Equador confirma sequestro de 2 cidadãos na fronteira com a Colômbia
O ministro equatoriano apresentou um vídeo no qual dois cidadãos pedem ao presidente que ajudem na negociação
AFP
Publicado em 17 de abril de 2018 às 09h30.
Última atualização em 17 de abril de 2018 às 14h55.
O governo do Equador anunciou nesta terça-feira que outras duas pessoas foram sequestradas na fronteira com a Colômbia por dissidentes das Farc, que já mataram três reféns.
"Através do canal de comunicação com Guacho (líder dos captores), chegou a nós a informação no dia de ontem sobre um novo sequestro de dois cidadãos", informou ministro do Interior equatoriano, César Navas.
Em breve comunicado, o governo informou que os reféns são Oscar Efrén Villacís Gómez e Katty Vanesa Velasco Pinargote, sem dar mais detalhes.
Walter Artízala, o Guacho, líder da Frente Oliver Sinisterra que há meses semeia o terror na fronteira, anunciou o sequestro de um casal, um homem e uma mulher.
Mais cedo, o ministro da Defensa, Patricio Zambrano, declarou que os sequestrados são de nacionalidade equatoriana.
O anúncio do sequestro foi feito através de um "vídeo de prova devida".
Esta informação aprofunda o drama em um país ainda comovido pelo assassinato na Colômbia, pelo grupo de Guacho, dos jornalistas Javier Ortega, 32 anos, e Paúl Rivas, 45, e do motorista Efraín Segarra, 60, cujos corpos ainda não foram encontrados.
A equipe do jornal El Comercio de Quito foi executada em cativeiro após ter sido feita refém em uma zona fronteiriça onde fazia uma reportagem sobre a inusitada violência que atinge o Equador resultante do tráfico de droga na Colômbia, primeiro produtor mundial de cocaína.
O grupo que se afastou do processo de paz com as já dissolvidas Forças ArmadasRevolucionárias da Colômbia (Farc) está envolvido no tráfico de drogas, segundo as autoridades, e na véspera a Frente Oliver Sinisterra suspendeu a entrega dos corpos ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) alegando falta de segurança pelas ações militares em andamento.
"Dê o que pedem"
No breve vídeo exibido à imprensa, aparecem um homem e uma mulher de meia idade, algenados e uma corda no pescoço, ladeados por dois homens de costas, armados e com vestimenta militar.
Eles pedem ao presidente Lenín Moreno que os ajude para que não tenham o mesmo destino dos jornalistas e motorista assassinados por Guacho.
"Senhor presidente, por favor, nos ajude, nos dê a mão, para que não aconteça conosco o que aconteceu com os jornalistas. Nós temos filhos, temos família que íamos ver no Equador (...) Dê a eles o que eles querem para que nos soltem e nos deixem livres", suplica o homem.
O ministro detalhou que o vídeo chegou às autoridades através do Whatsapp e que é a primeira vez que Guacho envia uma "prova de vida" diretamente ao governo do Equador.
Durante o sequestro dos jornalistas, vários meios de comunicação colombianos receberam da Frente Oliver Sinisterra um vídeo com a "prova de vida", um comunicado anunciado sua morte e fotos que mostravam os três homens mortos por balas.
O minstro classificou as ações do grupo de "jogo macabro" e assegurou que o Equador exercerá toda pressão militar e policial necesaria para recobrar a calma na fronteira, reduto de grupos armados que se financiam com o narcotráfico e outras atividades ilegais.
"Não entendo muito bem as entrelinhas, mas provavelmente há uma mudança de estratégia da organização criminosa. O senhor Guacho não age sozinho, acho que há uma agenda que não conhecemos (...) e justamente na imprevisibilidade de suas ações está sua força", afirmou Daniel Pontón, analista de segurança do Instituto de Altos Estudos Nacionais (IAEN) do Equador.
O Equador, que nunca havia sido atingido com tal crueldade pelo narcotráfico, foi alvo desde janeiro de uma série de ataques que deixaram por ora sete mortos e dezenas de feridos.