Celebração em homenagem a Fidel Castro: Raúl Castro jurou que defenderá a revolução socialista (Ivan Alvarado/Reuters)
AFP
Publicado em 4 de dezembro de 2016 às 14h15.
Cuba entra neste domingo na era pós-Fidel Castro, o líder da Revolução que desafiou os Estados Unidos e sacudiu a América Latina, cujas cinzas são enterradas após uma semana de homenagens emocionadas.
Os restos mortais de um dos protagonistas do último século, que governou com mão-de-ferro por quase 50 anos, foram levados na manhã deste domingo ao cemitério Santa Ifigenia, onde está localizado o mausoléu do herói independentista José Martí, na capital de Santiago.
O funeral é realizado em uma cerimônia privada. Milhares de pessoas se reuniram na entrada do cemitério para gritar "Viva Fidel", enquanto salvas de canhão soavam em Havana.
Desta forma, termina uma semana de grandes tributos ao ex-guerrilheiro barbudo que montou um regime comunista a menos de 200 km dos Estados Unidos e foi implacável com os opositores.
Ao grito de "Eu sou Fidel", milhões de cubanos prestaram homenagem ao seu líder em praças e ruas ou nos acostamentos das estradas por onde passou a caravana com as cinzas, que percorreu a ilha de Havana a Santiago.
A partir de agora, Cuba vira uma nova página sem Fidel Castro, que faleceu no dia 25 de novembro aos 90 anos deixando um legado que provocou ódios e amores.
"O luto termina, o que não termina é o que (Fidel) disse, o que nos ensinou. A partir de amanhã é outra Cuba, mas que segue igual", disse José Luis Soria, de 42 anos.
Osmar Montes, um pescador de 57 anos, nasceu e se educou sob a Revolução cubana. Como muitos outros, acredita que a ilha manterá o rumo traçado por Fidel Castro e que seu irmão Raúl prometeu continuar seguindo.
"Em relação ao futuro me sinto otimista. As coisas em Cuba mudam em correspondência com o futuro de Cuba", afirma.
Um futuro sem mudanças?
Raúl Castro, que governa desde 2006, quando Fidel ficou doente, estará à frente do governo até fevereiro de 2018, mas permanecerá com seu cargo máximo no Partido Comunista de Cuba.
No sábado, durante o último ato de massas em memória de Fidel, o presidente cubano jurou que defenderá a revolução socialista.
"Diante dos restos de Fidel (...) juramos defender a pátria e o socialismo", proclamou emocionado o líder de 85 anos.
Sem se afastar do regime de partido único, Raúl Castro está empenhado em uma série de reformas para oxigenar o modelo de cunho soviético enquanto avança no processo de aproximação com os Estados Unidos iniciado em dezembro de 2015.
A cautelosa e lenta abertura permitiu que os cubanos trabalhem por conta própria em algumas atividades, viajem para fora do país livremente (com exceção dos médicos), e que mais investimento estrangeiro entre no país.
"A curto prazo, provavelmente não acontecerão muitas mudanças em Cuba após a morte de Fidel. Haverá muita cautela, especialmente com o próximo governo de (Donald) Trump em Washington", opinou Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano em Washington.
Sem Fidel, "Raúl terá mais margem de manobra para tomar decisões. Não precisará mais da aprovação de seu irmão mais velho", disse.
Imediatamente, deverá enfrentar a desaceleração da economia, atingida em grande parte pela crise na Venezuela, sua maior aliada.
Sem monumentos
No sábado, os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, da Bolívia, Evo Morales, e da Nicarágua, Daniel Ortega, acompanharam o último ato de massas em memória do pai da revolução cubana.
Também participaram os ex-presidentes brasileiros Lula e Dilma Rousseff.
No entanto, foram notórias as ausências de líderes de outras partes do mundo.
"A participação internacional para o funeral de Fidel Castro não esteve ao nível que era esperado", observa Paul Webster, embaixador britânico em Cuba.
Em sua opinião, isso "significa que a atratividade da (revolução) cubana diminuiu. Então é possível esperar que Rússia e China convoquem Raúl a deixar para trás a velha revolução e a colocar em andamento reformas da economia".
Enquanto o presidente tenta acabar com as dúvidas sobre o futuro sem Fidel, converterá em lei o último desejo de seu irmão: proibir as estátuas ou monumentos em sua memória.
Fidel "rejeitava qualquer manifestação de culto à personalidade e foi coerente com esta atitude até as últimas horas de vida", disse Raúl Castro.