Eleição mostra que Hong Kong apoia os protestos. E agora?
Os democratas, rosto político dos manifestantes, levaram quase 90% dos 452 assentos em disputa para os conselhos distritais
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2019 às 06h20.
Última atualização em 25 de novembro de 2019 às 06h55.
Hong Kong começa a semana com um novo ambiente político. Palco de manifestações por democracia que foram escalando para um confronto com forças policiais nos últimos seis meses, a ilha tenta, agora, digerir o resultado de eleições de resultados desastrosos para o governo local, apoiado pela China continental.
A eleição era para conselhos distritais, mas acabou tendo ares de referendo sobre os protestos. Os democratas, rosto político dos manifestantes, levaram quase 90% dos 452 assentos em disputa. Carrie Lam, a pressionada governadora local que insuflou as manifestações ao tentar aprovar uma lei que permitia a extradição a Pequim, afirmou que “há várias análises a serem feitas” sobre os resultados e que apenas algumas delas mostram endosso à insatisfação dos manifestantes.
A verdade é que Pequim esperava por uma “maioria silenciosa” para confirmar que segue com o apoio da maioria dos cidadãos. Pois a maioria silenciosa foi às urnas e confirmou que Hong Kong está majoritariamente insatisfeita com o aperto político e social que o governo central da China vem impondo à cidade nos últimos anos.
Em entrevista à agência Reuters, o cientista político Ma Ngok, da Chinese University, afirmou que foi um resultado “que ninguém poderia prever”, e que mostra que a população “vai apoiar os manifestantes e está insatisfeita com o governo”.
Um executivo que conhece a política local afirmou a EXAME que a estratégia do presidente chinês, Xi Jinping, era isolar os manifestantes aos poucos, apostando no acirramento dos confrontos para taxá-los como radicais. Não deu certo. A geração de jovens que foi às ruas pedir liberdade mira seu próprio futuro. Em 2049 Hong Kong será definitivamente reincorporada à China, com o fim do período especial de separação judicial e política de que goza atualmente.
Uma dúvida que se acentua agora é como a incerteza política afetará os mercados. Hong Kong é um dos principais centros financeiros da Ásia justamente por servir de porta de entrada para a China e os países vizinhos num ambiente de estabilidade e abertura. Nesta segunda-feira a bolsa local fechou em alta de 1,5%, puxando a alta dos principais mercados da Ásia. Mas os efeitos da vigorosa mudança política na ilha serão sentidos no longo prazo.