Egito: Presidente, Fattah Al Sisi, se reuniu com autoridades para falar sobre ataque terrorista no Sinai (The Egyptian Presidency/Reuters)
AFP
Publicado em 25 de novembro de 2017 às 10h01.
Funerais, orações, tarjas pretas na imprensa: o Egito iniciou neste sábado (25) três dias de luto nacional em homenagem às 305 pessoas mortas no dia anterior em uma mesquita, no ataque mais sangrento da história recente do país.
O balanço de vítimas foi atualizado neste sábado pelo procurador-geral em um comunicado transmitido pela televisão estatal, que indicou a morte de 27 crianças.
Poucas horas depois que o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi prometeu "vingar os mártires", o exército realizou ataques aéreos na área do atentado, na região do Sinai, onde as forças de segurança lutam contra a facção egípcia do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
Ainda não reivindicado, mesmo que tudo aponte para uma operação jihadista, o ataque ocorreu durante a oração de sexta-feira (24) na mesquita Al-Rawda de Bir al-Abd, 40 quilômetros a oeste de Al-Arich, capital da província do Sinai do Norte.
Os agressores explodiram uma bomba antes de disparar indiscriminadamente contra os fiéis.
Este massacre, raro em uma mesquita e um dos mais mortíferos desde os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, deixou os egípcios em estado de choque.
"Terrorismo na casa de Deus", era lido neste sábado nos meios de comunicação, que adotaram tarjas pretas como sinal de luto.
No final da manhã, todas as mesquitas do país dedicarão a oração aos "mártires" desse ataque, anunciou a imprensa.
Parentes das vítimas se apressavam ao hospital de Ismailia, uma cidade perto do canal de Suez, no nordeste do país, para onde os feridos foram transportados, constatou um fotógrafo da AFP.
Os funerais de alguns dos falecidos devem acontecer ainda neste sábado.
O presidente Sissi pediu às Forças Armadas para construir um memorial para as vítimas, segundo a imprensa estatal.
As televisões não paravam de exibir imagens dos corpos sem vida na mesquita, das ambulâncias e centros médicos que atendem os feridos.
Na sexta-feira, testemunhas disseram que os terroristas cercaram a mesquita com veículos 4x4 e plantaram uma bomba na parte externa do prédio. Depois da explosão, os homens armados dispararam contra os fiéis em pânico que tentavam fugir e atearam fogo aos veículos para bloquear os acessosà mesquita.
Homens armados "entraram na mesquita, eles eram entre 10 e 20 e mataram mais pessoas do que feriram", declarou à AFP Magdy Rizk, ferida no ataque.
"Eles usavam máscaras e uniformes militares", disse Rizk, acrescentando que as famílias que vivem nesta região majoritariamente sufi já haviam sido ameaçadas por grupos extremistas.
A mesquita Al-Rawda é frequentada por seguidores do sufismo, uma corrente mística do Islã, odiada pelo EI, que os considera como hereges e politeístas, o maior pecado do islamismo.
O grande imã de Al-Azhar, a principal instituição do islamismo sunita, o xeque Ahmed el-Tayeb, ele mesmo de obediência sufi, condenou nos "termos mais fortes o ataque terrorista bárbaro", enquanto o papa Francisco disse estar "profundamente triste com a perda de vidas".
Como após cada grande ataque, os principais líderes religiosos do país lembraram a necessidade de combater o terrorismo e a ideologia extremista.
A facção egípcia do EI realiza regularmente ataques contra as forças de segurança na Península do Sinai, que faz fronteira com Israel e a Faixa de Gaza palestina, embora a frequência e extensão de tais ataques contra os militares tenha diminuído ao longo do último ano.
Os jihadistas voltaram-se para alvos civis, atacando não só cristãos e sufis, mas também beduínos do Sinai, acusados de colaborar com o exército.
O último ataque mais mortal no Egito remonta a outubro de 2015, quando um ataque a bomba reivindicado pelo EI custou a vida dos 224 ocupantes de um avião russo que decolou de Sharm al-Sheikh.