Marina Silva, candidata à presidência pela REDE (Campanha Marina Silva/Divulgação)
Gabriela Ruic
Publicado em 22 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 22 de setembro de 2018 às 06h00.
São Paulo – Crise na Venezuela, refugiados, integração latino-americana e Donald Trump são alguns dos desafios que o próximo presidente enfrentará em sua agenda de política externa, um tema que é frequentemente ignorado nos debates, mas extremamente relevante em um momento em que o cenário internacional se torna cada vez mais complexo.
Para entender como os candidatos à presidência se posicionam sobre esses assuntos, EXAME está entrevistando os principais nomes na disputa das eleições 2018. Abaixo, veja a entrevista realizada com Marina Silva (REDE).
Marina Silva - Brasil deve honrar sua tradição de país aberto a pessoas de todos os países do mundo que aqui queiram se instalar e viver contribuindo para a sociedade. É um país com fortíssima presença de imigrantes na sua formação.
No caso da Venezuela se agrega a emergência da situação de refugiados de um país que passou de ser a mais alta renda per capita de América Latina à maior tragédia econômica, política e humanitária da região no último meio século. O Brasil foi cúmplice dessa tragédia porque os governos anteriores sempre apoiaram o chavismo. Colômbia, Equador, Peru e Chile tem recebido muito mais refugiados que Brasil, mesmo tendo populações muito menores.
Devemos defender o princípio da solidariedade internacional se queremos alcançar uma sociedade global mais justa e mais fraterna. Receber os refugiados é pôr em prática esse princípio. Além disso, a experiência de receber pessoas vindas de outras culturas costuma ser positiva para a nação receptora que, em médio e longo prazo, se beneficia inclusive dos resultados econômicos decorrentes da capacidade de trabalho dessas pessoas, muitas delas qualificadas.
Se eleita pretendo atuar em conjunto com os depois países sul-americanos pela volta da democracia na Venezuela.
EXAME - Atuar por uma maior integração com a América Latina será uma prioridade em seu governo?
Marina Silva - Sem dúvida, a América Latina é prioridade central da ação diplomática brasileira. É preciso resgatar os objetivos maiores da integração regional, que deve ser instrumento de prosperidade econômica e comercial, mas também de garantia da democracia e dos direitos humanos. Devemos promover o aumento da interdependência econômica, tecnológica, política e cultural com nossos vizinhos latino americanos.
Marina Silva - Adotaremos as mais modernas ferramentas e metodologias de inteligência para o combate ao narcotráfico, priorizando o policiamento de manchas criminais e de fronteiras, com uso intenso de tecnologia. Também utilizaremos as técnicas de monitoramento da circulação e lavagem de dinheiro para combater o tráfico de drogas, armas e de pessoas e crimes financeiros.
Criaremos um conselho que articulará os diversos órgãos de inteligência estaduais e federais com foco no crime organizado e suas dinâmicas interestaduais e transnacionais.
As Forças Armadas assumirão papel fundamental na defesa de fronteiras, no combate ao contrabando e ao tráfico, bem como na proteção do meio ambiente, em especial no combate à biopirataria. Sua atuação receberá apoio do Estado e da sociedade civil, com a ampliação do debate democrático sobre o fortalecimento das estratégias de defesa.
Sem abdicar de nossas responsabilidades buscaremos a integração de esforços com nossos vizinhos, na busca de sinergias no combate ao tráfico de armas, drogas e pessoas.
Marina Silva - A partir de um Mercosul modernizado e livre de barreiras internas, é preciso concluir as negociações com a União Europeia e com outros parceiros dispostos a uma abertura mutuamente vantajosa.
Marina Silva - Nossa política externa deve seguir promovendo a participação do Brasil em esquemas plurilaterais de concertação, como os BRICS, o IBAS ou o G-20.
Iniciativas conjuntas com nossos sócios no BRICS, para além do tratamento da agenda global, como mecanismos próprios de financiamento ao desenvolvimento devem ser fortalecidas. O Novo Banco de Desenvolvimento (NBR), criado por países emergentes por exemplo, é uma experiência única e deve ter papel relevante para financiar infraestrutura e desenvolvimento sustentável.
Marina Silva - A relação com a China exige atenção prioritária pela magnitude das cifras e pelos desafios. Em poucos anos, o país tornou-se nosso primeiro parceiro comercial − com elevado superávit do lado brasileiro − bem como uma importante fonte de investimentos.
Atenção especial deve ser dada à melhora na composição da pauta exportadora brasileira, estimulando a substituição das indústrias de baixo custo por indústrias intensivas em conhecimento e viabilizando um diálogo construtivo com as autoridades chinesas para que seja leal a concorrência dos produtos exportados por ambos os países, evitando-se a prática de preços irrisórios.
Também convém empenhar-se para que os investimentos chineses atendam às nossas expectativas de estabelecimento de parcerias, utilização de insumos locais, criação da capacidade de pesquisa e desenvolvimento e contratação de mão de obra e de executivos brasileiros.
Marina Silva - Sim, nosso protagonismo nas negociações internacionais por meio da ONU e demais organismos multilaterais e regionais será́ fortalecido e ampliado. Ao mesmo tempo, para expandir os mercados para nossos bens e serviços também iremos buscar arranjos bilaterais ou em formatos variáveis.
As perguntas que compõem a entrevista deste especial foram compiladas com base em entrevistas realizadas por EXAME com especialistas em política externa de diferentes setores e organizações. Participaram embaixadores e empresários do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e pesquisadores de instituições como o Instituto de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Puc-Rio, da ESPM e das Faculdades Integradas Rio Branco.
A partir desse levantamento, a reportagem produziu sete perguntas para os candidatos que registravam ao menos 1% de intenção de voto segundo pesquisa Datafolha publicada em 22/08/2018: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora substituído por Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Cabo Daciolo (Patriota) e Vera Lúcia (PSTU).
Abaixo veja as entrevistas já publicadas:
Estes são os candidatos que ainda não se manifestaram sobre as demandas da reportagem:
A entrevista é composta das mesmas perguntas para todos os candidatos, essas enviadas no mesmo dia e com igual prazo para resposta, 15 dias. A publicação está acontecendo de acordo com a ordem de recebimento.