extrema direita votando junto com a extrema direita para barrar a esquerda radical, que foi a sigla mais votada dentro da aliança vencedora.

O sindicato CGT, o maior da França, conclamou a população a ir às ruas em 18 de julho, dia da primeira sessão da Assembleia Nacional, "para que o resultado das eleições seja respeitado".

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