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Em despedida emotiva, papa diz que sai pelo bem da Igreja

Papa Bento 16 despediu-se emotivamente dos seus fiéis na última audiência geral do seu pontificado quando disse que entende a gravidade da sua decisão


	Bento 16 disse que seu pontificado teve momentos de alegria, mas também de dificuldades, quando "parecia que o Senhor estava dormindo"
 (REUTERS/Max Rossi)

Bento 16 disse que seu pontificado teve momentos de alegria, mas também de dificuldades, quando "parecia que o Senhor estava dormindo" (REUTERS/Max Rossi)

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Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2013 às 10h00.

Cidade do Vaticano - O papa Bento 16 despediu-se emotivamente dos seus fiéis na última audiência geral do seu pontificado, na quarta-feira, quando disse que entende a gravidade da sua decisão de se tornar o primeiro ocupante do cargo a renunciar em 600 anos. Afirmou, no entanto, que fez isso pelo bem da Igreja Católica.

Falando a uma multidão estimada em 150 mil pessoas na Praça São Pedro, na véspera da efetivação da sua renúncia, Bento 16 disse que seu pontificado teve momentos de alegria, mas também de dificuldades, quando "parecia que o Senhor estava dormindo".

Sentado em um trono cor de marfim, na escadaria da basílica de São Pedro, Bento 16 foi frequentemente interrompido por aplausos. Ao final do discurso, os fiéis e muitos cardeais se levantaram para ovacioná-lo.

Refletindo sobre as crises que marcaram seu pontificado, Bento 16 disse que "houve momentos em que as águas estavam agitadas, e havia ventos de proa".

Conforme ele anunciou no dia 11, sua renúncia entra em vigor às 20h da quinta-feira (16h em Brasília). Nos dias seguintes, os cardeais iniciam oficialmente as consultas prévias ao conclave (reunião secreta que elege o novo papa).

O papa disse ter grande fé no futuro da Igreja, e acrescentou: "Dei esse passo com pleno conhecimento da sua gravidade e raridade, mas com profunda serenidade de espírito".


Amar a Igreja, acrescentou, implica "ter coragem para fazer escolhas difíceis e angustiadas, sempre tendo em mente o bem da Igreja, e não de si mesmo".

Bento 16 diz que decidiu renunciar por sentir-se velho e fraco demais para continuar comandando uma instituição marcada por crises causadas pelos abusos sexuais de clérigos contra menores e pelo vazamento de documentos sigilosos do Vaticano que apontam casos de corrupção e disputas de poder.

Despedida ensolarada

Uma multidão vinda de toda a Itália e do exterior começou a lotar a ampla praça no começo da ensolarada manhã de quarta-feira. As audiências gerais do meio da semana geralmente são realizadas em local fechado, mas desta vez ela foi transferida para a praça a fim de acomodar todos os que queriam ver pela última vez o alemão Joseph Ratzinger investido no cargo de papa.

Os fiéis se espalhavam até o outro lado do rio Tibre e em ruas próximas. Muitos seguravam cartazes agradecendo ao papa e lhe desejando boa sorte. "Estamos todos ao seu lado", dizia um deles.

Embora a renúncia tenha surpreendido muitos católicos e gerado preocupações sobre seu impacto numa Igreja dividida, a maioria dos fiéis presentes no Vaticano manifestava apoio e elogios a Bento 16.


"Ele fez o que tinha de fazer na sua consciência perante Deus", disse a irmã Carmela, religiosa italiana que vive ao norte de Roma e foi à capital com outras freiras e com membros da sua paróquia.

"Este é um dia em que somos chamados para confiar no Senhor, um dia de esperança", acrescentou ela. "Não há espaço para tristeza aqui hoje. Temos de orar, há muitos problemas na Igreja, mas temos de confiar no Senhor." A romana Carla Mantoni, 65 anos, considera que o papa "foi muito humilde por fazer isso".

"Entendo por que ele fez. Estava claro desde o começo de que ele se sentia mais em casa numa biblioteca. Um ótimo homem, mas ele percebeu de coração que essa era a coisa certa a fazer para si mesmo e para a Igreja, e agora ele vai rezar, vai rezar por todos nós." Nem todos concordavam.

"Ele foi um desastre. É bom para todos que tenha renunciado", disse o australiano de ascendência irlandesa Peter McNamara, de 61 anos, que afirmou ter ido à praça para "testemunhar a história".

Protocolo

Na noite de quinta-feira, após a declaração de "sé vacante", o papa irá se dirigir à residência pontifícia de Castelgandolfo, ao sul de Roma. Segundo o Vaticano, ele assumirá o título de "papa emérito" e continuará sendo chamado de "santidade".


Deixará de usar os "sapatos de pescador" vermelhos, que são parte da sua indumentária pontifícia, e adotará os mocassins marrons que ganhou de presente de sapateiros no ano passado, durante uma viagem a León, no México.

Também deve passar a se vestir com uma "batina branca simples", segundo o porta-voz Federico Lombardi.

O selo pontifício e o "anel do pescador" do seu papado serão destruídos, conforme as regras da Igreja -como se ele tivesse morrido.

Na terça-feira, o Vaticano disse que o papa estava separando seus documentos, avaliando quis devem ficar nos arquivos do Vaticano, e quais são de natureza pessoal.

Entre os documentos a serem deixados para o próximo papa está um relatório confidencial feito por três cardeais sobre o escândalo apelidado de "Vatileaks", no ano passado, quando um ex-mordomo do papa revelou documentos secretos acerca de casos de corrupção e disputas internas no Vaticano.

Ainda na quinta-feira, Bento 16 se reunirá com cardeais -muitos dos quais com direito a voto no próximo conclave. Às 17h (13h em Brasília), ele embarca de helicóptero para a residência de verão, numa viagem de 15 minutos.


Lá, fará uma aparição na janela do palácio pontifício, para saudar moradores e admiradores que se reunirem na pequena praça do local. Será sua última aparição como papa.

Às 20h (hora local, 16h em Brasília), os membros da Guarda Suíça que atuam como sentinelas na residência irão embora marchando, num sinal de que o trono pontifício está vago.

Bento 16 continuará em Castelgandolfo até abril, quando deve terminar a reforma do monastério onde ele irá morar, dentro do Vaticano.

Na sexta-feira, em Roma, os cardeais começam a se reunir para as chamadas "congregações gerais", reuniões preparatórias do conclave.

Pela praxe, o conclave deveria começar pelo menos 15 dias depois da vacância do cargo, mas nesta semana o papa alterou as regras para permitir uma antecipação. Os próprios cardeais poderão decidir quando iniciar o processo eleitoral.

Aparentemente, o objetivo do Vaticano é que o novo papa seja eleito até meados de março e entronizado antes do Domingo de Ramos, em 24 de março, de modo a poder comandar as cerimônias da Semana Santa.

Nas últimas duas semanas, os cardeais já realizam consultas informais por email e telefone.

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