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Demóstenes diz que não sabia das relações de Cachoeira

Em depoimento ao Conselho de Ética do Senado, o senador também negou envolvimento com jogos ilegais

Demóstenes Torres: "hoje, com essa lanterna na popa, eu dou conta de ver, mas antes, com essa lanterna na proa, eu não via" (Pedro França/Agência Senado)

Demóstenes Torres: "hoje, com essa lanterna na popa, eu dou conta de ver, mas antes, com essa lanterna na proa, eu não via" (Pedro França/Agência Senado)

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Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2012 às 12h22.

Brasília – Em depoimento que presta na manhã desta terça-feira (29) ao Conselho de Ética do Senado, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) negou envolvimento com jogos ilegais e disse que não sabia das relações do empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira.

Demóstenes disse que só depois da prisão do empresário e com a deflagração da Operação Monte Carlo é que teve consciência das relações que Cachoeira mantinha com outros políticos, governadores e demais agentes públicos. O senador chegou ao plenário do Conselho de Ética com 40 minutos de atraso.

"Eu não tinha uma lanterna da popa, não tinha como saber no que eu me relacionava com esse empresário e que ele mantinha relações com cinco governadores", disse Demóstenes. "Hoje, com essa lanterna na popa, eu dou conta de ver, mas antes, com essa lanterna na proa, eu não via", disse o senador.

Demóstenes é suspeito de ligações estreitas com Carlinhos Cachoeira e de ter usado seu mandato para beneficiar o suposto esquema comandado pelo empresário, que está preso desde o dia 29 de fevereiro, acusado de comandar jogos ilegais e de liderar uma rede de influência envolvendo agentes públicos e privados.

Em sua defesa, Demóstenes usa um tom emocional para convencer os senadores de sua inocência no processo aberto contra ele para apurar quebra de decoro parlamentar. "Eu redescobri Deus. Parece um fato pequeno, mas minha atuação era mais pautada pelos homens que pela fé", disse o senador, ao se referir à sua postura antes da investigação vir a tona.

Demóstenes sempre manteve uma postura crítica a atos de corrupção e era um dos senadores que mais evocavam as questões éticas contra os demais colegas, principalmente contra os senadores governistas. "Eu pude ver o quanto fui cruel com os outros. Isso fazia com que essas pessoas pudessem ficar com uma imagem ruim", disse.


"Devo dizer aos senhores que vivo o pior momento da minha vida, que eu jamais imaginaria passar por isso. A partir de 29 de fevereiro desse ano [quando a Operação Monte Carlo foi deflagrada pela Polícia Federal], eu passei a enfrentar algo que nunca tinha passado em toda minha vida. Depressão, remédio para dormir que não funcionam, fuga dos amigos. É talvez a campanha sistemática mais orquestrada da história do Brasil", disse o senador.

Ao evocar sua família, Demóstenes disse que ainda precisa dar explicações para esclarecer suas ações. "Tive que enfrentar não só a desconfiança de todos, tive que enfrentar tudo", disse.

O senador ainda negou que se patrimônio teria quadruplicado nos últimos anos. Segundo ele. Ele relatou a compra de um apartamento no valor de R$ 1,2 milhão, cuja entrada de R$ 400 mil teria sido dada por sua mulher. A outra parte, R$ 800 mil, seria financiada. "Eu só vou terminar de pagar quando tiver 80 anos", defendeu-se.

O senador confirmou que recebeu um aparelho de celular via rádio do empresário Carlinhos Cachoeira, mas alegou que não tinha informação que esse celular era sigiloso. "Recebi para meu conforto. Era um celular que falava nos Estados Unidos, não era com exclusividade, eu falava com muitas outras pessoas, nunca tive essa informação de que era sigiloso. Se era sigiloso, como é que foi grampeado? Aliás, a maneira mais fácil de se grampear é através de rádio", questionou.

O depoimento no Conselho de Ética ainda prossegue com a apresentação inicial de Demóstenes Torres.

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