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Escândalo sobre espionagem dos EUA se estende à Espanha

A Espanha exigiu explicações pelas supostas escutas telefônicas no país, mantendo viva a tempestade diplomática originada pela suposta espionagem da NSA


	NSA: de acordo com documentos do ex-consultor da NSA Edward Snowden, essa agência espionou 60.506.610 chamadas telefônicas na Espanha
 (AFP)

NSA: de acordo com documentos do ex-consultor da NSA Edward Snowden, essa agência espionou 60.506.610 chamadas telefônicas na Espanha (AFP)

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Da Redação

Publicado em 29 de outubro de 2013 às 09h21.

Madri - A Espanha exigiu nesta segunda-feira dos Estados Unidos explicações pelas supostas escutas telefônicas no país, mantendo viva a tempestade diplomática originada pela suposta espionagem da NSA contra vários países europeus.

Segundo o jornal espanhol El Mundo, a Agência de Segurança Nacional Americana (NSA) "grampeou" mais de 60 milhões de ligações telefônicas nesse país entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, juntando-se a uma longa lista de estados europeus espionados como França e Alemanha.

O Ministério de Assuntos Exteriores espanhol, que recebeu o embaixador americano James Costos depois de ele ter sido convocado, indicou que essas "práticas, se forem constatadas, são impróprias e inaceitáveis entre sócios e países amigos".

Durante esse encontro, o secretário de Estado espanhol para a União Europeia, Iñigo Méndez de Vigo, "pediu que as autoridades dos Estados Unidos forneçam as informações necessárias sobre os supostos grampos feitos na Espanha".

Enquanto isso, uma delegação do Parlamento Europeu está nos Estados Unidos para abordar "o impacto dos programas de vigilância nos direitos fundamentais dos cidadãos da UE, em particular, o direito à vida privada".

"Nossa confiança foi abalada", disse o alemão Elmar Brok, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento Europeu, acrescentando que "não é aceitável que, por exemplo, a chanceler Merkel e outros tenham sido espionados durante mais de dez anos".

De acordo com o documento publicado pelo jornal El Mundo, apresentado como procedente do ex-consultor da NSA Edward Snowden, essa agência "espionou 60.506.610 chamadas telefônicas na Espanha", entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro de 2013.

Em entrevista na noite desta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estimou que as agências de Inteligência precisam ser capazes de distinguir entre sua capacidade de vigilância e o foco de suas ações.

"Nos lhes damos a orientação política, mas nos últimos anos observamos que esta capacidade (de monitoramento eletrônico) está se desenvolvendo e crescendo", disse Obama sobre o escândalo dos "grampos".


"É por esta razão que estou iniciando uma revisão para garantir que aquilo que somos capazes de fazer não significa necessariamente que devemos fazê-lo", revelou o presidente.

Mais cedo, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que "é preciso garantir que nossos recursos de Inteligência estejam apoiando de maneira efetiva nossa política externa e nossos objetivos de segurança nacional; e que haja uma avaliação efetiva dos riscos e dos benefícios de nossas atividades".

A presidente do poderoso Comitê de Inteligência do Senado americano se declarou "totalmente oposta" ao monitoramento de líderes de Nações aliadas e prometeu revisar estas operações.

A senadora democrata Dianne Feinstein, aliada do presidente Barack Obama, afirmou que "em relação à captação de informações de Inteligência sobre líderes aliados dos Estados Unidos - incluindo França, Espanha, México e Alemanha - é preciso dizer claramente: sou totalmente contra".

Na sexta, o diário El País divulgou informações acerca da espionagem sistemática da NSA tendo com alvos funcionários e membros do governo espanhol, "rastreando as comunicações telefônicas, SMS e correios eletrônicos de milhões de espanhóis".

O chefe do governo conservador Mariano Rajoy, aliado dos Estados Unidos, afirmou não ter informações mais amplas dessas atividades e se distanciou da iniciativa franco-alemã para pedir "esclarecimentos" a Washington e regras sobre a espionagem entre países amigos.


Após as novas declarações, o Executivo endureceu o discurso. Na Polônia, onde realiza uma visita oficial, o ministro de Assuntos Exteriores, José Manuel García Margallo, advertiu em declarações à imprensa espanhola que, se essas atividades forem confirmadas, esse assunto "pode representar uma quebra do clima de confiança que tradicionalmente presidido as relações entre os dois países".

As revelações na Espanha alimentaram ainda mais a tempestade em torno das escutas da NSA na Europa, particularmente forte na Alemanha, devido às informações sobre a suposto grampo no telefone celular da chanceler Angela Merkel.

A revista Der Spiegel indicou no final de semana passado que Merkel vinha sendo espionada desde 2002, antes de se tornar chanceler em 2005, e com George Bush na Casa Branca.

Segundo a publicação alemã, o presidente Barack Obama era informado desde 2010 da vigilância sofrida pela líder alemã, "mulher mais poderosa" do planeta, segundo a revista Forbes.

Em um comunicado enviado domingo à AFP, a NSA negou essas acusações. "O general Alexander (que dirige a NSA) não conversou com o presidente Obama a respeito de uma suposta operação de inteligência que envolveria a chanceler Merkel (...) As versões da imprensa que indicam o contrário não são corretas", declarou Vanee Vine, um porta-voz da agência.

Por mais escandalizada que esteja, a classe política dificilmente pode reagir com medidas claras a este conflito. Embora na Alemanha alguns falem em suspender as negociações sobre um acordo de livre comércio entre Estados Unidos e a União Europeia, Merkel não falou de uma iniciativa dessas.

No momento, a Alemanha enviará esta semana aos Estados Unidos uma delegação de autoridades de seus serviços de espionagem para "avançar nas discussões com a Casa Branca e a NSA sobre as acusações feitas recentemente", segundo o porta-voz adjunto da Chancelaria, Georg Streiter.

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