Mundo

Dividida e desorientada, oposição retomará ofensiva contra Maduro

Um ano após assumir o controle da Assembleia Nacional, a oposição renovará a junta diretiva parlamentar, trocará sua equipe e redefinirá seu roteiro

Maduro: "Estão em uma situação duplamente difícil: lutam contra uma força que tem o poder econômico, militar e político; e fazem isto divididos, sem organização sólida" (Carlos Eduardo Ramirez/Reuters)

Maduro: "Estão em uma situação duplamente difícil: lutam contra uma força que tem o poder econômico, militar e político; e fazem isto divididos, sem organização sólida" (Carlos Eduardo Ramirez/Reuters)

A

AFP

Publicado em 3 de janeiro de 2017 às 21h29.

A oposição venezuelana retoma nesta semana sua ofensiva contra o governo de Nicolás Maduro, dividida e sem uma estratégia clara para conquistar seu objetivo de tirar o chavismo do poder, que continua forte apesar das previsões de uma crise ainda pior em 2017.

Um ano após assumir o controle da Assembleia Nacional, a oposição renovará a junta diretiva parlamentar na quinta-feira, trocará sua equipe coordenadora e redefinirá seu roteiro, após seu plano de revogar o mandato de Maduro fracassar em 2016 e acabar se dividindo e perdendo apoio popular.

"Estão em uma situação duplamente difícil: lutam contra uma força que tem o poder econômico, militar e político; e fazem isto divididos, sem organização sólida, e com um enfrentamento interno insuperável", comentou com a AFP Luis Vicente León, presidente da empresa Datanálisis.

A opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) já anunciou que irá procurar motivar a pressão social. Mas não será fácil, apesar de 78,5% dos venezuelanos, segundo a Datanálisis, rejeitar a gestão de Maduro por estarem cansados da alta inflação e da escassez de alimentos, remédios e até de cédulas de dinheiro.

Após ganhar as legislativas de 2015 e acabar com 17 anos de hegemonia chavista no Parlamento, esta aliança opositora não consegue capitalizar o descontentamento. Segundo a empresa Keller e Associados, seu apoio diminuiu de 45% para 38% nos últimos dois meses, por seus desacordos, erros estratégicos e desconexão social.

"Houve altíssimas expectativas que não foram satisfeitas. Faltou à oposição uma estratégia de poder", admitiu Jesús Torrealba, que poderá ser retirado do cargo de secretário-executivo da MUD.

"Em ponto morto"

A MUD aumentou suas divergências internas após o poder eleitoral suspender o processo de referendo revogatório em 20 de outubro. Mas, apesar disso, dez dias depois iniciou um diálogo com o governo, promovido pelo Vaticano e pela União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

As negociações foram rejeitadas por muitos apoiadores da MUD e pela metade dos 30 partidos que a integram - entre eles o líder preso Leopoldo López -, por considerar que o governo planejou-as para esfriar os protestos.

"Não são divisões superficiais. Na MUD há diferenças estruturais entre moderados e radicais sobre a forma de resolver o problema Maduro e conflitos de interesse entre seus líderes", opinou León.

Entre críticas, a MUD congelou os diálogos em dezembro, ao acusar o governo de não cumprir com a libertação de opositores e com a definição de um calendário eleitoral que inclua a reativação do processo revogatório ou a antecipação das eleições de 2018.

Na véspera do Ano Novo, sete opositores foram liberados, entre eles o ex-candidato à presidência Manuel Rosales. Para alguns dirigentes opositores, isso deveria levar a MUD para os diálogos de 13 de janeiro; para outros, isso não é suficiente.

"A liberdade de pessoas inocentes não é nenhum prêmio, não se pode tratar de uma troca", disse o presidente em fim de mandato do Parlamento, Henry Ramos Allup, ao considerar "inútil" dialogar "com uma ditadura".

Apesar dos 17 opositores libertados desde o início das conversas, a MUD afirma que ainda permanecem presos uma centena deles, entre os quais os de maior "peso": Leopoldo López e o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma.

"Estas libertações são pontuais, não vão na raiz do problema do diálogo: a desconfiança. Por isso está em ponto morto", afirmou à AFP o cientista político Ricardo Sucre.

Estratégias

López, Ledezma e outros opositores propõem retomar a ofensiva na Assembleia Nacional e nas ruas, e "recuperar o voto". "Devemos lutar pela mudança de governo", disse o ex-candidato à presidência Henrique Capriles.

Mas a MUD não esclarece como: se irão se concentrar nas eleições de governadores e prefeitos deste ano ou insistirão em um revogatório, que em 2017 envolve somente a substituição de Maduro por seu vice-presidente e não as eleições presidenciais, como seria caso tivesse sido revogado em 2016.

"Um revogatório já não tem sentido. As eleições regionais são a opção que lhes resta", afirmou Sucre.

O Parlamento declarou em dezembro que Maduro era o responsável político pela crise e avaliará a partir de quinta-feira a questão do "abandono de cargo", acusando-o de não cumprir com ações para garantir a governabilidade do país.

Mas o Tribunal Supremo de Justiça, acusado de servir ao chavismo, anulou praticamente todas as decisões do Legislativo.

Julio Borges, que comandou a bancada opositora em 2016 e substituirá Ramos Allup na presidência legislativa, disse que trabalhará pela "unidade".

Para León, a MUD tem dois objetivos-chave: entender que sem unidade não conquistará nada e que a negociação não deve excluir a pressão social, os políticos e sociedade civil, como ocorreu.

Acompanhe tudo sobre:Nicolás MaduroOposição políticaVenezuela

Mais de Mundo

Legisladores democratas aumentam pressão para que Biden desista da reeleição

Entenda como seria o processo para substituir Joe Biden como candidato democrata

Chefe de campanha admite que Biden perdeu apoio, mas que continuará na disputa eleitoral

Biden anuncia que retomará seus eventos de campanha na próxima semana

Mais na Exame