Empresas não encontraram trabalhadores nos EUA (Octavio Jones/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 5 de janeiro de 2022 às 14h23.
Última atualização em 6 de janeiro de 2022 às 10h44.
A agência de empregos de Reggie Kaji recebeu um pedido estranho no ano passado: ele poderia encontrar 200 trabalhadores migrantes prontos para pegar um ônibus do Texas para Detroit, onde seriam alojados em hotéis enquanto trabalhariam em uma fábrica que faz portas de carro para três grandes montadoras?
“Nunca vi nada assim”, disse Kaji, que teve de dizer ao cliente em potencial que não poderia garantir encontrar pessoas qualificadas para trabalhar nesse tipo de maquinário. “Um empregado de baixa renda, com pouca escolaridade, pode conseguir rapidamente um emprego.”
É uma história clássica da redução de trabalhadores na pandemia. Relatórios de empregos nos EUA — o payroll de dezembro será publicado na sexta-feira — mostraram uma força de trabalho reduzida, com possíveis empregados mantidos à margem ou aposentando-se cedo. Os chefes estão desesperados por novas contratações que atendam à crescente demanda, elevando os salários e dando às autoridades do Federal Reserve, preocupadas com a inflação, algo mais para monitorar.
O que é menos amplamente compreendido é que, em muitos setores, a escassez de trabalhadores provavelmente persistirá por anos — ou mesmo décadas — após o desaparecimento da covid-19.
A força de trabalho deve crescer cerca de 6,5 milhões de trabalhadores até 2030, segundo a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA. Isso representa uma queda em relação aos quase 10 milhões nos dez anos encerrados em 2019, e números ainda maiores nas décadas anteriores.
Uma combinação de crescimento populacional mais lento dentro do país e menos migrantes vindos de fora — ambos agravados pela pandemia, mas também anteriores a ela — sugere que em períodos de forte ou mesmo constante crescimento econômico, as empresas podem ter problemas para encontrar pessoas para empregos de nível básico.
“Chame de crise se quiser, mas está crescendo”, diz William Emmons, economista do Fed de St. Louis. “Nós temos um problema. De onde virão os trabalhadores?”
Junto com a queda nas taxas de natalidade e mais taxas de mortalidade, tendências que pioraram após a crise financeira e novamente na pandemia, “a imigração provavelmente será menor e mais lenta”, segundo Emmons. “Esta válvula de segurança que nos permitiu continuar operando uma economia baseada em uma oferta interminável de mão de obra de baixo custo e pouco qualificada — provavelmente não será viável.”
As empresas tiveram uma prévia da redução da mão de obra no final de 2019 à medida que a taxa de desemprego caiu para 3,5%. A pesquisa regional do Fed para novembro daquele ano relatou uma escassez de trabalhadores que “abrangeu a maioria dos setores e níveis de qualificação”.
Mesmo algumas empresas gigantes, capazes de oferecer salários mais elevados, podem ver limites iminentes.
“A base da economia é o trabalho”, disse Elon Musk em entrevista ao The Wall Street Journal em 6 de dezembro, explicando por que a Tesla está trabalhando a todo vapor para desenvolver robôs. “Não há pessoas suficientes. Não consigo enfatizar isso o suficiente.”