Eleição no Líbano leva às urnas as divisões do Oriente Médio
ÀS SETE - Num país onde a divisão sectária e a turbulência política são regra, o pleito deste domingo é visto como uma boa notícia
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2018 às 06h25.
Última atualização em 4 de maio de 2018 às 07h20.
Pela primeira vez em nove anos, os libaneses vão às urnas escolher os novos membros do parlamento. Num país onde a divisão sectária e a turbulência política são regra, o pleito deste domingo 6 é visto como uma boa notícia. Como qualquer eleição no coração do Oriente Médio, esta será acompanhada com lupa por americanos, russos, iranianos, turcos, franceses, e por aí vai.
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Uma das principais questões em jogo é se o Hezbollah, principal força política do país e aliado do Irã e do ditador sírio sírio Bashar al-Assad, ganhará ainda mais poder, diminuindo a influência ocidental no país.
Desde 2009, última vez que foram realizadas eleições legislativas, o governo do Líbano caiu duas vezes (em 2011 e em 2013), a presidência chegou a ficar vaga por 29 meses (entre 2014 e 2016), o parlamento estendeu seu mandato, adiando novas eleições duas vezes (em 2013 e em 2014).
Em novembro do ano passado, o atual primeiro-ministro Saad Hariri chegou a anunciar sua renúncia do cargo, durante uma visita à Arábia Saudita (aliada de seu partido), para depois voltar a Beirute e renunciar à renúncia.
O sistema político libanês é orientado pela religião. Desde 1943, o presidente deve ser um cristão, o primeiro-ministro um muçulmano sunita e o presidente do parlamento, um muçulmano xiita. Após 15 anos de guerra civil, em 1989, foi negociado um acordo que instituiu a divisão das 128 vagas no parlamento como é até hoje: 64 cadeiras para os cristãos e 64 para os muçulmanos.
Será a primeira vez na história do país que os libaneses vivendo no exterior poderão participar da eleição. Além disso, um número recorde de mulheres se candidatou para disputar uma cadeira – atualmente, as mulheres representam apenas 3% do parlamento libanês.
Será a primeira eleição depois da aprovação, no ano passado, de uma nova lei eleitoral, que reduz o número de distritos e combina o sistema distrital com a representação proporcional.
Segundo a fundação política alemã Konrad Adenauer Stiftung, a nova legislação foi aprovada após pressão do partido Movimento Patriótico Livre (do atual presidente Michel Aoun) e do Hezbollah (aliado do partido e fortemente ligado ao Irã) e deve “promover o sectarismo e diminuir a interação entre diferentes comunidades”.
Com isso, a ala de Hariri, o Movimento do Futuro, deve perder alguns assentos. A expectativa, no entanto, é que a Hariri permaneça no poder.
A previsão é que o Hezbollah, que atualmente controla o ministério da Defesa e 14 assentos no parlamento, veja sua representação direta reduzida, principalmente pela reprovação do envolvimento da organização na guerra da Síria, mas que outros partidos xiitas, alinhados com a organização, conquistem mais cadeiras. Na prática, isso ampliaria o domínio político do grupo.