Escravidão: A África tem a maior prevalência de casos, com mais de sete vítimas para cada mil pessoas, segundo um relatório de 2017 do grupo de direitos humanos Walk Free Foundation e da Organização Internacional do Trabalho (Nneka Chile/Reuters)
Reuters
Publicado em 7 de agosto de 2019 às 17h17.
Última atualização em 7 de agosto de 2019 às 17h18.
Lagos — Blessing tinha só seis anos de idade quando sua mãe fez arranjos para ela se tornar uma empregada doméstica desassalariada de uma família da cidade nigeriana de Abuja com a promessa de que eles a colocariam na escola.
Em sua cidade natal do sudoeste da Nigéria, sua mãe tinha dificuldade para ganhar o suficiente para alimentar os três filhos. Mas quando Blessing chegou a Abuja, em vez de ir para a escola, a família a fazia trabalhar o dia todo, a espancava com um fio elétrico se ela esquecia uma de suas tarefas e a alimentava com sobras estragadas.
Mais tarde, quando sua mãe se mudou para a mesma cidade para ficar mais perto da filha, Blessing não tinha permissão de ficar a sós com ela durante as visitas.
"Eles me diziam que minha mãe estava vindo, que eu não devia lhe dizer o que estava acontecendo comigo, que nem devia dizer nada", diz ela sobre a família. "Se ela me perguntasse como estou, devia dizer que estava ótima, diziam".
No momento em que o mundo lembra os 400 anos transcorridos desde que os primeiros escravos africanos registrados chegaram à América do Norte, a escravidão persiste como um flagelo dos tempos modernos.
Estima-se que mais de 40 milhões de pessoas estejam submetidas a trabalhos forçados, casamentos forçados e outras formas de exploração sexual, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
Blessing, hoje com 11 anos, é uma destas vítimas. Ela foi resgatada em 2016 pela Fundação de Erradicação do Tráfico de Mulheres e do Trabalho Infantil (Wotclef, na sigla em inglês), um grupo de combate ao tráfico humano, depois de dois anos de isolamento e abusos. Ela ainda está sob os cuidados da Wotclef, que consentiu que ela fosse entrevistada para esta reportagem.
Blessing é um pseudônimo exigido para proteger seu anonimato.
A África tem a maior prevalência de casos de escravidão, com mais de sete vítimas para cada mil pessoas, segundo um relatório de 2017 do grupo de direitos humanos Walk Free Foundation e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O relatório define escravidão como "situações de exploração que uma pessoa não consegue recusar ou deixar por causa de ameaças, violência, coerção, artimanhas e/ou abuso de poder".
O tráfico sexual, que ludibria muitas pessoas levadas a crer que trabalharão em outra coisa, é uma das formas mais disseminadas e abusivas de escravidão moderna.