Egípcios protestam após Assembleia aprovar nova Constituição
Multidão se reúne na Praça Tahir para criticar o presidente Mursi, cujo decreto blindando contestações às suas decisões provocou revolta
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2012 às 15h20.
Cairo - Milhares de egípcios protestaram contra o presidente Mohamed Mursi na sexta-feira depois de a assembleia, liderada pelos islâmicos, aprovar uma nova Constituição na tentativa de pôr fim a uma crise sobre a recém-ampliação dos poderes do líder islâmico.
"O povo quer derrubar o regime", cantavam eles na Praça Tahrir, ecoando a cantoria que se ouvia no mesmo local há menos de dois anos, quando Hosni Mubarak foi derrubado.
Mursi disse que o decreto, que proíbe contestações judiciais às suas decisões, e que provocou protestos e violência em várias cidades do país, se limita a "um estágio excepcional".
"Ele vai terminar assim que as pessoas votarem na nova Constituição", disse ele à TV estatal na noite de quinta-feira. "Não há lugar para uma ditadura." A oposição protestou. Liberais, esquerdistas, cristãos, muçulmanos mais moderados e outros se retiraram da Assembleia, afirmando que suas vozes não eram ouvidas.
Milhares de pessoas lotaram a Praça Tahrir e saíram às ruas em Alexandria e em cidades no Canal de Suez, no Delta do Nilo e no sul de Cairo, respondendo ao clamor da oposição por uma grande manifestação.
A oposição, que tem tido dificuldades para competir com os islâmicos bem organizados, se uniu e foi revigorada pela crise. Dezenas de milhares também protestaram na terça-feira, demonstrando o descontentamento público.
Os islâmicos, no entanto, têm uma máquina política poderosa e os Estados Unidos têm observado com cautela a ascensão de um grupo que já foi mantido sob controle agora governando uma nação que possui um tratado de paz com Israel e está no centro da Primavera Árabe.
Os manifestantes afirmam que pressionarão pelo "não" em um referendo, que pode acontecer ainda em meados de dezembro. Se aprovado, ele pode cancelar de imediato o decreto do presidente.
"Nós fundamentalmente rejeitamos o referendo e a Assembleia Constituinte porque a Assembleia não representa todas as seções da sociedade", disse Sayed el-Erian, de 43 anos, manifestante da Praça Tahrir e integrante de um partido criado por Mohamed ElBaradei, da oposição.
"Saia, saia", cantavam alguns, repetindo outro bordão anti-Mubarak.
Na mesquita do Cairo onde Mursi proferiu as orações de sexta-feira, alguns opositores cantaram contra ele, mas os simpatizantes rapidamente os cercaram com gritos de apoio ao presidente, afirmaram jornalistas e uma fonte da segurança.
Milhares de simpatizantes de Mursi também foram às ruas em Alexandria.
EXAUSTÃO
O plebiscito sobre a Constituição é uma aposta com base na crença dos islâmicos de que podem mobilizar eleitores novamente após terem vencido as eleições depois que Mubarak foi derrubado, em fevereiro de 2011.
Apesar dos números contra ele, Mursi pode contar com o apoio dos aliados islâmicos e da Irmandade, assim como de muitos egípcios que estão exaustos de toda a agitação.
"Ele quer apenas que nós avancemos e não percamos tempo em conflitos", afirmou o comerciante Abdel Nasser Marie, de 33 anos, do Cairo. "Dêem ao homem uma chance e ao Egito, um tempo", afirmou ele.
Mursi, porém, precisa da cooperação de juízes para supervisionar a votação, embora muitos estejam insatisfeitos com o decreto de Mursi que, segundo eles, enfraquece o Judiciário. Alguns juízes entraram em greve.
A assembleia concluiu a votação após uma sessão que durou 19 horas. Todos os 234 artigos foram aprovados, inclusive os dos poderes presidenciais, o status da religião islâmica, o papel dos militares e um marco para o respeito aos direitos humanos.
A versão final contém mudanças históricas no sistema de governo do Egito. Ele limita, por exemplo, a oito anos a permanência de um presidente no poder e impõe um grau de supervisão sobre as instituições militares --embora aquém do que os críticos desejavam.
A Constituição marca uma nova etapa na história do Egito, quase dois anos depois da rebelião popular que depôs o regime de Hosni Mubarak, que passara três décadas no poder.
Uma autoridade egípcia afirmou que Mursi deve aprovar o documento no sábado e, depois, tem 15 dias para fazer o referendo.
"Esta é uma Constituição revolucionária", disse Hossam el-Gheriyani, presidente da assembleia, pedindo aos constituintes que saiam pelo país em campanha para "explicar à nação a sua Constituição". Após a votação, o hino nacional egípcio foi tocado.
A votação foi interrompida várias vezes por causa de atritos entre constituintes islâmicos e Gheriyani por causa de determinados artigos. Várias emendas foram incluídas logo antes da votação.
Críticos de Mursi dizem que a Irmandade Muçulmana, grupo aliado ao presidente, "sequestrou" o processo constituinte e está tentando apressá-lo.
Duas pessoas morreram e centenas ficaram feridas depois do anúncio do decreto, em 22 de novembro, aprofundando a divisão entre os islâmicos, recém-chegados ao poder, e seus críticos.
Cairo - Milhares de egípcios protestaram contra o presidente Mohamed Mursi na sexta-feira depois de a assembleia, liderada pelos islâmicos, aprovar uma nova Constituição na tentativa de pôr fim a uma crise sobre a recém-ampliação dos poderes do líder islâmico.
"O povo quer derrubar o regime", cantavam eles na Praça Tahrir, ecoando a cantoria que se ouvia no mesmo local há menos de dois anos, quando Hosni Mubarak foi derrubado.
Mursi disse que o decreto, que proíbe contestações judiciais às suas decisões, e que provocou protestos e violência em várias cidades do país, se limita a "um estágio excepcional".
"Ele vai terminar assim que as pessoas votarem na nova Constituição", disse ele à TV estatal na noite de quinta-feira. "Não há lugar para uma ditadura." A oposição protestou. Liberais, esquerdistas, cristãos, muçulmanos mais moderados e outros se retiraram da Assembleia, afirmando que suas vozes não eram ouvidas.
Milhares de pessoas lotaram a Praça Tahrir e saíram às ruas em Alexandria e em cidades no Canal de Suez, no Delta do Nilo e no sul de Cairo, respondendo ao clamor da oposição por uma grande manifestação.
A oposição, que tem tido dificuldades para competir com os islâmicos bem organizados, se uniu e foi revigorada pela crise. Dezenas de milhares também protestaram na terça-feira, demonstrando o descontentamento público.
Os islâmicos, no entanto, têm uma máquina política poderosa e os Estados Unidos têm observado com cautela a ascensão de um grupo que já foi mantido sob controle agora governando uma nação que possui um tratado de paz com Israel e está no centro da Primavera Árabe.
Os manifestantes afirmam que pressionarão pelo "não" em um referendo, que pode acontecer ainda em meados de dezembro. Se aprovado, ele pode cancelar de imediato o decreto do presidente.
"Nós fundamentalmente rejeitamos o referendo e a Assembleia Constituinte porque a Assembleia não representa todas as seções da sociedade", disse Sayed el-Erian, de 43 anos, manifestante da Praça Tahrir e integrante de um partido criado por Mohamed ElBaradei, da oposição.
"Saia, saia", cantavam alguns, repetindo outro bordão anti-Mubarak.
Na mesquita do Cairo onde Mursi proferiu as orações de sexta-feira, alguns opositores cantaram contra ele, mas os simpatizantes rapidamente os cercaram com gritos de apoio ao presidente, afirmaram jornalistas e uma fonte da segurança.
Milhares de simpatizantes de Mursi também foram às ruas em Alexandria.
EXAUSTÃO
O plebiscito sobre a Constituição é uma aposta com base na crença dos islâmicos de que podem mobilizar eleitores novamente após terem vencido as eleições depois que Mubarak foi derrubado, em fevereiro de 2011.
Apesar dos números contra ele, Mursi pode contar com o apoio dos aliados islâmicos e da Irmandade, assim como de muitos egípcios que estão exaustos de toda a agitação.
"Ele quer apenas que nós avancemos e não percamos tempo em conflitos", afirmou o comerciante Abdel Nasser Marie, de 33 anos, do Cairo. "Dêem ao homem uma chance e ao Egito, um tempo", afirmou ele.
Mursi, porém, precisa da cooperação de juízes para supervisionar a votação, embora muitos estejam insatisfeitos com o decreto de Mursi que, segundo eles, enfraquece o Judiciário. Alguns juízes entraram em greve.
A assembleia concluiu a votação após uma sessão que durou 19 horas. Todos os 234 artigos foram aprovados, inclusive os dos poderes presidenciais, o status da religião islâmica, o papel dos militares e um marco para o respeito aos direitos humanos.
A versão final contém mudanças históricas no sistema de governo do Egito. Ele limita, por exemplo, a oito anos a permanência de um presidente no poder e impõe um grau de supervisão sobre as instituições militares --embora aquém do que os críticos desejavam.
A Constituição marca uma nova etapa na história do Egito, quase dois anos depois da rebelião popular que depôs o regime de Hosni Mubarak, que passara três décadas no poder.
Uma autoridade egípcia afirmou que Mursi deve aprovar o documento no sábado e, depois, tem 15 dias para fazer o referendo.
"Esta é uma Constituição revolucionária", disse Hossam el-Gheriyani, presidente da assembleia, pedindo aos constituintes que saiam pelo país em campanha para "explicar à nação a sua Constituição". Após a votação, o hino nacional egípcio foi tocado.
A votação foi interrompida várias vezes por causa de atritos entre constituintes islâmicos e Gheriyani por causa de determinados artigos. Várias emendas foram incluídas logo antes da votação.
Críticos de Mursi dizem que a Irmandade Muçulmana, grupo aliado ao presidente, "sequestrou" o processo constituinte e está tentando apressá-lo.
Duas pessoas morreram e centenas ficaram feridas depois do anúncio do decreto, em 22 de novembro, aprofundando a divisão entre os islâmicos, recém-chegados ao poder, e seus críticos.