Elon Musk (de boné) e Donald Trump, durante comício de campanha
Repórter de macroeconomia
Publicado em 12 de novembro de 2024 às 21h52.
Última atualização em 12 de novembro de 2024 às 22h30.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite desta terça-feira, 12, que nomeará Elon Musk para chefiar um novo órgão federal, chamado de Departamento de Eficiência Governamental, com a missão de reduzir burocracias e aumentar a eficiência. Os departamentos nos EUA possuem status de ministérios.
"Tenho o prazer de anunciar que o grande Elon Musk, em colaboração com o patriota americano Vivek Ramaswamy, liderará o Departamento de Eficiência Governamental ("DOGE"). Juntos, esses dois americanos excepcionais abrirão caminho para que minha administração desmonte a burocracia governamental, corte regulações excessivas, reduza despesas desnecessárias e reestruture as agências federais - essencial para o Movimento “Salvar a América”, disse Trump, em comunicado.
"Isso enviará ondas de choque através do sistema, e qualquer pessoa envolvida em desperdícios no governo, o que inclui muita gente!”, disse Musk, de acordo com o mesmo comunicado.
O governo federal dos EUA gastou US$ 6,75 trilhões no ano fiscal de 2024, mas obteve só US$ 4,92 trilhões em receitas, o que ampliou o déficit fiscal do país.
No anúncio, Trump disse que o novo departamento poderá ser "o projeto Manhattan de nosso tempo", em referência ao plano do governo americano que criou a bomba atômica, nos anos 1940, em meio à Segunda Guerra Mundial.
"O Departamento de Eficiência Governamental fornecerá conselhos e orientação de fora do Governo, e fará parceria com a Casa Branca e o Escritório de Gestão e Orçamento para impulsionar uma reforma estrutural em larga escala e criar uma abordagem empreendedora no governo como nunca visto antes", disse Trump, no comunicado.
O republicano, que toma posse em 20 de janeiro, disse ainda que o trabalho dos dois no novo departamento deverá ser concluído até 4 de julho de 2026, dia em que os EUA completam 250 anos de Independência.
Em uma ironia, a sigla do novo departamento em inglês, Doge, lembra o de uma criptomoeda, Dogecoin, que já foi citada por Musk diversas vezes.
Elon Musk, 53 anos, é considerado o homem mais rico do mundo, com fortuna de mais de US$ 314 bilhões. Musk atua em diversas empresas, e várias delas possuem contratos com o governo americano, o que deverá gerar uma situação de conflito de interesses. A Starlink, por exemplo, que oferece internet via satélite, tem contratos bilionários com o governo americano.
De outro lado, empresas como a Tesla podem ser impactadas por decisões da Casa Branca. Um aumento de tarifas sobre importações da China poderia trazer prejuízos para a Tesla, por exemplo, que produz carros e componentes daquele país.
Ao mesmo tempo, a proximidade com Trump poderá dar a ele poder para sugerir e pressionar por mudanças regulatórias que beneficiem suas empresas.
Assim, podem haver questionamentos jurídicos sobre a nomeação de Musk. No comunicado, Trump disse que o departamento ficará fora do governo. Musk já disse que, se fosse nomeado a algum cargo, o faria sem receber salário.
O republicano promete cortar regulações quando tomar posse, assim como baixar impostos para grandes empresas e pessoas muito ricas, o que se tornou uma pauta comum aos dois.
Musk endossou Trump publicamente após o republicano ser alvo de um atentado a tiros em junho, na Pensilvânia. Além de doações milionárias, o empresário foi a alguns comícios ao lado de Trump e pediu votos para o americano durante a campanha.
Neto de um americano, Musk nasceu na África do Sul, o que o impede de disputar a Presidência dos EUA no futuro. "Eu realmente não quero ser presidente. Quero fabricar foguetes e carros. Eu acredito que queremos uma civilização espacial, e é onde meu foco vai se manter", disse, em um evento em outubro.
Ramaswamy, 39 anos, que atuará no novo departamento junto com Musk, é um empresário que disputou as primárias republicanas para presidente contra Trump nestas eleições, mas desistiu no início do ano.
Filho de pais indianos, Ramaswary nasceu nos EUA e se formou em Harvard e Yale, duas das mais prestigiadas do país. Como empreendedor, criou algumas empresas e enriqueceu com a ideia de captar recursos de investidores do mercado financeiro para criar remédios e outros produtos a partir de inovações na biotecnologia.
Uma de suas empresas, a Axovant, levantou 315 milhões de dólares em seu IPO, em 2015, o maior valor obtido por uma biotech até então. A empresa buscava desenvolver um remédio para o Alzheimer, que não funcionou. A falha deu prejuízo a investidores, mas Ramaswary conseguiu proteger seu patrimônio.
Nos últimos anos, o empreendedor ficou conhecido por criticar os esforços das empresas para se tornarem mais inclusivas e responsáveis socialmente, as ações resumidas na sigla ESG. Em livros como "Woke.Inc", de 2021, ele defende que as companhias devem se concentrar em dar lucro e compara os movimentos de inclusão, como o de mulheres, LGBTs e imigrantes, a puro vitimismo.
Ramaswary publicou uma lista que chama de "dez verdades", na qual defende que existem apenas dois gêneros, que Deus é real, que a humanidade precisa de combustíveis fósseis e que racismo reverso é racismo, entre outros temas, que o aproximam das ideias de Trump.