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Economia verde: preservar o planeta pode dar lucro

A caminho da Rio+20, governos, empresas e pesquisadores debatem como fazer a guinada para um modelo que não esgote o meio ambiente e que seja economicamente atrativo

Novo modelo de energia eólica (Divulgação)

Novo modelo de energia eólica (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2012 às 17h18.

"Algumas pessoas dizem que a economia verde tem essa cor por causa do dólar", afirma, em tom de brincadeira, o embaixador André Aranha Corrêa do Lago. O negociador chefe do Brasil para a Rio+20 se permite zombar dos radicalismos, mas admite que o tema central da conferência da ONU, que ocorre entre 16 e 22 de junho no Rio, ainda carece de definições. Fora a referência óbvia às causas ambientais, o verde, nesse caso, representa o que não é “marrom”, como é chamado o modelo que domina a maior parte das atividades econômicas, em que o avanço de empresas e governos implica em um alto custo para a natureza e a qualidade de vida do homem. O modelo almejado é aquele em que o uso dos recursos do planeta se dá de forma sustentável, sem riscos a espécies e ecossistemas, mas também sem inviabilizar o avanço dos negócios e o bem-estar.

Contagem regressiva para a Rio+20

Como qualquer atividade econômica, que movimenta lucros e interesses, há preocupações com a nova ordem que pode emergir a partir de propostas e modelos discutidos em encontros como a Rio+20. O Rio de Janeiro, na posição de quem deve dar exemplos como sede da conferência, criou uma subsecretaria estadual para a economia verde, ligada à secretaria de Meio Ambiente. Pioneira na implementação do conceito em nível governamental no Brasil, a subsecretária Suzana Kahn, que foi vice presidente do Painel Intergovernamental de mudanças climáticas (IPCC) até 2014, prefere ver a questão com o pé no chão. “No fundo, a economia verde pode manter a situação atual de dominância dos ricos em relação aos pobres. Como nós não temos dinheiro suficiente para investir em tecnologia, acabaríamos tendo que importar os painéis solares e as turbinas eólicas fabricadas por eles”, exemplifica. Outra área sensível apontada por Suzana é a possibilidade de os países desenvolvidos usarem as novas regras economia verde para implementar barreiras comerciais protecionistas. “O que precisamos é criar salvaguardas para que isso não crie distorções”, alerta.

Desde já estão sendo discutidas formas de fazer com que, a partir da Rio+20, empresas, governos e entidades não governamentais possam estimular uma guinada em relação ao sistema de exploração dos recursos naturais de hoje. O ‘modus operandi’ da economia atual falhou, afirma Suzana, ao deixar de resolver os desafios impostos pelo meio ambiente, ao não se mostrar eficaz para dividir riqueza e ao deixar de promover melhor qualidade de vida para boa parte da população. A economia, até aqui, caminhou desprezando a limitação dos recursos naturais e criou problemas que vão além dos países, dos continentes, como problemas climáticos, desequilíbrios de abastecimento e elevação do risco de desastres naturais.

Para Suzana, esse é o quadro "não é sustentável". "Temos todos os motivos para nos prepararmos para um mundo sem petróleo, que é um recurso finito. Por isso, o Rio é um local ideal para se praticar o exercício da economia verde. Temos que aprender a saber migrar e ter um tipo economia que não dependa tanto desses recursos", explica.

Enquadrar a questão social na discussão é justamente a grande preocupação do Brasil em relação às implicações da economia verde. Uma das propostas brasileiras é a de acréscimo da expressão “inclusiva” ao termo, no documento final da Rio+20. "Em economia verde inclusiva, você teria os três pilares do desenvolvimento sustentável, que são o econômico, o ambiental e o social", afirma Corrêa do Lago. Para o embaixador, o maior obstáculo para as políticas do desenvolvimento sustentável é dificuldade de enquadrar o aspecto econômico. "É raro ver uma pessoa da área econômica se referindo a desenvolvimento sustentável", afirma Corrêa do Lago.


1,3 trilhão de dólares para reciclar o mundo

A grande virada da economia verde é convencer de que, apesar de requerer mais investimentos a curto prazo — assim como a maioria das iniciativas de sustentabilidade —, o sistema proposto se mostra lucrativo no longo prazo. Ou seja, do ponto de vista do relatório da Iniciativa para Economia Verde (GEI, sigla em Inglês), a economia marrom atual é menos rentável. A partir da perspectiva de lucro, atrai-se – ou, pelo menos, espera-se atrair – o empresário.

Melinda Kimble, vice-presidente do Fundo para as Nações Unidas, órgão especializado em arrecadar recursos para ajudar a financiar a ONU, afirma que essa é uma forma de engajar a iniciativa privada. "O setor privado não faz doações. Ele precisa de um retorno no investimento para mobilizar recursos. É por isso que precisamos da economia verde", explica.

De forma prática, o relatório da GEI aponta para dez setores chave para onde os recursos devem se encaminhar: edificações, florestas, turismo, água, gerenciamento de lixo, energia renovável, transportes, pesca, indústria e agricultura. O documento, que congrega ideias e avaliações sob o ponto de vista da economia verde, aponta a necessidade de investimento anual de 2% do PIB mundial, o que corresponde a aproximadamente 1,3 trilhão de dólares, nos patamares atuais.

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