Israel: para o ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett, a "Palestina será retirada da agenda" (David Silverman/Getty Images)
AFP
Publicado em 29 de dezembro de 2016 às 14h35.
A direita israelense denunciou nesta quinta-feira as declarações do secretário de Estado americano John Kerry em favor de um acordo com os palestinos e disse apostar na chegada à Casa Branca de Donald Trump para enterrar a ideia de um Estado palestino.
A crise entre Israel e a administração de Barack Obama culminou na quarta-feira com Kerry defendendo uma solução de dois Estados, israelense e palestino, e condenando os assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados, que dificulta uma tal solução.
A tensão aumentou em 23 de dezembro, quando os Estados Unidos se abstiveram no Conselho de Segurança da ONU, permitindo a aprovação de uma resolução contra assentamentos israelenses, um dos principais obstáculos ao processo de paz, paralisado desde 2014.
O primeiro-ministro israelense e líder do partido de direita Likud, Benjamin Netanyahu, foi rápido em denunciar o discurso "tendencioso contra Israel" de Kerry que acusou de ser "obcecado" com a questão dos assentamentos.
Mas a linha dura do governo, composta por falcões do Likud e ministros do partido nacionalista religiosoLar Judeu, foi ainda mais longe em sua crítica, especialmente porque o chefe da diplomacia americana atingiu uma questão sensível propondo que Jerusalém seja "a capital dos dois Estados".
"Secretário de Estado americano John Kerry proponha então dividir Washington! Jerusalém era a capital do Estado judeu há 3.000 anos e continuará nos próximos 3.000 anos e para sempre", lançou a ministra da cultura Miri Regev, membro do Likud, em sua página no Facebook.
A anexação por Israel da parte oriental de Jerusalém ocupada desde 1967 nunca foi reconhecida pela comunidade internacional. Os palestinos querem fazer de Jerusalém Oriental a capital do Estado que aspiram.
Os principais líderes da direita dizem abertamente apostar na chegada de Donald Trump na Casa Branca para alcançar seus planos de anexar a maior parte da Cisjordânia ocupada.
Esta ideia, por muito tempo confinada às discussões internas dos círculos da direita nacionalista religiosa, é cada vez mais mencionada publicamente, com a retomada das negociações de paz entre israelenses e palestinos sendo uma possibilidade muito remota.
Netanyahu mantém posições ambíguas, reafirmando seu apoio a uma solução de dois Estados e ao mesmo tempo comemorando o fato de o seu Governo ser o mais favorável da história de Israel à colonização.
Para o ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett, líder do Lar Judeu, com a tomada de posse em 20 de janeiro de Trump a "Palestina será retirada da agenda".
Estimando como "totalmente desconectadas da realidade" as propostas de Kerry para a resolução do conflito, disse ao site de notícias Ynet on-line trabalhar numa solução que envolveria a anexação de uma grande parte da Cisjordânia.
Pouco antes do discurso de Kerry, Donald Trump expressou apoio a Israel, tratado de acordo com ele "com total desprezo."
"Os israelenses estão acostumados a ver um grande amigo nos Estados Unidos, mas esse não é mais o caso. O começo do fim foi este acordo horrível com o Irã (sobre a questão nuclear), e agora (ONU)! Israel fique firme, 20 de janeiro está muito próximo!"
Netanyahu agradeceu em sua conta no Twitter "por sua calorosa amizade" e seu "apoio incondicional a Israel".
No entanto, os comentaristas israelenses comentavam nesta quinta-feira que o presidente americano eleito evitou até o momento comentar diretamente sobre a questão dos assentamentos israelenses.
A colonização é considerada pela comunidade internacional como um grande obstáculo para o processo de paz, uma vez que as construções israelenses são realizadas em terras que poderiam pertencer a um futuro Estado palestino.
A Autoridade Palestina de Mahmud Abbas reiterou que após o discurso de Kerry estava pronto para retomar as negociações "no minuto em que Israel concordar em cessar" a colonização.
Cerca de 430.000 colonos israelenses vivem na Cisjordânia ocupada e são mais de 200.000 em Jerusalém Oriental.