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Entenda como a tomada de 'navio fantasma' pelos EUA aperta o cerco a Maduro

Militares dos Estados Unidos capturaram navio acusado de transportar petróleo venezuelano de forma irregular

Militares americanos descem de helicóptero em navio petroleiro no Caribe, em imagem divulgada pelo governo dos EUA (Reprodução/AFP)

Militares americanos descem de helicóptero em navio petroleiro no Caribe, em imagem divulgada pelo governo dos EUA (Reprodução/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de internacional e economia

Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 11h37.

Na quarta-feira, 10, os Estados Unidos deram um mais um passo em seu cerco ao governo da Venezuela. Militares americanos abordaram e tomaram um navio petroleiro que circulava na costa do país. Segundo o presidente Donald Trump, esta foi a maior apreensão desse tipo já realizada.

O gesto aumenta a pressão sobre o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de duas formas. Primeiro, demonstra que os EUA estão dispostos a realizar mais operações militares na região, que poderiam culminar em uma invasão do país, uma ideia que o presidente Donald Trump não confirma nem rejeita.

Além disso, o gesto mostra que os EUA estão dispostos a barrar, por meio de ações militares, a venda de petróleo da Venezuela, a principal fonte de riqueza do país.

Segundo o jornal The New York Times, autoridades do governo Trump disseram, sob anonimato, que novas apreensões de navios deverão ser feitas em breve.

Há anos, a Venezuela é alvo de várias sanções. Assim, empresas que comprarem ou transportarem petróleo venezuelano podem ser punidas pelos EUA, com multas ou com veto a negócios.

Por causa disso, há anos, analistas apontam que o petróleo venezuelano é vendido ao exterior de forma escondida, com o uso de navios 'fantasma', que circulam com aparelhos de rastreamento desligados e que mudam de nome e bandeira com frequência.

Navio fantasma

Segundo a consultoria de risco marítimo Vanguard Tech, citada pela BBC, o navio apreendido pelos EUA foi identificado como "Skipper". Ele já teria mudado de nome várias vezes; foi construído há 20 anos; tem 333 metros de comprimento e 60 metros de largura.

O navio havia sido sancionado pelos EUA em 2022 por transportar petróleo venezuelano e fazia parte da frota de navios 'fantasmas' que continuavam a transportar exportações do país de forma clandestina.

Segundo a agência Reuters, o navio teria saído do porto de José em 4 ou 5 de dezembro, com 1,8 milhão de barris de petróleo bruto, sendo que 200 mil barris foram repassados a outro barco antes da apreensão.

O carregamento de barris valeria em torno de US$ 95 milhões, segundo conta feita pela BBC.

A embarcação teria sido usada também em um esquema de venda de petróleo que teria beneficiado o grupo libanês Hezbollah e a Guarda Revolucionária do Irã, duas entidades vistas como inimigas pelos EUA.

Além de desligar seu localizador, o navio também costumava informar uma posição diferente da que realmente estava, para confundir as autoridades.

Ao ser apreendido, o navio estava com bandeira da Guiana. Em comunicado, a Marinha do país disse que a embarcação não tem registro no país.

O governo americano ainda não detalhou o que fará com o navio. "Acho que vamos ficar com ele", disse Trump, em entrevista coletiva na quarta-feira, 10.

O governo da Venezuela chamou a apreensão de "roubo escancarado e um ato de pirataria internacional", em um comunicado.

O país tem a maior reserva de petróleo bruto do mundo, e depende de sua venda para obter alimentos básicos, remédios e outros itens do exterior. Atualmente, a China compra 80% do petróleo vendido pelo país, segundo estimativa do jornal The New York Times.

A campanha de Trump

Nos últimos meses, Trump ordenou uma campanha contra o tráfico de drogas no mar do Caribe. Ele diz, sem provas, que Maduro é líder de um cartel e tem pressionado o líder venezuelano a deixar o país.

Como parte desta campanha, Trump enviou 15 mil militares para a região, além de uma série de aviões e armamentos. A lista incui o porta-aviões USS Gerald Ford, o maior do mundo.

Os militares americanos atacaram mais de 20 barcos em águas internacionais, sob a alegação de que eles levavam drogas. Até agora, mais de 80 pessoas morreram.

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