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Eleições em Taiwan: Lai Ching-te vence e será novo presidente

Atual vice-presidente, líder eleito tem histórico de defesa de independência da ilha e distanciamento de Pequim

Lai Ching-te: político é o atual vice-presidente. (AFP/AFP)

Publicado em 13 de janeiro de 2024 às 09h14.

Última atualização em 13 de janeiro de 2024 às 09h50.

Os taiwaneses elegeram Lai Ching-te como novo presidente. Lai, do partido DPP, teve 40% dos votos, ante 33% de Hou Yu-ih, do partido KMT, e 26% de Ko Wen-je, do partido PPT, segundo a divulgação dos últimos números da apuração. As eleições foram realizadas neste sábado, 13.

Médico que estudou saúde pública na Universidade de Harvard, Lai ocupou cargos públicos nos últimos 25 anos, inclusive como prefeito da cidade de Tainan, no sul do país. Durante o mandato dele e do atual presidente, Tsai Ing-wen, Taiwan aumentou as aquisições de armas dos Estados Unidos. Lai comprometeu-se a fortalecer a defesa nacional e a manter a economia na direção política definida por Tsai. Pequim rejeitou repetidamente ofertas para manter conversas com o candidato.

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Ele faz parte do atual governo de Taiwan: foi vice-presidente de Tsai Ing-Wen, atual mandatária que não pode disputar a reeleição. A administração atual manteve uma política de distanciamento de Pequim, e a expectiva é que essa postura seja mantida.

Durante a campanha eleitoral, o governo chinês enviou sinais de que considerava Lai como uma opção perigosa e que gestos em relação à independência plena não seriam tolerados.

“Para os chineses, a vitória do DPP pode estimular mais exercícios militares. Imaginava-se que o pior cenário seria invasão, mas não é. A consequência maior seria o que chamam de estrangulamento marítimo, com barreiras da China de acesso à ilha pelo mar", avalia Mauricio Moura,sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, e professor da Universidade George Washington.

Para a consultoria de risco político Eurasia, a vitória de Lai traz o risco de que Pequim tome "medidas militares e econômicas agressivas para desencorajar suas ambições pró-independência". Por sua vez, os EUA tenderão a responder com demonstração de apoio a Taiwan.

"Enquanto Joe Biden se oporá a quaisquer movimentos de independência de Lai, a política doméstica da questão de Taiwan impedirá o presidente dos EUA de se opor aos passos menores, simbólicos, em direção à autonomia de fato que Lai provavelmente tomará", pondera a Eurasia em sua publicação que mapeou os maiores riscos geopolíticos de 2024.

"No entanto, mesmo estes serão suficientes para provocar uma resposta militar sem precedentes de Pequim, como violar o espaço aéreo ou as águas de Taiwan ou realizar inspeções de navios. Biden será forçado a responder à agressão chinesa com uma demonstração de resolução em apoio a Taipei que poderia colocar em risco o degelo entre EUA-China e arriscar um ciclo perigoso de escalada."

Estreito de Taiwan: ilha é separada da China continental por distância de 130 km (Gallo Images/Getty Images)

Entenda a crise entre Pequim e Taiwan

Depois que o Partido Comunista assumiu o controle da China continental em 1949, no final de uma guerra civil, os nacionalistas do Kuomintang fugiram para Taiwan, causando um impasse político.

Entretanto, quando a ilha passou de uma autocracia para a democracia na década de 1990, os sentimentos da população, que tinha sido inicialmente educada na identidade chinesa, tornaram-se mais centrados em Taiwan.

As gerações mais velhas consideram a "unificação da China inevitável", disse à AFP Liu Wen, especialista em história e etnologia da Academia Sinica. "Eles respondem passivamente às intrusões e exercícios militares chineses porque acreditam que eventualmente (...) Taiwan e a China se unirão", explicou.

Mas este imaginário não é o mesmo entre as gerações mais jovens. Em 1992, um quarto da população da ilha se identificou como chinesa. Atualmente este número é inferior a 3%, de acordo com pesquisas realizadas pela Universidade Nacional Chengchi de Taiwan nos últimos três anos. As mesmas pesquisas mostraram que 18% se identificaram como "somente taiwanês" em 1992. Agora, essa proporção cresceu para 63% da população.

As eleições na ilha acontecem em meio a um clima de afirmação identitária nacional e receio de possíveis reações da China — um movimento que poderia fazer os Estados Unidos entrar em rota de conflito com o gigante asiático e redesenhar o mapa geopolítico global.

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