Mulher que fugiu da violência em sua aldeia em Sinjar, no Iraque, chora em escola no Curdistão (Safin Hamed/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de agosto de 2014 às 17h17.
Erbil - Os combatentes curdos do Iraque, da Síria e da Turquia uniram suas forças em uma rara aliança para lutar contra os jihadistas no norte iraquiano e ajudar milhares de civis encurralados nas montanhas próximas.
Milhares de civis, em sua maioria da minoria yazidi, estão presos nas montanhas do norte do Iraque, após fugirem dos jihadistas do Estado Islâmico (EI), que em 48 horas tomaram várias cidades curdas da região de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque ocupada pelos extremistas no início de sua ofensiva em 9 de junho.
Sinjar, a 50 km da fronteira com a Síria, foi tomada no domingo, obrigando cerca de 200.000 pessoas fugirem, segundo a ONU. Os jihadistas também invadiram Zumar, outra cidade perto de Mossul, de um poço de petróleo e de Rabia, um posto fronteiriço entre a Síria e o Iraque.
Este novo avanço permite ao EI, que já controla grandes faixas de território iraquiano, estabelecer o controle sobre esta área e se mover mais facilmente entre Mossul e a fronteira com a Síria para além da qual também controla muitos setores.
Após as seguidas derrotas e na ausência de um exército federal capaz de frear os jihadistas, os combatentes curdos do PKK turco, do PYD sírio e dos peshmerga iraquianos uniram forças em uma colaboração sem precedentes.
Os três grupos, cujas relações são geralmente tensas, colocaram temporariamente de lado as suas diferenças em uma espécie de união sagrada.
Os curdos da Síria e da Turquia "são responsáveis por combater os jihadistas na região de Sinjar e Rabia", a oeste de Mossul, declarou nesta quarta-feira Hallo Penjweny, líder do partido da União Patriótica do Curdistão (PUK).
"Do nosso lado, nós (os peshmergas) somos responsáveis por Zumar e pelo resto do setor ao norte e a leste de Mossul", anunciou.
"Nós precisamos unir nossas forças" contra o EI, afirmou nesta terça-feira o chefe militar do PKK, Murat Karayilan.
Os combatentes do PYD, partido curdo sírio da União Democrática, anunciaram que já retomaram o controle de Rabia, mas seus avanços na região de Sinjar são desconhecidos.
E "os combatentes do PKK chegaram à região de Jabal Sinjar, onde protegem os habitantes", declarou Penjweny.
Massacre de yazidis
Os peshmerga são considerados, de longe, a força mais eficaz e melhor organizada do Iraque. Mas os problemas financeiros do Curdistão, cuja participação das receitas do petróleo foi bloqueada por Bagdá, pesam sobre o financiamento e equipamento das tropas.
Sua retirada de Sinjar levou milhares de civis, incluindo muitos yazidis, a minoria de língua curda perseguida há muito tempo, a fugir. Muitos deles estão agora presos em montanhas desérticas, onde enfrentam a fome e a sede além dos próprios jihadistas.
Segundo Bagdá, helicópteros do exército iraquiano lançaram 77 toneladas de comida e água desde terça-feira, mas um líder do UPK advertiu nesta quarta-feira que as forças curdas vão precisar de vários dias antes de poder garantir uma passagem segura.
"O principal problema por enquanto é que eles não têm comida. Eles começaram a caçar pequenos animais nas montanhas e estão comendo o que encontram", declarou à AFP Abu Abbas, que conseguiu chegar ao Curdistão, mas cujos filhos continuam presos nas montanhas.
"Muitas crianças já morreram e nós as enterramos nas montanhas", acrescentou, explicando ter recebido notícias da família por telefone. A Unicef evocou um primeiro balanço de 40 crianças mortas.
Nessas condições terríveis, exemplos de solidariedade começam a surgir, relata Abbas. Como as mulheres que amamentam várias crianças, sejam yazidis, cristãs ou muçulmanas.
A situação destes deslocados despertou comoção no Iraque e em todo o mundo. Uma deputada yazidi não segurou as lágrimas durante uma sessão do parlamento iraquiano na terça-feira. "Nós estamos sendo massacrados, nossa religião está sendo varrida da face da terra. Peço-lhes, em nome da humanidade", lançou.
O Conselho de Segurança da ONU alertou que a perseguição do EI contra as minorias "pode constituir um crime contra a humanidade".
Além das derrotas na região de Mossul e das dificuldades financeiras, os peshmergas também devem suportar o peso de assegurar a segurança de um território que se expandiu em 40% em dois meses, graças à crise atual.
Nesta quarta-feira, um atentado suicida com carro-bomba em um posto de controle peshmerga entre Mossul e Erbil matou um combatente curdo e feriu 13 outros, segundo testemunhas e fontes da segurança.
Além disso, 30 pessoas morreram e outras 70 ficaram feridas nesta quarta-feira em consequência de cinco atentados com carro-bomba realizados na capital iraquiana.
Bagdá já havia decidido na segunda-feira ajudar os peshmergas em sua contra-ofensiva contra os jihadistas, uma cooperação rara que reflete o agravamento da situação no norte do país.